quarta-feira, agosto 11, 2004

535. (XIII) Mesmo em férias…

Ou talvez por causa delas, deito-me no muro que circunda o meu quintal, de barriga para cima, apago as luzes e olho para o céu. Nesta época do ano não vejo passar as renas puxando o trenó do pai natal; ainda faltam quatro meses para a sua sorridente viagem, de vermelho vestido, cantando e espalhando estrelas à passagem. O que vejo são as estrelas que ele plantou no ano anterior, algumas delas rasgando o céu e deixando rastos de luz como se fossem as caudas iluminadas da Dasher, da Dancer, da Prancer, da Vixen, do Comet, do Cupid, da Donder e da Blitze. E vou identificando as constelações e descubro as que estudei na escola e outras que eu invento. Nem sei se são constelações, mas vou juntando e juntando e faço colecção de estrelas. E vejo o dabliu da Cassiopeia e viro a cabeça ao contrário para ler nela um éme de Maria. E de repente sinto-me apaixonado pelo céu. E viajo pela via láctea, num skate debruado a pequenos diamantes e depois vou ao encontro da lua. E quando ela está de quarto, subo-lhe as montanhas à procura da luz de cheia e atravesso os rios para dormir no seu lado escuro. Como é lindo the dark side of the moon. E acordo banhado de pequenos pontos luminosos, beijado pela Merak e pela Dubhé, acariciado pela Betelgeuse, pela Bellatrix, pela Rigel e pela Saiph, depois da Sirius e da estrela Polar me terem vigiado o sono. Depois viro-me, deito-me de barriga para baixo, coloco as mãos sob o rosto e deixo-me massajar pelas três-marias, Alnitak, Alnilam e Mintaka e assim fico até os primeiros raios do todo-poderoso Sol, me informarem que a noite acabou, que agora é a vez dele reinar sobre todas as outras. Dentro de horas ele aí estará de novo. E não preciso de toalha para secar o meu corpo deste banho de luz e magia. Depois…


(hoje ouvi uma pequena história de fadas e lobisomens contada por uma criança; ele utilizou a palavra “depois”, quase uma centena de vezes; fiquei fascinado)

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