sábado, dezembro 13, 2008

1312. O som das palavras


Ontem estivemos num jantar de amigos. Uma belíssima recepção e um convívio muito agradável de companheiros de há alguns anos. Lembrámos coisas mais antigas e falámos de hipóteses futuras. Despedimo-nos com alguns abraços e uns quantos schmaks, que toda a gente sabe ser uma das onomatopeias que se utilizam para descrever os beijos. Pois schmak para aqui e schmak para acolá, descemos e, em plena rua brrrrr que é como quem faz sair ar por entre os lábios quase fechados e cujo som se utiliza para dizer que está frio, Pois não foi um brrr, nem dois brrrs que se ouviram foram vários e não vale a pena aqui estar a dizer quem de nós fez os brrrrss isso evita-nos descrições detalhadas de cada um de nós e nem eu próprio que estou a tentar alinhavar duas ideias consecutivas sei se me caberia engenho para tal. O remédio foi entrar no carro ligar o motor brruuuummm, brruuuummm, desculpem de o fazer duas vezes já que o frio apenas deixou que o motor pegasse à segunda e ligar o ar condicionado rrrrrrrrrrzzzzzzz quer dizer aqueles rrrrr são do primeiro aquecimento e os zzzzzz quando a temperatura pretendida começa a ser atingida portanto mais suave. O pior é que com estas mudanças de temperatura e principalmente depois do splash quer dizer este é o som da porta a bater, de facto as onomatopeias dão muito jeito, imaginem-me eu aqui a dizer que sempre que saio do carro coloco o cinto de segurança em posição de não interferência com a própria porta ao fechar e que a empurro com cuidado para não se ouvir qualquer baaaammmm característico de um portão de quinta a fechar, mas sim um suave splash que aliás já foi referido supra e que seria escusada toda esta panóplia de como quem está enchendo chouriços para chegar ao ponto que é o seguinte, quando saí do carro cof cof cof cof bom não conheço melhor som de tosse para ser descrito pois este eu já via escrito nas nuvens supra cabeçais dos livros aos quadradinhos fossem do mundo de aventuras ou da colecção falcão e tanto tossia assim o bill the kid, como o próprio mascarilha e até quando a ocasião o proporcionava o major jaime eduardo de cook e alvega o piloto luso-britânico que a pouco e pouco ia limpando as asas da tirania nazi dos céus da europa. Mas aí outros sons roncavam quase de tal maneira que nem os devo descrever aqui porque o barulho de um motor de avião mais a mais assim tão perto como a distância desta pantalha aos vossos olhos, neste caso ouvidos, poderia trazer males maiores. Fiquemos então por aqui e retomemos a prosa onde ela ficou ou seja o cof cof cof deste escriba que por mor da fresca brisa sobre o peito aquecido no interior da viatura chega a casa toma um comprimido, vá lá isto vai fazer-te bem tem vitamina C é para a gripe mas eu não tenho gripe não faz mal toma também um chazinho de limão e glu glu glu mas devagar que a porra do chá estava quente assim se foi deitar e dizem mulher e filha que parecia um comboio só que eu não acredito nada porque eu já ouvi pessoas ressonarem e nunca ouvi pouca-terra pouca-terra pouca-terra isso sim se me dissessem ttttrrrrrr, trrrrrr, tttttrrrrr, ttttttrrrrrtttttrrrrrrtttssssss, aí sim poderia acreditar pois é assim que fazem os motores das motas a dois tempos e portanto seria de crer que tivesse ressonado toda a noite mas cá para mim teria sido mais cccrrrr cccrrr cccrrr portanto num ritmo compassado da farfalheira. Pois minhas amigas e meus amigos tenho de agradecer a quem na gramática de português nos permitiu utilizar toda esta similitude entre o som real e a sua expressão gráfica sem o que não me seria possível escrever hoje nada e acrescento apenas enquanto algumas gotas fazem plof plof plof numa poça de água que já se juntou na minha varanda e o zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz da ventania não cessa o vosso amigo já atchim atchim atchim pelo menos umas 12 vezes. E como é que será o som de uma ponta de nariz todo vermelho?
(imagem encontrada via Google imagens cujo autor não era referido mas a quem agradeço
principalmente por me ensinar a espirrar em inglês)

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