546. Lunch Time Blog
Hoje fui almoçar ao Manel Zé. Como podem perceber pelo nome, trata-se de um restaurante de um tipicamente alentejano. A lista era alentejana, com pezinhos de coentrada e sopa de cação e tudo. Ao meu lado comia-se uma sopinha destas mas não cheirava a poejos. Falha do Manel Zé ou falha do cliente. Não perguntei a um, nem a outro. No serviço uns olhos verdes penetrantes, hipnotizadores sob umas sobrancelhas fartas. Um sorriso cativante, um corpo escultural. Hei-de voltar ao Manel Zé para tentar cheirar os poejos. Pode ter sido um erro momentâneo.
Fui lavar as mãos e inevitavelmente confrontei-me com o espelho.
- Charmoso!
- Já cá faltavas tu – ripostei, um tanto ao quanto surpreendido com um não sei quê de piropo, que me soou irónico.
- Charmoso, insistiu o espelho.
Olhei-o atentamente. Quis perceber o que é que ele queria, efectivamente dizer. E foi então que realmente entendi. A forte cor bronzeada fazia sobressair, da curta melena, os fios prateados que há algum tempo me vêm povoando a outrora castanha, quase mel, cabeleira. Só a gentileza e, aqui sim, com toda a propriedade, a elegância das mulheres bonitas, principalmente as mulheres interiormente bonitas, são capazes de chamar charme à idade. ‘Não lhe chamo velho, ele não merece; digamos que é um homem charmoso’.
- Ó rapaz, pareces uma gaja! – disse-lhe eu, piscando um olho e esperando uma reacção mais ou menos pateta, como tolo costuma ser o meu espelho.
- Uma gaja ponto e virgula; Uma lady, uma verdadeira lady.
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