557. Sete dias.
Ela entrava descalça no rio. A cada movimento, mais ou menos brusco, que deslumbrava sob as águas límpidas e cristalinas do Guadiana, ali onde as azenhas bebiam da corrente, tremia-lhe o corpo e apertava-me mais a mão. Quase entrava em pânico quando uma cobra de água sorrateira ou distraída deslizava como se lhe passasse debaixo dos pés. Pegava-a ao colo e caminhava com ela nos braços até ás pequenas ilhas de juncos e canaviais, nossos esconderijos. As vozes dos garotos, que se ouviam, ao longe, abafadas pela água cadente das pequenas cachoeiras que caíam das azenhas, para os lagos que o baixio paria, eram a única música que ouvíamos. E apetecia-nos dançar. Abraçávamo-nos num estranho balançar de corpos e sensual enlace. Depois procurávamos comodamente onde nos sentássemos, pés na água brincando como crianças e o abraço transformava-se em beijo. E ficávamos exarando os cheiros do aloendro, do rosmaninho que crescia nas margens, do verde do juncal no misto com o suor dos nossos corpos. E beijávamos. Faltam sete dias.
Sem comentários:
Enviar um comentário