548. Tenho de o aturar?
- Estou chateado contigo!
- Comigo? Porquê?
O espelho disse-me que estava zangado comigo e, apesar da minha interrogação, acreditei de imediato. Não esboçou qualquer sorriso (fá-lo sempre quando brinca ou quando está a ser sarcástico).
- És um mono!
Quem estava a começar a irritar-se era eu. Se alguma vez se viu um espelho chamar mono a quem lhe dá vida. No entanto, tentei manter a calma.
- Vais ter de me explicar isso melhor. Já te enfrentei hoje várias vezes e fechaste-te em copas e, é a estas horas da tarde que te apetece ofender-me.
Conhecem aqueles olhares penetrantes que parecem cuspir fogo quando nos fitam directos? Pois foi assim que o espelho me fitou. Senti-me trespassado. Quase adivinhei o porquê daquele ar. Ainda assim, esperei três segundos, três longos segundos que me deixaram demasiado ansioso.
- Todo o dia à espera que escrevesses algo de jeito e tu, sossegado no teu canto, que nem um armário. És um mono!
Afinal a montanha pariu um rato. Juro que pensei pior. Um dia vou ter de ter uma conversa séria com este “tipo”. Um blog não é uma fábrica de encher chouriços. E mesmo que fosse, nem sempre há matéria-prima. E hoje não houve. Por muitas voltas que as tripas dessem.
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