522. Chegaram as férias...
... e este blogue vai baixar de produção.
(no entanto, sempre que eu puder, virei dar uns palpites e, obviamente, ler os vossos)
Beijinhos e abraços.
sábado, julho 31, 2004
sexta-feira, julho 30, 2004
521. Redacção – Cartas
Eu gosto muito de cartas. Quando era miúdo, a minha prima Maria foi a Sobral de Monte Agraço passar férias com a madrinha dela. Durante essa época escreveu-me várias vezes. Era para mim uma alegria pois nunca tinha recebido uma carta de ninguém e deixava-me em tal estado de ansiedade que à hora do carteiro lá estava eu no pátio expectante, ansioso, de coração apertadinho, nos meus seis anos de idade, para receber uma carta. Ficava triste, todo o dia, se não havia nada para mim. Depois, bem, depois tive vários anos sem receber cartas, até o meu pai ter ido passar aqueles nove meses na Suécia, numa especialização profissional. Então era rara a semana que não havia uma carta para mim. Cartas de amor, só as recebi quando, por motivos profissionais, fiquei quase seis meses fora do país. Não havia Internet e o telefone era caro. Quando as recebia, eram sempre aos montes, pois a distribuição só se fazia duas a três vezes por viagem. Pelo facto de as não receber não estou acostumado a escrever cartas. Logo hoje, a minha professora havia de se lembrar de pedir, como redacção, que escrevêssemos uma carta. Eu vou tentar.
Almada, 30 de Julho de 2004
Caro Vitor
Vai ser difícil escrever-te, uma vez que tenho pouquíssimo para dizer. Todos os dias estou contigo pelo que, o que temos a dizer um ao outro fazê-mo-lo cara a cara. Conheço-te há muito tempo mas quase todos os dias me surpreendes. Não entendo como é que na tua idade e com a já interessante história de vida que tens, ainda és capaz de ter ilusões. Eu sei que sempre andaste a raiar a utopia. Acreditaste num país sem classes, num mundo de paz e fraternidade, lutaste desalmadamente e caíste do sonho sem teres sequer uma para-quedas robusto. Sei que te magoaste, como te magoas nas coisas simples do dia a dia. Apaixonas-te facilmente pelas coisas, pelas pessoas, pelas plantas, pelos animais e apenas dos animais não tens razão de queixa. Eu sei que por vezes até com as flores te desiludes. Murcham mais depressa do que tu estavas à espera. Levas algumas bofetadas para acordares, mas é assim que és. Depois, passas alguns dias tristes, invadido por uma nostalgia cretina e burra e responsabilizas-te pelo que não acontece. Não penses que és tão forte assim, que podes comandar o que quer que seja só com o pensamento. É preciso mais acção, mais arrojo, mais risco. Estás a passar uma fase que não é a melhor, mas faz como em outras vezes fizeste. Calca forte por baixo dos teus pés todos os maus momentos e sorri. Ri mesmo, dá aquela gargalhada que costumas dar quando ouves ou contas uma piada, leva as tuas utopias, as tuas paixões, os teus encantos e desencantos como se fossem apenas uma piada e sai daí. Amanhã é um novo dia, o sol vai raiar de novo. Conta contigo próprio, só tu te podes ajudar. Não vás atrás das tretas dos amigos. Tens sempre, sempre um monte deles nas tuas melhores horas. Tu sabes do que é que te estou a falar. Quem sabe, um dia destes, te volte a escrever de uma forma mais alegre? Quem sabe… O sol voltará a brilhar e isso ambos sabemos.
PS. Senhora professora, depois da introdução resolvi escrever uma carta a mim próprio. Sempre usufruo duplamente, escrever e receber.
Eu gosto muito de cartas. Quando era miúdo, a minha prima Maria foi a Sobral de Monte Agraço passar férias com a madrinha dela. Durante essa época escreveu-me várias vezes. Era para mim uma alegria pois nunca tinha recebido uma carta de ninguém e deixava-me em tal estado de ansiedade que à hora do carteiro lá estava eu no pátio expectante, ansioso, de coração apertadinho, nos meus seis anos de idade, para receber uma carta. Ficava triste, todo o dia, se não havia nada para mim. Depois, bem, depois tive vários anos sem receber cartas, até o meu pai ter ido passar aqueles nove meses na Suécia, numa especialização profissional. Então era rara a semana que não havia uma carta para mim. Cartas de amor, só as recebi quando, por motivos profissionais, fiquei quase seis meses fora do país. Não havia Internet e o telefone era caro. Quando as recebia, eram sempre aos montes, pois a distribuição só se fazia duas a três vezes por viagem. Pelo facto de as não receber não estou acostumado a escrever cartas. Logo hoje, a minha professora havia de se lembrar de pedir, como redacção, que escrevêssemos uma carta. Eu vou tentar.
Almada, 30 de Julho de 2004
Caro Vitor
Vai ser difícil escrever-te, uma vez que tenho pouquíssimo para dizer. Todos os dias estou contigo pelo que, o que temos a dizer um ao outro fazê-mo-lo cara a cara. Conheço-te há muito tempo mas quase todos os dias me surpreendes. Não entendo como é que na tua idade e com a já interessante história de vida que tens, ainda és capaz de ter ilusões. Eu sei que sempre andaste a raiar a utopia. Acreditaste num país sem classes, num mundo de paz e fraternidade, lutaste desalmadamente e caíste do sonho sem teres sequer uma para-quedas robusto. Sei que te magoaste, como te magoas nas coisas simples do dia a dia. Apaixonas-te facilmente pelas coisas, pelas pessoas, pelas plantas, pelos animais e apenas dos animais não tens razão de queixa. Eu sei que por vezes até com as flores te desiludes. Murcham mais depressa do que tu estavas à espera. Levas algumas bofetadas para acordares, mas é assim que és. Depois, passas alguns dias tristes, invadido por uma nostalgia cretina e burra e responsabilizas-te pelo que não acontece. Não penses que és tão forte assim, que podes comandar o que quer que seja só com o pensamento. É preciso mais acção, mais arrojo, mais risco. Estás a passar uma fase que não é a melhor, mas faz como em outras vezes fizeste. Calca forte por baixo dos teus pés todos os maus momentos e sorri. Ri mesmo, dá aquela gargalhada que costumas dar quando ouves ou contas uma piada, leva as tuas utopias, as tuas paixões, os teus encantos e desencantos como se fossem apenas uma piada e sai daí. Amanhã é um novo dia, o sol vai raiar de novo. Conta contigo próprio, só tu te podes ajudar. Não vás atrás das tretas dos amigos. Tens sempre, sempre um monte deles nas tuas melhores horas. Tu sabes do que é que te estou a falar. Quem sabe, um dia destes, te volte a escrever de uma forma mais alegre? Quem sabe… O sol voltará a brilhar e isso ambos sabemos.
PS. Senhora professora, depois da introdução resolvi escrever uma carta a mim próprio. Sempre usufruo duplamente, escrever e receber.
quinta-feira, julho 29, 2004
520. Redacção Suspensa
[Hoje para uma coisa completamente diferente]
A jeito de intróito e aviso prévio, quero-vos dizer que este post hoje vai ser um bocadinho grande. Não por aquilo que vou escrever, mas por aquilo que vou referenciar ou reproduzir. Os posts grandes são chatos de ler, eu sei, mas o texto de Millôr Fernandes abaixo, considero que não o ler, é uma perda que irão chorar toda a vida.
Como devem estar cientes eu passo um bom bocado da minha cyber-vida na blogosfera. Presto uma particular atenção aos blogs que fazem parte da minha lista ali à direita e ainda a outros que, por preguiça, não adicionei, mas que tenho na base de favoritos do IE.
Como não podia deixar de ser, leio diariamente o Aviz (para ver se aprendo a escrever melhor) e, com o Francisco José Viegas, apesar de eu não estar na sua sintonia política, aprendo sempre qualquer coisa. Li o post, para mim um artigo, chamado ORTOGRAFIA [actualização] e, não concordo, nem discordo. Não é uma posição comodista dizê-lo assim. Vejamos esta frase retirada do referido post : “Temos nas mãos uma geração de líderes se contenta em falar e escrever mal o Português, em se desculpar do seu défice de conhecimentos e em parecer muito moderna e contente”. Não tenho dúvidas de que eu escrevo mal, mas tenho a sem-vergonhice de também me desculpar com o meu deficit de conhecimentos. Só que eu sou um pouco mais desculpável. Não sou líder de coisa nenhuma. E além disso não me contento em falar e escrever mal o Português. Posto isto façam o favor de lá ir ler. A seguir o Francisco José Viegas tomou a liberdade de reproduzir um raspanete de Pedro Ornelas ORTOGRAFIA, RASPANETE ao seu próprio artigo. O Francisco prometeu responder e eu espero que em boa hora o faça, pois vai ser muito interessante este debate, para quem se interessa pela língua portuguesa, escrita e falada. Eu vou estar atento.
Não fiz estas referências sem um motivo complementar. Não foi só para chamar a atenção para estes, para mim, deliciosos dize tu direi eu, mas para voltar a falar do PALAVRÃO. Fiz anteriormente uma redacção sobre o tema e, desconhecendo se existem alguns deles no Dicionário da Academia, uma vez que nem o possuo, fazem parte do linguajar de jornalistas, comentadores, políticos e, admirem-se, de todos. Quem alguma vez na vida não tenha dito FODA-SE que levante o braço que eu vou proceder à contagem.
Fez o favor, o meu amigo de além-mar, Branco Leone de me escrever um e-mail que, para além de se lamentar de eu não lhe comentar os posts (juro que os leio, caro Branco), me enviou um texto delicioso do grande, Millôr Fernandes. Nas palavras do Branco Leone “um de nossos melhores... melhores... melhores brasileiros”. Deixo-vos então com este delicioso texto.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
Millôr Fernandes
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.
"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?
No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" o substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.
Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porranenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.
São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma. Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cú!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cú!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cú!". Pronto,você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".
Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta.". Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.
Liberdade, Igualdade, Fraternidade e Foda-se.
[Hoje para uma coisa completamente diferente]
A jeito de intróito e aviso prévio, quero-vos dizer que este post hoje vai ser um bocadinho grande. Não por aquilo que vou escrever, mas por aquilo que vou referenciar ou reproduzir. Os posts grandes são chatos de ler, eu sei, mas o texto de Millôr Fernandes abaixo, considero que não o ler, é uma perda que irão chorar toda a vida.
Como devem estar cientes eu passo um bom bocado da minha cyber-vida na blogosfera. Presto uma particular atenção aos blogs que fazem parte da minha lista ali à direita e ainda a outros que, por preguiça, não adicionei, mas que tenho na base de favoritos do IE.
Como não podia deixar de ser, leio diariamente o Aviz (para ver se aprendo a escrever melhor) e, com o Francisco José Viegas, apesar de eu não estar na sua sintonia política, aprendo sempre qualquer coisa. Li o post, para mim um artigo, chamado ORTOGRAFIA [actualização] e, não concordo, nem discordo. Não é uma posição comodista dizê-lo assim. Vejamos esta frase retirada do referido post : “Temos nas mãos uma geração de líderes se contenta em falar e escrever mal o Português, em se desculpar do seu défice de conhecimentos e em parecer muito moderna e contente”. Não tenho dúvidas de que eu escrevo mal, mas tenho a sem-vergonhice de também me desculpar com o meu deficit de conhecimentos. Só que eu sou um pouco mais desculpável. Não sou líder de coisa nenhuma. E além disso não me contento em falar e escrever mal o Português. Posto isto façam o favor de lá ir ler. A seguir o Francisco José Viegas tomou a liberdade de reproduzir um raspanete de Pedro Ornelas ORTOGRAFIA, RASPANETE ao seu próprio artigo. O Francisco prometeu responder e eu espero que em boa hora o faça, pois vai ser muito interessante este debate, para quem se interessa pela língua portuguesa, escrita e falada. Eu vou estar atento.
Não fiz estas referências sem um motivo complementar. Não foi só para chamar a atenção para estes, para mim, deliciosos dize tu direi eu, mas para voltar a falar do PALAVRÃO. Fiz anteriormente uma redacção sobre o tema e, desconhecendo se existem alguns deles no Dicionário da Academia, uma vez que nem o possuo, fazem parte do linguajar de jornalistas, comentadores, políticos e, admirem-se, de todos. Quem alguma vez na vida não tenha dito FODA-SE que levante o braço que eu vou proceder à contagem.
Fez o favor, o meu amigo de além-mar, Branco Leone de me escrever um e-mail que, para além de se lamentar de eu não lhe comentar os posts (juro que os leio, caro Branco), me enviou um texto delicioso do grande, Millôr Fernandes. Nas palavras do Branco Leone “um de nossos melhores... melhores... melhores brasileiros”. Deixo-vos então com este delicioso texto.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
Millôr Fernandes
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.
"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?
No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" o substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.
Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porranenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.
São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma. Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cú!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cú!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cú!". Pronto,você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".
Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta.". Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.
Liberdade, Igualdade, Fraternidade e Foda-se.
quarta-feira, julho 28, 2004
519. Redacção – O Luar
Eu gosto muito do luar. Quando era miúdo vínhamos sempre para o pátio nas noites veraneias, de luar. Os adultos levavam a sua cadeira, sentavam-se em círculo e conversavam, enquanto nós, os miúdos, brincávamos por entre galinheiros, nas semi-sombras das árvores, que o luar provocava. Com os meus sete anos de idade roubava um beijo furtivo à minha “namorada”, a Luísa, e depois ficávamos os dois muito coradinhos. E só o sabíamos, porque o luar acabava por iluminar os nossos rostos. Ou mentira, porque cada um e, falo por mim, sentia o rubor nas faces. No Inverno, ouvia-mos, no aconchego do lar, os gatos miarem estridentemente lá fora e depois no ritual da cópula todos os barulhos que vocês conhecem. A maioria das vezes, eu já não ouvia, porque adormecia antes da hora da verdade. E só acordava com os meus velhotes ou os vizinhos a enxotarem-nos dos telhados. O luar trás misticismos acoplados. O luar é dos lobisomens, das fantasias, dos contos de suspense. Há sempre uma sombra numa parede, um passo lento, outro fugidio, reflectida. O luar é do canto do lobo, do uivar sedutor e do uivar que amedronta. O luar é a luz das sombras que atemorizam, é o brilho dos fantasmas que não existem. O luar convida à poesia, ao namoro, ao sexo. Uma praia e dois vultos que se movimentam, deitados. Vêem-se ao luar, são traídos pelo luar. O luar é dos amantes, desculpabilizador dos devaneios, tentador das paixões. O luar é sertanejo e musical, é quente e frio, é doce, suave, manso, nunca agreste. Hoje há luar, a lua cheia aproxima-se, já só faltam três dias. Hoje tenho vontade de fazer amor de janela aberta, preciso do sol da noite. Hoje é dia de me deixar invadir pela indiscreta luz. Como uma testemunha muda que tudo vê, nada diz. Se não houvesse nenhum outro motivo eu diria que gosto do luar, porque o luar só há à noite.
Eu gosto muito do luar. Quando era miúdo vínhamos sempre para o pátio nas noites veraneias, de luar. Os adultos levavam a sua cadeira, sentavam-se em círculo e conversavam, enquanto nós, os miúdos, brincávamos por entre galinheiros, nas semi-sombras das árvores, que o luar provocava. Com os meus sete anos de idade roubava um beijo furtivo à minha “namorada”, a Luísa, e depois ficávamos os dois muito coradinhos. E só o sabíamos, porque o luar acabava por iluminar os nossos rostos. Ou mentira, porque cada um e, falo por mim, sentia o rubor nas faces. No Inverno, ouvia-mos, no aconchego do lar, os gatos miarem estridentemente lá fora e depois no ritual da cópula todos os barulhos que vocês conhecem. A maioria das vezes, eu já não ouvia, porque adormecia antes da hora da verdade. E só acordava com os meus velhotes ou os vizinhos a enxotarem-nos dos telhados. O luar trás misticismos acoplados. O luar é dos lobisomens, das fantasias, dos contos de suspense. Há sempre uma sombra numa parede, um passo lento, outro fugidio, reflectida. O luar é do canto do lobo, do uivar sedutor e do uivar que amedronta. O luar é a luz das sombras que atemorizam, é o brilho dos fantasmas que não existem. O luar convida à poesia, ao namoro, ao sexo. Uma praia e dois vultos que se movimentam, deitados. Vêem-se ao luar, são traídos pelo luar. O luar é dos amantes, desculpabilizador dos devaneios, tentador das paixões. O luar é sertanejo e musical, é quente e frio, é doce, suave, manso, nunca agreste. Hoje há luar, a lua cheia aproxima-se, já só faltam três dias. Hoje tenho vontade de fazer amor de janela aberta, preciso do sol da noite. Hoje é dia de me deixar invadir pela indiscreta luz. Como uma testemunha muda que tudo vê, nada diz. Se não houvesse nenhum outro motivo eu diria que gosto do luar, porque o luar só há à noite.
terça-feira, julho 27, 2004
518. Redacção – O palavrão
Eu gosto muito de palavrões. Quando eu era miúdo, ouvia-os e nem sabia o que eram. Hoje acho que ainda não sei o significado de muitos. Há palavrões que a moda cria. Por exemplo, os comentadores políticos utilizam, exaustivamente, de há uns tempos para cá, a palavra PUTATIVO. Ora eu que gosto tanto de palavrões pensei logo que isso tivesse alguma coisa a ver com as meninas que frequentavam os arredores da minha faculdade, fora das horas de aulas. Mas para isso, a palavra teria de ser PUTATIVA. E esta ouve-se menos, porque, diz a minha professora, nós somos muito MACHISTAS. Aqui está outro palavrão. Se nós fossemos machistas queria dizer que defendíamos mais os machos do que as fêmeas. E isso não é verdade, porque várias vezes oiço o meu tio referir-se a este ou aquele GAIJO, de quem não gosta, (ele diz gaijo, mesmo, deve ser um palavrão), dizendo que a pessoa é um cavalo e, no entanto, desata à bofetada à minha tia. Eu perguntei-lhe “tio, o senhor bate na tia porque o senhor é machista?” e ele responde-me sempre que não, que é porque bebe uns copos a mais, mas, na verdade, ela, a minha tia, é a sua égua preferida. Isso quer dizer que ele deve ter mais éguas e portanto não pode ser machista, dado esta protecção que falei atrás. Mas há mais palavrões que eu gosto, mas não posso escrever aqui, porque tem duas desvantagens a saber:
1. Quando viessem procurar esse palavrão ao Google, cairiam aqui que nem tordos. Isso só serviria para eu, mais tarde, me regozijar que o meu contador de visitas tinha bué, mas não serviria os meus intentos de ser lido por quem eu gosto que me leia.
2. Se eu escrever palavrões, as pessoas vão pensar uma de duas coisas que referirei:
a) Este gajo quer é que a gente comente muito (toda a gente faz pelo menos 50 comentários a um foda-se, imaginem se se escrevessem palavrões aqui);
b) Este gajo é um descaradíssimo mal-educado mas o melhor é ir ler o Pipi, que é bem mais explícito.
(abro aqui um parêntesis para referir dois pequenos pormenores que os mais atentos já terão reparado:
i. Utilizei o palavrão bué, porque é bué de giro;
ii. Concatenei duas vezes e, agora, uma terceira porque gosto bué de concatenar.
parêntesis fechado).
Mas para além do putativo e da respectiva fêmea, há outro palavrão que eu gosto muito de dizer, que é o palavrão DEFICIT. E pergunta a senhora professora (SP), porque é que eu gosto tanto do palavrão deficit.
- SP : Porque é que gostas tanto do palavrão deficit?
- Eu: Porque sim.
Acho que a senhora professora não vai entender a minha resposta, mas quem está a ler esta redacção já conseguiu descortinar que, quem não tem nada para escrever, inventa qualquer coisa. E fica aqui escarrapachado que este texto tem um deficit de não sei quê.
Aliás como muitos que eu leio e a malta ri-se muito. E porque a gente se ri é que eu gosto de palavrões.
PS. Este não é um pêésse à redacção supra. É apenas para informar que o Schubert, tem sofrido tanto com o calor como nós, mas que ao contrário de nós, não escreve posts sobre o calor. Limita-se a miar e de vez em quando, quando está mais chateado faz ffffff…… (será que está a querer dizer algum palavrão?)
Eu gosto muito de palavrões. Quando eu era miúdo, ouvia-os e nem sabia o que eram. Hoje acho que ainda não sei o significado de muitos. Há palavrões que a moda cria. Por exemplo, os comentadores políticos utilizam, exaustivamente, de há uns tempos para cá, a palavra PUTATIVO. Ora eu que gosto tanto de palavrões pensei logo que isso tivesse alguma coisa a ver com as meninas que frequentavam os arredores da minha faculdade, fora das horas de aulas. Mas para isso, a palavra teria de ser PUTATIVA. E esta ouve-se menos, porque, diz a minha professora, nós somos muito MACHISTAS. Aqui está outro palavrão. Se nós fossemos machistas queria dizer que defendíamos mais os machos do que as fêmeas. E isso não é verdade, porque várias vezes oiço o meu tio referir-se a este ou aquele GAIJO, de quem não gosta, (ele diz gaijo, mesmo, deve ser um palavrão), dizendo que a pessoa é um cavalo e, no entanto, desata à bofetada à minha tia. Eu perguntei-lhe “tio, o senhor bate na tia porque o senhor é machista?” e ele responde-me sempre que não, que é porque bebe uns copos a mais, mas, na verdade, ela, a minha tia, é a sua égua preferida. Isso quer dizer que ele deve ter mais éguas e portanto não pode ser machista, dado esta protecção que falei atrás. Mas há mais palavrões que eu gosto, mas não posso escrever aqui, porque tem duas desvantagens a saber:
1. Quando viessem procurar esse palavrão ao Google, cairiam aqui que nem tordos. Isso só serviria para eu, mais tarde, me regozijar que o meu contador de visitas tinha bué, mas não serviria os meus intentos de ser lido por quem eu gosto que me leia.
2. Se eu escrever palavrões, as pessoas vão pensar uma de duas coisas que referirei:
a) Este gajo quer é que a gente comente muito (toda a gente faz pelo menos 50 comentários a um foda-se, imaginem se se escrevessem palavrões aqui);
b) Este gajo é um descaradíssimo mal-educado mas o melhor é ir ler o Pipi, que é bem mais explícito.
(abro aqui um parêntesis para referir dois pequenos pormenores que os mais atentos já terão reparado:
i. Utilizei o palavrão bué, porque é bué de giro;
ii. Concatenei duas vezes e, agora, uma terceira porque gosto bué de concatenar.
parêntesis fechado).
Mas para além do putativo e da respectiva fêmea, há outro palavrão que eu gosto muito de dizer, que é o palavrão DEFICIT. E pergunta a senhora professora (SP), porque é que eu gosto tanto do palavrão deficit.
- SP : Porque é que gostas tanto do palavrão deficit?
- Eu: Porque sim.
Acho que a senhora professora não vai entender a minha resposta, mas quem está a ler esta redacção já conseguiu descortinar que, quem não tem nada para escrever, inventa qualquer coisa. E fica aqui escarrapachado que este texto tem um deficit de não sei quê.
Aliás como muitos que eu leio e a malta ri-se muito. E porque a gente se ri é que eu gosto de palavrões.
PS. Este não é um pêésse à redacção supra. É apenas para informar que o Schubert, tem sofrido tanto com o calor como nós, mas que ao contrário de nós, não escreve posts sobre o calor. Limita-se a miar e de vez em quando, quando está mais chateado faz ffffff…… (será que está a querer dizer algum palavrão?)
segunda-feira, julho 26, 2004
517. Redacção – O frio
Eu gosto muito do frio. Quando eu era miúdo a minha mãe passava o tempo a atafulhar-me de camisolas, casacos, sobretudos, “tu vais apanhar uma constipação, ai vais, vais”. Eu acabava sempre por me constipar por andar sempre, assim, agasalhado. Talvez seja por causa de o calor me causar tanto desconforto que eu gosto tanto do frio, mas hoje, ao propor-me este tema, a minha professora, desconfio que ela teve uma pequena trombose nos neurónios. (Espero bem que ela não tenha tempo para ler a redacção, senão será chumbo pela certa). Quando toda a gente fala de tempo quente, de calor, de quarenta graus, ela pede-me para falar do frio. Então eu pensei numa piscina, muito grande, cheia com água vinda directamente do pólo norte, de uma arca frigorífica aqui mesmo ao lado, carregada de super bocks, sagres, carlsbergs e outras coca-colas assim do género, das casas de gelados da rua dos pescadores na costa, do ar condicionado do meu carro sintonizado para o low que é o que refresca mais, dos cubos de gelo a encherem o meu copo, de gin e água tónica, muito, muito gelo, pouco gin, sonho, todas as noites, com um passeio à serra da estrela, escorrego pela neve, escorrego, escorrego até parecer um croquete envolto em gelo. E fico com uma vontade das noites de Dezembro na minha casa no Alentejo profundo onde posso jogar ping-pong no alpendre com dois ou três graus negativos. Depois entro em casa e lá está a minha Maria de lareira acesa e café quentinho pronto para me aquecer as entranhas. Esperem isto de lareira já não é frio, é calor. Até me deu um arrepio na espinha.
(definitivamente, não aguento mais; Mariaaaaaaa, tras-me aí mais uma cerveja à banheira e leva-me o portátil que ele também quer mergulhar)
Eu gosto muito do frio. Quando eu era miúdo a minha mãe passava o tempo a atafulhar-me de camisolas, casacos, sobretudos, “tu vais apanhar uma constipação, ai vais, vais”. Eu acabava sempre por me constipar por andar sempre, assim, agasalhado. Talvez seja por causa de o calor me causar tanto desconforto que eu gosto tanto do frio, mas hoje, ao propor-me este tema, a minha professora, desconfio que ela teve uma pequena trombose nos neurónios. (Espero bem que ela não tenha tempo para ler a redacção, senão será chumbo pela certa). Quando toda a gente fala de tempo quente, de calor, de quarenta graus, ela pede-me para falar do frio. Então eu pensei numa piscina, muito grande, cheia com água vinda directamente do pólo norte, de uma arca frigorífica aqui mesmo ao lado, carregada de super bocks, sagres, carlsbergs e outras coca-colas assim do género, das casas de gelados da rua dos pescadores na costa, do ar condicionado do meu carro sintonizado para o low que é o que refresca mais, dos cubos de gelo a encherem o meu copo, de gin e água tónica, muito, muito gelo, pouco gin, sonho, todas as noites, com um passeio à serra da estrela, escorrego pela neve, escorrego, escorrego até parecer um croquete envolto em gelo. E fico com uma vontade das noites de Dezembro na minha casa no Alentejo profundo onde posso jogar ping-pong no alpendre com dois ou três graus negativos. Depois entro em casa e lá está a minha Maria de lareira acesa e café quentinho pronto para me aquecer as entranhas. Esperem isto de lareira já não é frio, é calor. Até me deu um arrepio na espinha.
(definitivamente, não aguento mais; Mariaaaaaaa, tras-me aí mais uma cerveja à banheira e leva-me o portátil que ele também quer mergulhar)
domingo, julho 25, 2004
516. Calor selvagem
Hoje é Domingo e está um calor de ananases. Estou a derreter aos poucos. Não sei se em suor se mesmo em gordura. É o que faz ser anafadinho. Hoje não tenho trabalhos de casa por isso não escreverei a minha redacção. Não escreverei nem a redacção, nem nada. A minha amiga Catarina no seu post de hoje com o título “E continua o calor” diz que só está bom para o fazer (não é escrever, não) alarvemente. Confesso que não sou um alarve (sub. e adj. 2 géneros: tolo, bronco). Prefiro selvaticamente. Mas o adjectivo é dela, não o vou alterar. Até porque o calor, como já referi há dias, me afecta o raciocínio. Fico selvagem!
Hoje é Domingo e está um calor de ananases. Estou a derreter aos poucos. Não sei se em suor se mesmo em gordura. É o que faz ser anafadinho. Hoje não tenho trabalhos de casa por isso não escreverei a minha redacção. Não escreverei nem a redacção, nem nada. A minha amiga Catarina no seu post de hoje com o título “E continua o calor” diz que só está bom para o fazer (não é escrever, não) alarvemente. Confesso que não sou um alarve (sub. e adj. 2 géneros: tolo, bronco). Prefiro selvaticamente. Mas o adjectivo é dela, não o vou alterar. Até porque o calor, como já referi há dias, me afecta o raciocínio. Fico selvagem!
sábado, julho 24, 2004
515. Redacção – A guitarra
Eu gosto muito de guitarras. Quando eu era miúdo, o pai do meu amigo Costa ofereceu-lhe uma. Era uma guitarra pequena, moldada aos dedos de um garoto. De vez em quando ele emprestava-me, mas eu nunca atinei com os acordes. Era uma guitarra espanhola que hoje conhecemos por viola e os nossos irmãos de além-mar por violão. Gosto do som e gosto da forma. O corpo de uma mulher. No entanto, a guitarra que me faz tremer, é a guitarra portuguesa. Os acordes de uma guitarra penetram-se em cada poro do meu corpo, como se fosse, cada um deles, uma trompa de Eustáquio, um martelo, uma bigorna, uma membrana a vibrar. Nem todas emitem os mesmos sons. A guitarra “de Lisboa” e a guitarra “de Coimbra” têm trinados diferentes. Mas a arte está em fazê-las falar. Não falta quem se possa referir. Não vou fazer nomeações pois não quero ser injusto para os grandes mestres. Hoje, uma guitarra me faz chorar. Morreu ontem, quem eu considero o maior português de todos os tempos na arte da composição e da utilização da guitarra. Morreu Carlos Paredes e vai agora fazer companhia ao grande Artur Paredes, seu pai. Carlos Paredes nasceu em 1925 e tocava guitarra desde os quatro anos de idade. A biografia deixo-a para os especialistas. A minha redacção tem como objectivo apenas lhe falar no nome. E prestar-lhe a minha homenagem, enquanto escuto o Movimento Perpétuo. E dizer que gosto de guitarra.
Eu gosto muito de guitarras. Quando eu era miúdo, o pai do meu amigo Costa ofereceu-lhe uma. Era uma guitarra pequena, moldada aos dedos de um garoto. De vez em quando ele emprestava-me, mas eu nunca atinei com os acordes. Era uma guitarra espanhola que hoje conhecemos por viola e os nossos irmãos de além-mar por violão. Gosto do som e gosto da forma. O corpo de uma mulher. No entanto, a guitarra que me faz tremer, é a guitarra portuguesa. Os acordes de uma guitarra penetram-se em cada poro do meu corpo, como se fosse, cada um deles, uma trompa de Eustáquio, um martelo, uma bigorna, uma membrana a vibrar. Nem todas emitem os mesmos sons. A guitarra “de Lisboa” e a guitarra “de Coimbra” têm trinados diferentes. Mas a arte está em fazê-las falar. Não falta quem se possa referir. Não vou fazer nomeações pois não quero ser injusto para os grandes mestres. Hoje, uma guitarra me faz chorar. Morreu ontem, quem eu considero o maior português de todos os tempos na arte da composição e da utilização da guitarra. Morreu Carlos Paredes e vai agora fazer companhia ao grande Artur Paredes, seu pai. Carlos Paredes nasceu em 1925 e tocava guitarra desde os quatro anos de idade. A biografia deixo-a para os especialistas. A minha redacção tem como objectivo apenas lhe falar no nome. E prestar-lhe a minha homenagem, enquanto escuto o Movimento Perpétuo. E dizer que gosto de guitarra.
sexta-feira, julho 23, 2004
514. Flores (quase sem redacção)
A aNa ofereceu-me este campo de flores. Vejam quanto é linda a aNa.
A aNa ofereceu-me este campo de flores. Vejam quanto é linda a aNa.
513. Redacção - As Flores
Eu gosto muito de flores. Quando eu era miúdo lembro-me da minha mãe ter sempre as jarras cheias de flores. A casa tinha sempre um cheiro a jardim. Ainda hoje ela tem esse costume. Mas é no campo que eu gosto mais de as ver. Quanto mais selvagens, mais atraentes. Gosto da flor do rosmaninho, roxa, misturada com o alecrim, gosto da flor branca das estevas à beira da estrada. Gosto dos campos amarelo e brancos de margaridas e malmequeres, aqui e ali, salpicadas de papoilas, dando um tom ensanguentado às terras castanhas. Gosto de ver as orquídeas selvagens crescerem no meio dos fetos. Gosto das hortênsias bordejando as levadas na Madeira, das flores das amendoeiras, no Algarve, no Alentejo e em Trás-os-Montes. Gosto da branca flor das laranjeiras, da cor quase salmão da flor da romãzeira. Mas gosto também das silvas nos valados, florirem para cachearem depois em amoras silvestres. E gosto de uma flor à minha mesa. Quando como, o perfume de uma rosa misturando-se nos aromas de um prato bem confeccionado, a beleza de uma tulipa como que me olhando, testemunha de cada garfada, dois cravos vermelhos invadindo-me as memórias. E gosto de ver o desabrochar de um botão, lembrando-me a infância, a ingenuidade, o pré-crescimento até ao abrir dos olhos. È por isso também que eu gosto das mulheres, porque a cada uma lhe atribuo um nome de uma flor, pelos olhos, pelo rosto, pelo cheiro, pelo tacto. Gosto de flores e de mulheres feitas estrelícias.
Eu gosto muito de flores. Quando eu era miúdo lembro-me da minha mãe ter sempre as jarras cheias de flores. A casa tinha sempre um cheiro a jardim. Ainda hoje ela tem esse costume. Mas é no campo que eu gosto mais de as ver. Quanto mais selvagens, mais atraentes. Gosto da flor do rosmaninho, roxa, misturada com o alecrim, gosto da flor branca das estevas à beira da estrada. Gosto dos campos amarelo e brancos de margaridas e malmequeres, aqui e ali, salpicadas de papoilas, dando um tom ensanguentado às terras castanhas. Gosto de ver as orquídeas selvagens crescerem no meio dos fetos. Gosto das hortênsias bordejando as levadas na Madeira, das flores das amendoeiras, no Algarve, no Alentejo e em Trás-os-Montes. Gosto da branca flor das laranjeiras, da cor quase salmão da flor da romãzeira. Mas gosto também das silvas nos valados, florirem para cachearem depois em amoras silvestres. E gosto de uma flor à minha mesa. Quando como, o perfume de uma rosa misturando-se nos aromas de um prato bem confeccionado, a beleza de uma tulipa como que me olhando, testemunha de cada garfada, dois cravos vermelhos invadindo-me as memórias. E gosto de ver o desabrochar de um botão, lembrando-me a infância, a ingenuidade, o pré-crescimento até ao abrir dos olhos. È por isso também que eu gosto das mulheres, porque a cada uma lhe atribuo um nome de uma flor, pelos olhos, pelo rosto, pelo cheiro, pelo tacto. Gosto de flores e de mulheres feitas estrelícias.
quinta-feira, julho 22, 2004
512. Redacção - As quecas
Eu gosto muito de quecas. Quando eu era miúdo, nunca ouvi essa palavra lá em casa. A fonia (e também a grafia), mais próxima, que eu conhecia era queque. Havia os da pastelaria e havia os meninos queques. Nunca percebi a comparação, até porque, para dizer a verdade, nunca achei o queque um bolo muito interessante. Só se isso queria dizer que os putos queques também não eram interessantes. Mas esse não é o meu problema. Voltando ao tema que a minha professora me mandou, como trabalho de casa, parece que o Verão anda a aquecer os miolos ao pessoal (pessoas, até à data decentes como o TOM, a Duende ou a Catarina, já andam a escrever textos de quecas. Deve ter sido neles que a minha professora se inspirou). Ou o Verão anda a aquecer os miolos desta gente, ou desataram todos a comprar o livro do João Ubaldo Ribeiro, influenciados pela encenação de “A Casa dos Budas Ditosos”. Mas uma queca é uma queca e duas ou mais ainda é melhor. Mas para o fazer é preciso saber-se, é preciso querer-se e é preciso poder-se. Bom, aqui tenho de avisar, quem ler esta redacção, que não é gralha. Em Portugal o ph já não se usa. Para saber-se, até há livros de receitas, como para fazer queques. Um deles, até fiquei envergonhado quando o abri, chama-se camassutra ou lá como é que se escreve. Vem até ilustrado. Portanto quem errar, é burrinho(a). O querer-se, tem a ver com uma coisa que não sei se me vão levar a mal, se eu escrever. Chama-se tesão e é aquilo que dá nos bichinhos quando o teor relativo de umas certas hormonas dispara. Mas isso é para os cientistas e eu não queco cientificamente. Poder-se é uma coisa mais complicada. Eu poderia teorizar sobre o poder aqui. Teria de falar de tanta coisa e de tanto gajinho e gajinha (minha senhora, isto é calão, não entre em conta para a nota final), que nunca mais acabaria a redacção. E, às páginas tantas, seria obrigado a escrever com ph, portanto é melhor ficar-me por aqui e dizer que o Verão também me está a afectar os miolos. Só que tenho um problema. Não sei fazer aquelas descrições do tipo, ‘ela deixou cair a toalha que lhe cobria o corpo. As gotas de água, do banho acabado de tomar, não tiveram tempo de secar. Imaginava-a de uma maneira diferente. Talvez tenha sido o factor surpresa que fez subir em mim o querer. As hormonas… Pensei, se face a uma escultura, não me imobilizaria, eu, também. Continuaria assim feito estátua? Saberia eu utilizar toda a minha imaginária versatilidade, face à estupefacção? De repente, abracei-a, olhei-a nos olhos, aproximei-me dos seus lábios. Beijei-a ternamente. Agora era apenas uma questão de poder. E ali, quem mais podia era ela’. Eu não faço a mínima ideia onde que os meus supra-citados arranjam tanta imaginação para escrever, mas tenho de concluir que eu gosto muito de quecas.
Eu gosto muito de quecas. Quando eu era miúdo, nunca ouvi essa palavra lá em casa. A fonia (e também a grafia), mais próxima, que eu conhecia era queque. Havia os da pastelaria e havia os meninos queques. Nunca percebi a comparação, até porque, para dizer a verdade, nunca achei o queque um bolo muito interessante. Só se isso queria dizer que os putos queques também não eram interessantes. Mas esse não é o meu problema. Voltando ao tema que a minha professora me mandou, como trabalho de casa, parece que o Verão anda a aquecer os miolos ao pessoal (pessoas, até à data decentes como o TOM, a Duende ou a Catarina, já andam a escrever textos de quecas. Deve ter sido neles que a minha professora se inspirou). Ou o Verão anda a aquecer os miolos desta gente, ou desataram todos a comprar o livro do João Ubaldo Ribeiro, influenciados pela encenação de “A Casa dos Budas Ditosos”. Mas uma queca é uma queca e duas ou mais ainda é melhor. Mas para o fazer é preciso saber-se, é preciso querer-se e é preciso poder-se. Bom, aqui tenho de avisar, quem ler esta redacção, que não é gralha. Em Portugal o ph já não se usa. Para saber-se, até há livros de receitas, como para fazer queques. Um deles, até fiquei envergonhado quando o abri, chama-se camassutra ou lá como é que se escreve. Vem até ilustrado. Portanto quem errar, é burrinho(a). O querer-se, tem a ver com uma coisa que não sei se me vão levar a mal, se eu escrever. Chama-se tesão e é aquilo que dá nos bichinhos quando o teor relativo de umas certas hormonas dispara. Mas isso é para os cientistas e eu não queco cientificamente. Poder-se é uma coisa mais complicada. Eu poderia teorizar sobre o poder aqui. Teria de falar de tanta coisa e de tanto gajinho e gajinha (minha senhora, isto é calão, não entre em conta para a nota final), que nunca mais acabaria a redacção. E, às páginas tantas, seria obrigado a escrever com ph, portanto é melhor ficar-me por aqui e dizer que o Verão também me está a afectar os miolos. Só que tenho um problema. Não sei fazer aquelas descrições do tipo, ‘ela deixou cair a toalha que lhe cobria o corpo. As gotas de água, do banho acabado de tomar, não tiveram tempo de secar. Imaginava-a de uma maneira diferente. Talvez tenha sido o factor surpresa que fez subir em mim o querer. As hormonas… Pensei, se face a uma escultura, não me imobilizaria, eu, também. Continuaria assim feito estátua? Saberia eu utilizar toda a minha imaginária versatilidade, face à estupefacção? De repente, abracei-a, olhei-a nos olhos, aproximei-me dos seus lábios. Beijei-a ternamente. Agora era apenas uma questão de poder. E ali, quem mais podia era ela’. Eu não faço a mínima ideia onde que os meus supra-citados arranjam tanta imaginação para escrever, mas tenho de concluir que eu gosto muito de quecas.
quarta-feira, julho 21, 2004
511. Redacção - Os médicos
Eu gosto muito de médicos. Quando eu era miúdo a minha mãe queria que eu estudasse para médico. Eu sei porque é que ela queria que eu fosse médico mas, não é para falar dos gostos da minha mãe que eu estou a escrever este redacção. É dos meus e, de facto, eu gosto muito de médicos. Não sei viver sem eles e acho que eles já não sabem viver sem mim. “Ora cá está você outra vez, senhor PreDatado”. Ouço-o à entrada de cada consultório que visito. É mentira, eu sou um grande mentiroso e acho que alguém a ler esta redacção, já está a pensar: “ai coitado, o PreDatado, já está com os pés para a cova”. Então, vou continuar a minha redacção, sem mentir, porque eu quero ter boa nota e, sem uma nota muito mas mesmo muito boa não entro em medicina. E se não entro em medicina depois não posso ir trabalhar para o Hospital Garcia de Orta, não posso atender a minha sogra que entra lá paralisada, e depois receitar-lhe um analgésico e mandá-la para casa e depois ela estar há um ano e meio acamada. porque ela tinha a bacia partida e pronto, por isso tenho de ter boa nota na redacção. A minha mãe diz, “está bem filho, mas também não era para seres um médico assim que eu queria que fosses médico” e, eu respondi “está bem mãe então eu se calhar vou ser engenheiro”, porque, no outro dia, quando eu tive aquela dor de cabeça horrível que parecia que me saltavam os miolos e andei de generalista em generalista até ao especialista final, neurocirurgião conceituado que me explicou tim tim por tim tim as causas de uma cefaleia pós-coital , me receitou uma caixinha de comprimidos. E a minha mãe coitada a dizer-me “pois um médico assim é que tu devias de ser”. E eu que não tomo nadinha que não leia a chamada literatura inclusa, como diz na caixa, deparei escrito nos efeitos secundários ‘pode provocar dores de cabeça’. Eu gosto muito de médicos. Ah estava-me a esquecer de escrever aqui na redacção, e de engenheiros desempregados, também.
Eu gosto muito de médicos. Quando eu era miúdo a minha mãe queria que eu estudasse para médico. Eu sei porque é que ela queria que eu fosse médico mas, não é para falar dos gostos da minha mãe que eu estou a escrever este redacção. É dos meus e, de facto, eu gosto muito de médicos. Não sei viver sem eles e acho que eles já não sabem viver sem mim. “Ora cá está você outra vez, senhor PreDatado”. Ouço-o à entrada de cada consultório que visito. É mentira, eu sou um grande mentiroso e acho que alguém a ler esta redacção, já está a pensar: “ai coitado, o PreDatado, já está com os pés para a cova”. Então, vou continuar a minha redacção, sem mentir, porque eu quero ter boa nota e, sem uma nota muito mas mesmo muito boa não entro em medicina. E se não entro em medicina depois não posso ir trabalhar para o Hospital Garcia de Orta, não posso atender a minha sogra que entra lá paralisada, e depois receitar-lhe um analgésico e mandá-la para casa e depois ela estar há um ano e meio acamada. porque ela tinha a bacia partida e pronto, por isso tenho de ter boa nota na redacção. A minha mãe diz, “está bem filho, mas também não era para seres um médico assim que eu queria que fosses médico” e, eu respondi “está bem mãe então eu se calhar vou ser engenheiro”, porque, no outro dia, quando eu tive aquela dor de cabeça horrível que parecia que me saltavam os miolos e andei de generalista em generalista até ao especialista final, neurocirurgião conceituado que me explicou tim tim por tim tim as causas de uma cefaleia pós-coital , me receitou uma caixinha de comprimidos. E a minha mãe coitada a dizer-me “pois um médico assim é que tu devias de ser”. E eu que não tomo nadinha que não leia a chamada literatura inclusa, como diz na caixa, deparei escrito nos efeitos secundários ‘pode provocar dores de cabeça’. Eu gosto muito de médicos. Ah estava-me a esquecer de escrever aqui na redacção, e de engenheiros desempregados, também.
terça-feira, julho 20, 2004
510. Redacção – Aniversários
Eu gosto muito de aniversários. Quando eu era miúdo, os meus pais preparavam-me sempre uma festa. Eu e a minha Maria, também preparamos sempre uma festa de aniversário para os nossos filhos. Vêm os amigos, os familiares mais próximos e ultimamente também o Schubert. Apagam-se velas, cantam-se os Parabéns a Você (nunca percebi porquê, uma vez que toda a gente trata os meus filhos por tu), e acelera-se naquela parte “hoje é dia de festa, cantam as nossas almas…”, como se acelera sempre que se cantam os Parabéns a Você. Corta-se o bolo ás fatias e tiram-se muitas fotos, para mais tarde recordar. Abre-se um garrafa de Champanhe, às vezes mais, dependendo da vontade e da quantidade dos convivas, fazendo-se um grande alarido no momento das rolhas saltarem. Há discursos, desejos de felicidades, “que contes muitos” e “vocês que vejam” e no fim da festa, metem-se os pratos na máquina de lavar, os copos também, limpa-se e arruma-se a casa. A minha professora, acha que as minhas redacções são sempre muito previsíveis e que eu escrevo o que toda a gente escreveria, toda a gente não, mas sim toda a gente que tem tão escassa imaginação, quanto a minha. Pois hoje, senhora professora, resolvi fazer-lhe uma surpresa. Hoje vou dizer que gosto muito do aniversário da Ruiva, que está a comemorar um ano de blog. E ela também tirou uma fotografia para a posteridade e daqui, eu mando um grande sopro para ajudar a apagar a vela. Que contes muitos minha querida Ruiva, isto é, o teu querido bloguinho, Coisas de Ruiva. Eu gosto muito de aniversários, mas tenho de confessar que tenho um fraquinho pela minha afilhada.
Eu gosto muito de aniversários. Quando eu era miúdo, os meus pais preparavam-me sempre uma festa. Eu e a minha Maria, também preparamos sempre uma festa de aniversário para os nossos filhos. Vêm os amigos, os familiares mais próximos e ultimamente também o Schubert. Apagam-se velas, cantam-se os Parabéns a Você (nunca percebi porquê, uma vez que toda a gente trata os meus filhos por tu), e acelera-se naquela parte “hoje é dia de festa, cantam as nossas almas…”, como se acelera sempre que se cantam os Parabéns a Você. Corta-se o bolo ás fatias e tiram-se muitas fotos, para mais tarde recordar. Abre-se um garrafa de Champanhe, às vezes mais, dependendo da vontade e da quantidade dos convivas, fazendo-se um grande alarido no momento das rolhas saltarem. Há discursos, desejos de felicidades, “que contes muitos” e “vocês que vejam” e no fim da festa, metem-se os pratos na máquina de lavar, os copos também, limpa-se e arruma-se a casa. A minha professora, acha que as minhas redacções são sempre muito previsíveis e que eu escrevo o que toda a gente escreveria, toda a gente não, mas sim toda a gente que tem tão escassa imaginação, quanto a minha. Pois hoje, senhora professora, resolvi fazer-lhe uma surpresa. Hoje vou dizer que gosto muito do aniversário da Ruiva, que está a comemorar um ano de blog. E ela também tirou uma fotografia para a posteridade e daqui, eu mando um grande sopro para ajudar a apagar a vela. Que contes muitos minha querida Ruiva, isto é, o teu querido bloguinho, Coisas de Ruiva. Eu gosto muito de aniversários, mas tenho de confessar que tenho um fraquinho pela minha afilhada.
segunda-feira, julho 19, 2004
509. Redacção – O ciclismo
Eu gosto muito de ciclismo. Quando eu era miúdo quis comprar uma bicicleta para ser como o Alves Barbosa. O pior é que o Alves Barbosa não era do Benfica, mas sim do Sangalhos. Mas isso não interessava, porque o Alves Barbosa era o maior! Infelizmente os meus pais não tinham dinheiro para comprar uma bicicleta e eu acabei por optar por uns patins. Mas nunca cheguei a ter esses patins, porque os meus pais tinham medo que eu caísse e partisse uma perna. Ou a cabeça. E sem cabeça, talvez eu não conseguisse fazer as redacções que a professora me pedia. Como não tinha bicicleta, montava-me numa cana de valado e corria, corria, corria. Mas aquilo era andar a cavalo, não era bicicleta. Então, eu acabei por optar, por uma lata de conservas vazia, forrava-a com um papel de seda, que vibrasse ao som da voz, e amarrava-a a um pequeno pau ou a uma caninha e estava feito um microfone. Imediatamente, de ciclista, passei a relator da Emissora Nacional. “Lá vai Fernando Mendes a atacar, mas a marcação cerrada de Joaquim Agostinho não lhe permite avançar nem 20 metros. A meta já está à vista, estamos a menos de 5 kms da chegada. O Agostinho não tem sprint, será desta que o Fernando Mendes vai conseguir ganhar uma etapa?” E depois havia o Roque, o Firmino o Andrade, o Venceslau. Todos tinham uma palavra a dizer. Mas cheio de força, Agostinho, sem levantar o rabo do selim, pedalava, pedalava, pedalava e no pelotão ninguém tinha pernas para o HOMEM. E havia a volta a França, a minha volta de sempre. Tão importante para mim como a Volta a Portugal. Já não me lembro do Ancquetil, mas ainda vejo o Merckx, o Hinault, o Indurain, o Armstrong. Ah e não me esqueço, do Poulidour, Pou-Pou o eterno segundo e nunca, mas nunca do Agostinho e dos seus honrosos terceiros lugares. Hoje não tenho a mesma doidice pelo ciclismo, mas tenho dois ídolos: Armstrong e Azevedo. Paulatinamente, ajudando o líder, sem darem por ele, temos o Azevedo, nos dez primeiros. Vou ali subir o Puis-de-Dome e já volto. E se eu não voltar é porque estou no alto da Senhora da Graça. Eu gosto mesmo de ciclismo.
Eu gosto muito de ciclismo. Quando eu era miúdo quis comprar uma bicicleta para ser como o Alves Barbosa. O pior é que o Alves Barbosa não era do Benfica, mas sim do Sangalhos. Mas isso não interessava, porque o Alves Barbosa era o maior! Infelizmente os meus pais não tinham dinheiro para comprar uma bicicleta e eu acabei por optar por uns patins. Mas nunca cheguei a ter esses patins, porque os meus pais tinham medo que eu caísse e partisse uma perna. Ou a cabeça. E sem cabeça, talvez eu não conseguisse fazer as redacções que a professora me pedia. Como não tinha bicicleta, montava-me numa cana de valado e corria, corria, corria. Mas aquilo era andar a cavalo, não era bicicleta. Então, eu acabei por optar, por uma lata de conservas vazia, forrava-a com um papel de seda, que vibrasse ao som da voz, e amarrava-a a um pequeno pau ou a uma caninha e estava feito um microfone. Imediatamente, de ciclista, passei a relator da Emissora Nacional. “Lá vai Fernando Mendes a atacar, mas a marcação cerrada de Joaquim Agostinho não lhe permite avançar nem 20 metros. A meta já está à vista, estamos a menos de 5 kms da chegada. O Agostinho não tem sprint, será desta que o Fernando Mendes vai conseguir ganhar uma etapa?” E depois havia o Roque, o Firmino o Andrade, o Venceslau. Todos tinham uma palavra a dizer. Mas cheio de força, Agostinho, sem levantar o rabo do selim, pedalava, pedalava, pedalava e no pelotão ninguém tinha pernas para o HOMEM. E havia a volta a França, a minha volta de sempre. Tão importante para mim como a Volta a Portugal. Já não me lembro do Ancquetil, mas ainda vejo o Merckx, o Hinault, o Indurain, o Armstrong. Ah e não me esqueço, do Poulidour, Pou-Pou o eterno segundo e nunca, mas nunca do Agostinho e dos seus honrosos terceiros lugares. Hoje não tenho a mesma doidice pelo ciclismo, mas tenho dois ídolos: Armstrong e Azevedo. Paulatinamente, ajudando o líder, sem darem por ele, temos o Azevedo, nos dez primeiros. Vou ali subir o Puis-de-Dome e já volto. E se eu não voltar é porque estou no alto da Senhora da Graça. Eu gosto mesmo de ciclismo.
domingo, julho 18, 2004
508. Redacção – Os políticos
Eu gosto muito de políticos. Quando eu era miúdo sempre pensei vir a ser político. O meu problema é que só havia a união nacional e eu não era muito unionista. Eu sempre fui pela independência das colónias e até achei que o Algarve devia, também, ser independente. Um dia, desenhei uma bandeira com umas rochas em fundo azul (cor de mar) e uma alfarroba no meio. Mas adiante. Mais tarde passou-me a onda da política e quis fundar uma igreja. Assim daquelas universalistas, onde eu pudesse ser dono e pastor. Leiam isto com sotaque brasileiro: “Irmãos, só Jesus pode vos salvar. Vêem ali no fundo da sala aquele gigantesco baú? Coloquem lá vossas oferendas e façam um desejo”. (Não esqueçam de passar este e-mail a 10 pessoas, em 5 minutos, para o desejo ser concedido). Mas depois achei que não ia resultar. Lixei-me, o Edir Macedo pegou na minha ideia e é o que se vê. Voltei então à política. Agora, eu já poderia ser secretário-geral de um partido. Foi então que me veio a ideia de consultar as bases. Fui à OTA, ao Montijo, a Beja, a Espinho, a Rio Tinto, a Figo Maduro e até às Lajes. Depois de fazer este périplo, o meu pai deu-me uma bofetada por eu andar a gastar dinheiro em viagens, sem o consultar. Afinal não eram aquelas bases. Enganei-me redondamente. Não podia ser chefe de nenhum partido porque eles nunca se enganam. Dei em palyboy, passei a andar de discoteca em discoteca. A minha avó diz-me que um dia eu hei-de ser primeiro-ministro. Mas eu não quero. Eu quero mesmo é ser secretário-geral. Já preparei a minha moção e vou levá-la a congresso não tarda nada. Não me peçam entrevistas, porque já tenho a agenda cheia. Gosto mesmo de políticos, mas gosto mais ainda de ser secretário-geral.
Eu gosto muito de políticos. Quando eu era miúdo sempre pensei vir a ser político. O meu problema é que só havia a união nacional e eu não era muito unionista. Eu sempre fui pela independência das colónias e até achei que o Algarve devia, também, ser independente. Um dia, desenhei uma bandeira com umas rochas em fundo azul (cor de mar) e uma alfarroba no meio. Mas adiante. Mais tarde passou-me a onda da política e quis fundar uma igreja. Assim daquelas universalistas, onde eu pudesse ser dono e pastor. Leiam isto com sotaque brasileiro: “Irmãos, só Jesus pode vos salvar. Vêem ali no fundo da sala aquele gigantesco baú? Coloquem lá vossas oferendas e façam um desejo”. (Não esqueçam de passar este e-mail a 10 pessoas, em 5 minutos, para o desejo ser concedido). Mas depois achei que não ia resultar. Lixei-me, o Edir Macedo pegou na minha ideia e é o que se vê. Voltei então à política. Agora, eu já poderia ser secretário-geral de um partido. Foi então que me veio a ideia de consultar as bases. Fui à OTA, ao Montijo, a Beja, a Espinho, a Rio Tinto, a Figo Maduro e até às Lajes. Depois de fazer este périplo, o meu pai deu-me uma bofetada por eu andar a gastar dinheiro em viagens, sem o consultar. Afinal não eram aquelas bases. Enganei-me redondamente. Não podia ser chefe de nenhum partido porque eles nunca se enganam. Dei em palyboy, passei a andar de discoteca em discoteca. A minha avó diz-me que um dia eu hei-de ser primeiro-ministro. Mas eu não quero. Eu quero mesmo é ser secretário-geral. Já preparei a minha moção e vou levá-la a congresso não tarda nada. Não me peçam entrevistas, porque já tenho a agenda cheia. Gosto mesmo de políticos, mas gosto mais ainda de ser secretário-geral.
sábado, julho 17, 2004
507. Redacção – O Embaixador
Eu gosto muito de embaixadores. Quando eu era miúdo o meu pai também gostava muito de embaixadores e eu acho que é por essa razão que eu também gosto muito. Um dia estava a passear pelo Jardin des Deux Rives, já era eu crescidinho, veio uma pessoa muito ligada ao Senhor. Ministro dos Negócios Estrangeiros perguntar-me, em discurso directo e com uma frontalidade que me deixou perplexo, Predatado, queres ser embaixador? Num primeiro momento, pensei que fosse uma óptima proposta. Cheguei a casa, fui buscar uma balança de dois pratos, daquelas que se usavam antigamente nas mercearias lá do meu bairro e no esquerdo coloquei um monte de prós e no outro uma data de contras. A balança não me estava a ajudar nada porque lhe faltava uma peça muito importante: o fiel. Voltei ao jardim na esperança de encontrar a tal pessoa ligada ao senhor ministro, mas não o encontrei. Naquele mesmo lugar alguém me entregou um pequeno papelinho que dizia assim: “ e vais aceitar colocar uma mordaça na boca, sem poderes dizer o que pensas, em troca de mais uns cobres, por muito que pareça prestigiante o teu lugar?” Tinha uma assinatura quase ilegível. Tirei os óculos e com esforço consegui juntar as letrinhas e lá estava a assinatura: a consciência. Acabei de descobrir o fiel que me faltava na balança. Já não quis ser embaixador. Eu sei que alguém me anda a copiar o meu estilo de tomar decisões. Quem sabe um dia, com outra balança e com outro fiel…
PS. A minha professora, não gosta que eu escreva pêésses nas minhas redacções, mas era inevitável dizer que o Schubert, aplaudiu a decisão. No final, ela disse-me que era pobre país o nosso onde poucos gatos levantavam o seu miau para aplaudir decisões destas.
Eu gosto muito de embaixadores. Quando eu era miúdo o meu pai também gostava muito de embaixadores e eu acho que é por essa razão que eu também gosto muito. Um dia estava a passear pelo Jardin des Deux Rives, já era eu crescidinho, veio uma pessoa muito ligada ao Senhor. Ministro dos Negócios Estrangeiros perguntar-me, em discurso directo e com uma frontalidade que me deixou perplexo, Predatado, queres ser embaixador? Num primeiro momento, pensei que fosse uma óptima proposta. Cheguei a casa, fui buscar uma balança de dois pratos, daquelas que se usavam antigamente nas mercearias lá do meu bairro e no esquerdo coloquei um monte de prós e no outro uma data de contras. A balança não me estava a ajudar nada porque lhe faltava uma peça muito importante: o fiel. Voltei ao jardim na esperança de encontrar a tal pessoa ligada ao senhor ministro, mas não o encontrei. Naquele mesmo lugar alguém me entregou um pequeno papelinho que dizia assim: “ e vais aceitar colocar uma mordaça na boca, sem poderes dizer o que pensas, em troca de mais uns cobres, por muito que pareça prestigiante o teu lugar?” Tinha uma assinatura quase ilegível. Tirei os óculos e com esforço consegui juntar as letrinhas e lá estava a assinatura: a consciência. Acabei de descobrir o fiel que me faltava na balança. Já não quis ser embaixador. Eu sei que alguém me anda a copiar o meu estilo de tomar decisões. Quem sabe um dia, com outra balança e com outro fiel…
PS. A minha professora, não gosta que eu escreva pêésses nas minhas redacções, mas era inevitável dizer que o Schubert, aplaudiu a decisão. No final, ela disse-me que era pobre país o nosso onde poucos gatos levantavam o seu miau para aplaudir decisões destas.
sexta-feira, julho 16, 2004
506. Redacção – A água
Eu gosto muito de água. Quando eu era miúdo, havia no Pombal, em Almada, um chafariz. No início, a maioria das casas não tinha água canalizada. Ai como eu sou antigo. Ao bom estilo chinês, uma vara sobre os ombros e um balde de cada lado íamos buscar água ao chafariz. Os rapazes e as raparigas, na época em que eu era miúdo, casavam com as raparigas e com os rapazes da região. Diziam que quem bebia água do Pombal, ficava como que enfeitiçado. Eu casei com uma pessoa que nasceu a mais de duzentos quilómetros. Fui embarcado. Passadas pouco mais de duas semanas, eu gritava a plenos pulmões: ‘Tirem-me daqui!’. E jurava a pés juntos, que depois do primeiro desembarque não voltaria à marinha mercante. Os meus colegas riam e gozavam comigo. Diziam-me que eu já tinha bebido água do tanque número três. Quem bebia a água de bordo, ia lá ficar toda a vida. Eu fiquei seis meses. Trabalhei numa empresa japonesa. Fui muito bem tratado e o Director Geral gostava do meu trabalho. Convenceu-se que à boa maneira japonesa eu ficaria lá para toda a vida. Teve um desgosto enorme quando me despedi, ao ponto de tirar uma semana de férias, coincidente com a data da minha saída, para não me cumprimentar no dia em que me vim embora. Hoje, embora esteja desempregado, sinto orgulho nas seis empresas onde trabalhei nos últimos 24 anos. Mas não enraizei em nenhuma. Um dos comentadores do meu post anterior escreveu na caixa de comentários: “Voltas. Sei que voltas. Isto já te entrou vida dentro e agora podes tirar férias, podes dar voltas ao miolo mas o que sentes acaba por sair. Portanto, um grande até já. Descansa. Mas voltas, tenho a certeza. Grande abraço!”. Ele sabia que eu tinha bebido água da blogosfera. A única água que me enfeitiçou. Eu gosto muito de água.
Eu gosto muito de água. Quando eu era miúdo, havia no Pombal, em Almada, um chafariz. No início, a maioria das casas não tinha água canalizada. Ai como eu sou antigo. Ao bom estilo chinês, uma vara sobre os ombros e um balde de cada lado íamos buscar água ao chafariz. Os rapazes e as raparigas, na época em que eu era miúdo, casavam com as raparigas e com os rapazes da região. Diziam que quem bebia água do Pombal, ficava como que enfeitiçado. Eu casei com uma pessoa que nasceu a mais de duzentos quilómetros. Fui embarcado. Passadas pouco mais de duas semanas, eu gritava a plenos pulmões: ‘Tirem-me daqui!’. E jurava a pés juntos, que depois do primeiro desembarque não voltaria à marinha mercante. Os meus colegas riam e gozavam comigo. Diziam-me que eu já tinha bebido água do tanque número três. Quem bebia a água de bordo, ia lá ficar toda a vida. Eu fiquei seis meses. Trabalhei numa empresa japonesa. Fui muito bem tratado e o Director Geral gostava do meu trabalho. Convenceu-se que à boa maneira japonesa eu ficaria lá para toda a vida. Teve um desgosto enorme quando me despedi, ao ponto de tirar uma semana de férias, coincidente com a data da minha saída, para não me cumprimentar no dia em que me vim embora. Hoje, embora esteja desempregado, sinto orgulho nas seis empresas onde trabalhei nos últimos 24 anos. Mas não enraizei em nenhuma. Um dos comentadores do meu post anterior escreveu na caixa de comentários: “Voltas. Sei que voltas. Isto já te entrou vida dentro e agora podes tirar férias, podes dar voltas ao miolo mas o que sentes acaba por sair. Portanto, um grande até já. Descansa. Mas voltas, tenho a certeza. Grande abraço!”. Ele sabia que eu tinha bebido água da blogosfera. A única água que me enfeitiçou. Eu gosto muito de água.
segunda-feira, julho 12, 2004
505. Bom Dia!
- Estás a pensar acabar com o blog não é?
- Como é que sabes?
- Vejo na tua cara. Tens cara de desistência.
(O meu espelho nunca tinha usado esta palavra. Ele sabe que eu nunca desisti de nada. Onde será que a aprendeu?)
- Enganas-te. Tenho cara de pausa.
(Ele fez uma careta. Acho que desconhece a expressão. Sempre me viu electrizado. Não me conhecia pausas)
- Queres explicar, ou ficamos assim?
(Disse-me isto com um ar tão crítico, tão acético, que não consegui virar-lhe as costas sem uma explicação)
- Preciso de ler. De voltar a vasculhar a biblioteca. Preciso de beber novos éteres e cheirar os clássicos. Renovar-me e repurificar esta sala. Cheira-me demasiado a tabaco.
(Baixou a cabeça, ficou uns segundos largos em reflexão, depois olhou-me nos olhos e falou-me em voz baixa)
- Hoje não digas apenas bom dia. Diz também até logo. Até sempre!
- Estás a pensar acabar com o blog não é?
- Como é que sabes?
- Vejo na tua cara. Tens cara de desistência.
(O meu espelho nunca tinha usado esta palavra. Ele sabe que eu nunca desisti de nada. Onde será que a aprendeu?)
- Enganas-te. Tenho cara de pausa.
(Ele fez uma careta. Acho que desconhece a expressão. Sempre me viu electrizado. Não me conhecia pausas)
- Queres explicar, ou ficamos assim?
(Disse-me isto com um ar tão crítico, tão acético, que não consegui virar-lhe as costas sem uma explicação)
- Preciso de ler. De voltar a vasculhar a biblioteca. Preciso de beber novos éteres e cheirar os clássicos. Renovar-me e repurificar esta sala. Cheira-me demasiado a tabaco.
(Baixou a cabeça, ficou uns segundos largos em reflexão, depois olhou-me nos olhos e falou-me em voz baixa)
- Hoje não digas apenas bom dia. Diz também até logo. Até sempre!
domingo, julho 11, 2004
504. O PreDatado feito pelo que rouba nos outros blogs
Vão ter de ler o texto se quiserem conhecer a totalidade do conteúdo. Eu roubei-lhe esta frase, com a devida vénia, como aliás sempre curvo a espinha quando roubo algo a alguém, aqui na blogosfera:
“ (…) Para tanto, precisam também (e especialmente) de:
porta do quarto fechada + reboliço entre os lençóis + gemidos abafados seguidos de um assalto furtivo ao frigorífico às quatro da manhã. (…)”
Minha cara Vieirinha, tenho de te dizer o seguinte:
- Esqueci-me da porta aberta;
- Durante o reboliço o Schubert, subiu para cima da cómoda e pagou bilhete de 1º balcão. Não sei se gostou ou não do show, porque não escutei as palmas no fim de cada acto.
- Não fui ao frigorífico ás 4 da manhã. Deixei passar as horas e quando olhei para o relógio já eram 6. Achas que me mesmo assim deveria ter ido à cozinha?
(espero que em breve me possas dar um conselho matrimonial sobre gatos entre lençóis)
Portanto amiga, não tenho a certeza se os teus conselhos funcionam com gatos. Porque os meus miúdos, já são adultos e portanto se não há remédio, está remediado.
Vão ter de ler o texto se quiserem conhecer a totalidade do conteúdo. Eu roubei-lhe esta frase, com a devida vénia, como aliás sempre curvo a espinha quando roubo algo a alguém, aqui na blogosfera:
“ (…) Para tanto, precisam também (e especialmente) de:
porta do quarto fechada + reboliço entre os lençóis + gemidos abafados seguidos de um assalto furtivo ao frigorífico às quatro da manhã. (…)”
Minha cara Vieirinha, tenho de te dizer o seguinte:
- Esqueci-me da porta aberta;
- Durante o reboliço o Schubert, subiu para cima da cómoda e pagou bilhete de 1º balcão. Não sei se gostou ou não do show, porque não escutei as palmas no fim de cada acto.
- Não fui ao frigorífico ás 4 da manhã. Deixei passar as horas e quando olhei para o relógio já eram 6. Achas que me mesmo assim deveria ter ido à cozinha?
(espero que em breve me possas dar um conselho matrimonial sobre gatos entre lençóis)
Portanto amiga, não tenho a certeza se os teus conselhos funcionam com gatos. Porque os meus miúdos, já são adultos e portanto se não há remédio, está remediado.
502. Não te vás.
Não sei se li bem, mas no entretanto já reli e fiquei com o mesmo entendimento. A minha amiga blogosferiana Helena Thadeu, despediu-se do Solistência. Só lhe quero aqui dizer, publicamente, que fico triste por desaparecer um blog inteligente. E se eu puder fazer-te um pedido é só este: não te vás!
Não sei se li bem, mas no entretanto já reli e fiquei com o mesmo entendimento. A minha amiga blogosferiana Helena Thadeu, despediu-se do Solistência. Só lhe quero aqui dizer, publicamente, que fico triste por desaparecer um blog inteligente. E se eu puder fazer-te um pedido é só este: não te vás!
sábado, julho 10, 2004
501. Bom Dia
- Estás diferente.
- Porquê?
- Tens uma face alegre e outra triste.
(Os espelhos são mais observadores. Pudera, não têm em que pensar. Às vezes são perspicazes.)
- Não leste o meu Bom Dia de ontem?
- Li e daí? O que posso deduzir?
(Eu não disse que os espelhos nem raciocínios simples fazem?)
- Sexta-feira é um bom dia, meu caro plano reflector. A minha foi quase perfeita.
- Então como explicas a meia face descaída?
Desta vez quem virou as costas ao espelho fui eu. Peguei na Bandeira Nacional, o ar tinha um espectro cor de cenoura onde ainda pairava uma sexta-feira, nua, deliciosa, cheirosa como a flor que costuma povoar-me as mesas e quente, que as nove e quinze quiseram nublar. Cobri a sexta-feira com a Bandeira Nacional, porque hoje é Sábado.
Vejam como nasceu o dia. Nublado, cinzento, triste.
E porque hoje é Sábado, apesar dos espelhos, desejo um bom dia para todos vós.
- Estás diferente.
- Porquê?
- Tens uma face alegre e outra triste.
(Os espelhos são mais observadores. Pudera, não têm em que pensar. Às vezes são perspicazes.)
- Não leste o meu Bom Dia de ontem?
- Li e daí? O que posso deduzir?
(Eu não disse que os espelhos nem raciocínios simples fazem?)
- Sexta-feira é um bom dia, meu caro plano reflector. A minha foi quase perfeita.
- Então como explicas a meia face descaída?
Desta vez quem virou as costas ao espelho fui eu. Peguei na Bandeira Nacional, o ar tinha um espectro cor de cenoura onde ainda pairava uma sexta-feira, nua, deliciosa, cheirosa como a flor que costuma povoar-me as mesas e quente, que as nove e quinze quiseram nublar. Cobri a sexta-feira com a Bandeira Nacional, porque hoje é Sábado.
Vejam como nasceu o dia. Nublado, cinzento, triste.
E porque hoje é Sábado, apesar dos espelhos, desejo um bom dia para todos vós.
sexta-feira, julho 09, 2004
500. Quinhentos
Comecei o meu blog, em Outubro passado, pensando colocar textos que já antes tinha escrito. Daí o nome deste blog: PreDatado. Os textos tinham datas que eram anteriores às datas em que eu os publicaria. A dinâmica que vim encontrar na blogosfera e a minha própria dinâmica, depressa ultrapassaram essa intenção. Nunca esperei ser capaz, de em tão curto espaço de tempo, produzir 500 textos. Só o fiz por duas razões – a primeira porque o meu gosto por escrever algo, mesmo que faits divers, caricaturas do quotidiano ou algo mais intenso, algo que me vem de dentro, me obrigou a usar este espaço para o fazer. A segunda, e para mim efectivamente a principal, é porque alguém gosta do que eu escrevo (as quase 10.000 entradas e as mais de 21.000 paginas acedidas, são muito compensadoras para a minha auto-estima).
Infelizmente, quis o destino, que esta minha comemoração coincidisse com uma derrota pessoal. Eu era (sou, mas agora não interessa) política e constitucionalmente, favorável às eleições antecipadas. Quis o senhor Presidente da República que a minha (só minha?) expectativa fosse gorada. É para mim, também, uma derrota pessoal. Hoje e coincidente com esta postagem a Bandeira Nacional que neste blog exprimia o a minha petição por eleições antecipadas, sairá do blog. A Bandeira Nacional que ainda mantenho na varanda, sairá de lá, dentro de momentos. À espera de melhores dias.
Comecei o meu blog, em Outubro passado, pensando colocar textos que já antes tinha escrito. Daí o nome deste blog: PreDatado. Os textos tinham datas que eram anteriores às datas em que eu os publicaria. A dinâmica que vim encontrar na blogosfera e a minha própria dinâmica, depressa ultrapassaram essa intenção. Nunca esperei ser capaz, de em tão curto espaço de tempo, produzir 500 textos. Só o fiz por duas razões – a primeira porque o meu gosto por escrever algo, mesmo que faits divers, caricaturas do quotidiano ou algo mais intenso, algo que me vem de dentro, me obrigou a usar este espaço para o fazer. A segunda, e para mim efectivamente a principal, é porque alguém gosta do que eu escrevo (as quase 10.000 entradas e as mais de 21.000 paginas acedidas, são muito compensadoras para a minha auto-estima).
Infelizmente, quis o destino, que esta minha comemoração coincidisse com uma derrota pessoal. Eu era (sou, mas agora não interessa) política e constitucionalmente, favorável às eleições antecipadas. Quis o senhor Presidente da República que a minha (só minha?) expectativa fosse gorada. É para mim, também, uma derrota pessoal. Hoje e coincidente com esta postagem a Bandeira Nacional que neste blog exprimia o a minha petição por eleições antecipadas, sairá do blog. A Bandeira Nacional que ainda mantenho na varanda, sairá de lá, dentro de momentos. À espera de melhores dias.
498. Lunch Time Blog
É incrível a falta de inspiração. Se eu tivesse comido um prato de cozinha tradicional portuguesa, por exemplo, uma caldeirada à fragateiro, se eu tivesse ido àquele restaurante Alsaciano numa transversal do Boulevard des Italians, quase a chegar ao quartier Latin, comer um delicioso Foie Gras d’Oie, se eu tivesse comido um cocinillo asado na Antiga Casa Botin, ali já à Plaza Mayor, se tivesse ido ao Léon comer umas moules au frite (depois de passar a mão na perna de S. Fernando), se tivesse dado um saltinho à monumental Berlim leste comer um Eisbein num restaurantezinho que eu conheço, aí sim eu poderia fazer um Lunch Time Blog inspirado. Mas quem almoça escalopes de vitela fritos ao alhinho, não tem grande motivo de escrita. O vinho tinto Terras de Estremoz, de Maria Joana Castro Duarte, tem o condão de transformar qualquer vulgar refeição, num pitéu de excelência. Portanto parabéns ao vinho. Da sobremesa se me apetecer escrevo, se não me apetecer não escrevo. E agora não me apetece.
PS. O Schubert passou o tempo a esconder-se debaixo de um alguidar. Só nunca percebi porque é que, quando se esconde, deixa sempre o rabinho de fora.
É incrível a falta de inspiração. Se eu tivesse comido um prato de cozinha tradicional portuguesa, por exemplo, uma caldeirada à fragateiro, se eu tivesse ido àquele restaurante Alsaciano numa transversal do Boulevard des Italians, quase a chegar ao quartier Latin, comer um delicioso Foie Gras d’Oie, se eu tivesse comido um cocinillo asado na Antiga Casa Botin, ali já à Plaza Mayor, se tivesse ido ao Léon comer umas moules au frite (depois de passar a mão na perna de S. Fernando), se tivesse dado um saltinho à monumental Berlim leste comer um Eisbein num restaurantezinho que eu conheço, aí sim eu poderia fazer um Lunch Time Blog inspirado. Mas quem almoça escalopes de vitela fritos ao alhinho, não tem grande motivo de escrita. O vinho tinto Terras de Estremoz, de Maria Joana Castro Duarte, tem o condão de transformar qualquer vulgar refeição, num pitéu de excelência. Portanto parabéns ao vinho. Da sobremesa se me apetecer escrevo, se não me apetecer não escrevo. E agora não me apetece.
PS. O Schubert passou o tempo a esconder-se debaixo de um alguidar. Só nunca percebi porque é que, quando se esconde, deixa sempre o rabinho de fora.
497. Bom dia!
A sexta-feira é um dia desejado por quase todos aqueles que, durante a semana, dão o litro e esperam ansiosamente pelo final do mesmo para gozar um merecido fim-de-semana. Outros há que, exactamente por amanhã ser fim-de-semana, fazem da sexta-feira uma lufa-lufa de trabalho intenso, para poderem passar Sábado e Domingo de consciência tranquila. Eu não estou nem num caso nem noutro. Nem dei o litro, nem tenho rabos-de-palha. Por isso acho que vou ter uma sexta-feira bonita. Se alguém estiver nestas condições, levante o braço. Mas para todos, para os do tipo um, tipo dois ou tipo três e para quem quiser partilhar comigo uma sexta-feira feliz, desejo a todos um bom, um muito bom dia.
A sexta-feira é um dia desejado por quase todos aqueles que, durante a semana, dão o litro e esperam ansiosamente pelo final do mesmo para gozar um merecido fim-de-semana. Outros há que, exactamente por amanhã ser fim-de-semana, fazem da sexta-feira uma lufa-lufa de trabalho intenso, para poderem passar Sábado e Domingo de consciência tranquila. Eu não estou nem num caso nem noutro. Nem dei o litro, nem tenho rabos-de-palha. Por isso acho que vou ter uma sexta-feira bonita. Se alguém estiver nestas condições, levante o braço. Mas para todos, para os do tipo um, tipo dois ou tipo três e para quem quiser partilhar comigo uma sexta-feira feliz, desejo a todos um bom, um muito bom dia.
quinta-feira, julho 08, 2004
496. Egregio
A propósito de um excelente artigo, embora controverso em alguns aspectos, mas que não será motivo desta minha postagem, publicado hoje no Público, por José Pacheco Pereira e referido no Abrupto, decidi dar uma voltinha no Google para encontrar um texto que explicasse o significado e a origem de Egrégio. Infelizmente as primeiras 60 entradas do Google não traziam uma única referência em português. Quem souber espanhol pode agora cantar o hino nacional, sem as dúvidas da personagem de JPP.
Egregio
La palabra "egregio", término por el que hoy designamos a una personalidad sobresaliente, un hecho histórico de notable alcance o una obra excepcional tocada por el genio de un hombre o una raza, curiosamente proviene del latín egregius, expresión compuesta del prefijo ex ('fuera', 'más allá') y la voz grex ('rebaño', 'grey'), es decir, 'apartado, lejos del rebaño'. Vocablo algo ampuloso y revelador de grandeza, por lo menos en nuestros días, egregius, según nos lo advierte su limpia etimología, en sus comienzos fue una palabra de humilde cuna, de estirpe rural, que con el curso de los tiempos ennobleció sus pergaminos, debido a un proceso de cambio meliorativo de su significado (técnicamente una trasnominación o mutación semántica) que en tantos casos enaltece a ciertas voces de condición común u ordinaria, promoviéndoselas a las más altas dignidades, a los más empinados rangos. El vocabulario académico define al vocablo "egregio" por medio de dos sinónimos: "insigne" e "ilustre", a los que se podrían agregar las voces "esclarecido", "notable", "sobresaliente" y tantas otras.
Este texto foi encontrado aquí.
A propósito de um excelente artigo, embora controverso em alguns aspectos, mas que não será motivo desta minha postagem, publicado hoje no Público, por José Pacheco Pereira e referido no Abrupto, decidi dar uma voltinha no Google para encontrar um texto que explicasse o significado e a origem de Egrégio. Infelizmente as primeiras 60 entradas do Google não traziam uma única referência em português. Quem souber espanhol pode agora cantar o hino nacional, sem as dúvidas da personagem de JPP.
Egregio
La palabra "egregio", término por el que hoy designamos a una personalidad sobresaliente, un hecho histórico de notable alcance o una obra excepcional tocada por el genio de un hombre o una raza, curiosamente proviene del latín egregius, expresión compuesta del prefijo ex ('fuera', 'más allá') y la voz grex ('rebaño', 'grey'), es decir, 'apartado, lejos del rebaño'. Vocablo algo ampuloso y revelador de grandeza, por lo menos en nuestros días, egregius, según nos lo advierte su limpia etimología, en sus comienzos fue una palabra de humilde cuna, de estirpe rural, que con el curso de los tiempos ennobleció sus pergaminos, debido a un proceso de cambio meliorativo de su significado (técnicamente una trasnominación o mutación semántica) que en tantos casos enaltece a ciertas voces de condición común u ordinaria, promoviéndoselas a las más altas dignidades, a los más empinados rangos. El vocabulario académico define al vocablo "egregio" por medio de dos sinónimos: "insigne" e "ilustre", a los que se podrían agregar las voces "esclarecido", "notable", "sobresaliente" y tantas otras.
Este texto foi encontrado aquí.
495. Às vezes interrogo-me
Porque é que gosto tanto dos blogs escritos por pessoal de Almada e de outras regiões?
Porque é que as mulheres mais bonitas são as portuguesas e as estrangeiras?
Porque é que na física gosto tanto de Física atómica, molecular e de polímeros, como de Física nuclear ou de Mecânica dos fluidos e de Cosmologia e astrofísica mas também de Óptica e de Mecânica, Estática, Dinâmica, Hidrostática e Quântica.
Porque é que gosto tanto de viajar por ar, por terra e por mar e às vezes no tempo?
Porque é que sou tão materialista e fascina-me o espiritismo e passo o tempo a dar graças a Deus?
Porque é que gosto de futebol, de rûgbi, de hóquei em patins, de esgrima, de equitação, de ciclismo, de atletismo, de ski alpino, de bodyboard, de windsurf, de judo?
Porque é que passo horas a ler prosa e poesia?
Porque é que tanto vou ver exposições de pintura, como de escultura, vou à ópera e a concertos na Gulbenkian e acordo no festival do Sudoeste ou em Vilar de Mouros?
Porque é que acompanho as minhas refeições com vinho tinto, bebo leite pela manhã e antes de dormir, cerveja às cinco da tarde, água a toda a hora e whisky também?
Porque é que só gosto do Benfica mas o primeiro resultado que vou ver n’ A Bola é o do Almada?
É por estas e por outras que eu não gosto do ecletismo. Fico sempre na dúvida, do que fazer no minuto seguinte.
Porque é que gosto tanto dos blogs escritos por pessoal de Almada e de outras regiões?
Porque é que as mulheres mais bonitas são as portuguesas e as estrangeiras?
Porque é que na física gosto tanto de Física atómica, molecular e de polímeros, como de Física nuclear ou de Mecânica dos fluidos e de Cosmologia e astrofísica mas também de Óptica e de Mecânica, Estática, Dinâmica, Hidrostática e Quântica.
Porque é que gosto tanto de viajar por ar, por terra e por mar e às vezes no tempo?
Porque é que sou tão materialista e fascina-me o espiritismo e passo o tempo a dar graças a Deus?
Porque é que gosto de futebol, de rûgbi, de hóquei em patins, de esgrima, de equitação, de ciclismo, de atletismo, de ski alpino, de bodyboard, de windsurf, de judo?
Porque é que passo horas a ler prosa e poesia?
Porque é que tanto vou ver exposições de pintura, como de escultura, vou à ópera e a concertos na Gulbenkian e acordo no festival do Sudoeste ou em Vilar de Mouros?
Porque é que acompanho as minhas refeições com vinho tinto, bebo leite pela manhã e antes de dormir, cerveja às cinco da tarde, água a toda a hora e whisky também?
Porque é que só gosto do Benfica mas o primeiro resultado que vou ver n’ A Bola é o do Almada?
É por estas e por outras que eu não gosto do ecletismo. Fico sempre na dúvida, do que fazer no minuto seguinte.
494. Bom Dia!
- Cansado?
- Efectivamente.
- Não dormiste?
- Dormi muito bem.
- Então?
Há anos que o meu espelho sabe que de manhã eu sou de poucas falas. Apesar das respostas curtas, tentando desincentivar o diálogo, ele insiste. Decidi satisfazer-lhe a curiosidade.
- Cansado da novela.
- Dos protagonistas ou da história?
- Não anda nem desanda. O texto é pobre.
Fez um compasso de espera. Deixou-me fazer toda a minha faxina matinal. Chegou mesmo a virar-me as costas. Respirei fundo, pensei que tivesse desistido. Desgraçadamente, enganei-me. Quando voltou, piscou-me o olho com um sorriso malandro e atirou-me provocatoriamente:
- O José Castelo Branco também tem um diálogo na novela. Diz que adora o Santana.
Vesti as minhas cuecas de fio dental, despejei o frasco de gel na cabeça, atei o rabo-de-cavalo com uma fitinha vermelha, calcei os sapatos de verniz, desatei aos gritos com a empregada, saí e dirigi-me ao carro. Um cachorro tinha-me mijado nas jantes.
PS. Bom dia! Bom dia! Bom dia! A propósito, vamos ter eleições ou não? É que já estou cansado da novela.
- Cansado?
- Efectivamente.
- Não dormiste?
- Dormi muito bem.
- Então?
Há anos que o meu espelho sabe que de manhã eu sou de poucas falas. Apesar das respostas curtas, tentando desincentivar o diálogo, ele insiste. Decidi satisfazer-lhe a curiosidade.
- Cansado da novela.
- Dos protagonistas ou da história?
- Não anda nem desanda. O texto é pobre.
Fez um compasso de espera. Deixou-me fazer toda a minha faxina matinal. Chegou mesmo a virar-me as costas. Respirei fundo, pensei que tivesse desistido. Desgraçadamente, enganei-me. Quando voltou, piscou-me o olho com um sorriso malandro e atirou-me provocatoriamente:
- O José Castelo Branco também tem um diálogo na novela. Diz que adora o Santana.
Vesti as minhas cuecas de fio dental, despejei o frasco de gel na cabeça, atei o rabo-de-cavalo com uma fitinha vermelha, calcei os sapatos de verniz, desatei aos gritos com a empregada, saí e dirigi-me ao carro. Um cachorro tinha-me mijado nas jantes.
PS. Bom dia! Bom dia! Bom dia! A propósito, vamos ter eleições ou não? É que já estou cansado da novela.
quarta-feira, julho 07, 2004
493. O PreDatado feito pelo que rouba nos outros blogs
Leiam bem esta postagem que a batukada escreveu hoje no seu mood swing e que eu tomo a liberdade de roubar e citar com todo o respeito:
“Quarta-feira, Julho 07, 2004
Ainda acordo de noite a gritar
"Tira o Pauleta, PORRA!"
Mais dois dias e voltará tudo ao normal. Tenho a certeza. Ámen.
# escrito pela batukada às 10:51”
Ainda hoje eu dizia ao meu espelho
- Tenho pesadelos.
- Queres contar?
- Não posso, não sei falar açoreano.
- Deixa estar meu caro, mais dois dias e isso passa.
Virei-lhe as costas mas ainda o vi despir, matreiramente, a camisola nº 9.
Leiam bem esta postagem que a batukada escreveu hoje no seu mood swing e que eu tomo a liberdade de roubar e citar com todo o respeito:
“Quarta-feira, Julho 07, 2004
Ainda acordo de noite a gritar
"Tira o Pauleta, PORRA!"
Mais dois dias e voltará tudo ao normal. Tenho a certeza. Ámen.
# escrito pela batukada às 10:51”
Ainda hoje eu dizia ao meu espelho
- Tenho pesadelos.
- Queres contar?
- Não posso, não sei falar açoreano.
- Deixa estar meu caro, mais dois dias e isso passa.
Virei-lhe as costas mas ainda o vi despir, matreiramente, a camisola nº 9.
492. Difícil?
“Uma decisão difícil, num país difícil” – Pedro Santana Lopes
Difícil? - Difícil é isto:
Estado de S. Paulo (Brasil) – 37 milhões de habitantes.
Bangladesh – 133 milhões de habitantes
Ucrânia – 49 milhões de habitantes
Colômbia – 40 milhões de habitantes
Iraque – 22 milhões de habitantes
Zimbabwe – 11 milhões de habitantes
Libéria – 3 milhões de habitantes
Haiti – 7 milhões de habitantes
Não quer ir para lá governar?
“Uma decisão difícil, num país difícil” – Pedro Santana Lopes
Difícil? - Difícil é isto:
Estado de S. Paulo (Brasil) – 37 milhões de habitantes.
Bangladesh – 133 milhões de habitantes
Ucrânia – 49 milhões de habitantes
Colômbia – 40 milhões de habitantes
Iraque – 22 milhões de habitantes
Zimbabwe – 11 milhões de habitantes
Libéria – 3 milhões de habitantes
Haiti – 7 milhões de habitantes
Não quer ir para lá governar?
490. Lunch Time Blog
Perto da Docapesca e da VTS fica a Siesta. Não fui dormir no restaurante embora o tempo de espera, entre a entrega do cardápio (em português de França – menu) e a recepção do pedido, a isso convidasse. Mas como a companhia era boa, isto é, o rio Tejo mesmo ali ao lado e a paisagem magnífica sobre o Bugio, não fora o corte paisagístico provocado pelos silos da Trafaria (ai se o meu amigo Artur lê isto, despede-me), resisti a fechar os olhos. Até porque não se fazem essas coisas à mesa. Os champignones rellenados estavam de facto saborosos. Mas não de comer e chorar por mais. As fajitas de vaca estavam bem acompanhadas de verdura qb ou seja pimentos (pimientos, à la mexicana). Não era um prato de repetir a dose, mas o puré de feijão e o puré de abacate com tomate compunham a nota com elegância. Perto, alguém, com uns olhos bonitos, comia regalada algo que na lista constava como ensilada verde. Parecia comer com o apetite que uma boa iguaria desperta. Na próxima vez vou experimentar. Desta vez a minha mesa voltou a ter uma flor. Gosto de comer acompanhado de flor. Mas também molhei o bico. E com quê? Adivinhem. Uma Margarita é claro. E olé, olé.
PS. Uma vez mais o Schubert não iria gostar da comida. Olhar para o lado e ver no rio Tejo os carapaus aos saltinhos seria bem melhor petisco para ele. Olha, olha, ele aqui ao lado a dizer-me: ‘um bom carapau de corrida me pareces tu’.
Perto da Docapesca e da VTS fica a Siesta. Não fui dormir no restaurante embora o tempo de espera, entre a entrega do cardápio (em português de França – menu) e a recepção do pedido, a isso convidasse. Mas como a companhia era boa, isto é, o rio Tejo mesmo ali ao lado e a paisagem magnífica sobre o Bugio, não fora o corte paisagístico provocado pelos silos da Trafaria (ai se o meu amigo Artur lê isto, despede-me), resisti a fechar os olhos. Até porque não se fazem essas coisas à mesa. Os champignones rellenados estavam de facto saborosos. Mas não de comer e chorar por mais. As fajitas de vaca estavam bem acompanhadas de verdura qb ou seja pimentos (pimientos, à la mexicana). Não era um prato de repetir a dose, mas o puré de feijão e o puré de abacate com tomate compunham a nota com elegância. Perto, alguém, com uns olhos bonitos, comia regalada algo que na lista constava como ensilada verde. Parecia comer com o apetite que uma boa iguaria desperta. Na próxima vez vou experimentar. Desta vez a minha mesa voltou a ter uma flor. Gosto de comer acompanhado de flor. Mas também molhei o bico. E com quê? Adivinhem. Uma Margarita é claro. E olé, olé.
PS. Uma vez mais o Schubert não iria gostar da comida. Olhar para o lado e ver no rio Tejo os carapaus aos saltinhos seria bem melhor petisco para ele. Olha, olha, ele aqui ao lado a dizer-me: ‘um bom carapau de corrida me pareces tu’.
489. Boa Tarde quase Boa Noite
Perdão. Mil vezes perdão. Sou um filho desnaturado desta blogosfera. Um PreDatalog sem Bom Dia, é como um jardim sem flores (alguém ao meu lado me pede: coloca, é como homem sem chifre – eu não acredito em seres mitológicos, por isso, não coloco). Logo eu que não sou nada, nadinha mesmo, como vós amigas leitoras e vós amigos leitores bem sabeis, de deixar este blog ao abandono, tive a veleidade, o desplante, a ignomínia (alguém aqui a meu lado me pede: coloca descaramento – eu que não sou brasileiro, mas que reconheço a palavra em português, coloco) de vos deixar sem o meu desejo de um dia bom, de um dia maravilhoso. Espero que a auto-flagelação que aqui me imponho, seja suficiente para me redimir deste hediondo pecado. Por isso a todas e a todos vós, minhas queridas e meu queridos, um desejo de um resto de tarde aprazível e uma noite povoada de sonhos bonitos.
PS. Como a Katchia me ajudou a escrever esta postagem, com uma frase e uma palavra, deixo um link ao blog dela com o desejo que se cure da dor de estômago. Pior que aturar uma brasileira a trabalhar ao seu lado é aturar uma brasileira com dor de estômago. Tenho dito.
Perdão. Mil vezes perdão. Sou um filho desnaturado desta blogosfera. Um PreDatalog sem Bom Dia, é como um jardim sem flores (alguém ao meu lado me pede: coloca, é como homem sem chifre – eu não acredito em seres mitológicos, por isso, não coloco). Logo eu que não sou nada, nadinha mesmo, como vós amigas leitoras e vós amigos leitores bem sabeis, de deixar este blog ao abandono, tive a veleidade, o desplante, a ignomínia (alguém aqui a meu lado me pede: coloca descaramento – eu que não sou brasileiro, mas que reconheço a palavra em português, coloco) de vos deixar sem o meu desejo de um dia bom, de um dia maravilhoso. Espero que a auto-flagelação que aqui me imponho, seja suficiente para me redimir deste hediondo pecado. Por isso a todas e a todos vós, minhas queridas e meu queridos, um desejo de um resto de tarde aprazível e uma noite povoada de sonhos bonitos.
PS. Como a Katchia me ajudou a escrever esta postagem, com uma frase e uma palavra, deixo um link ao blog dela com o desejo que se cure da dor de estômago. Pior que aturar uma brasileira a trabalhar ao seu lado é aturar uma brasileira com dor de estômago. Tenho dito.
terça-feira, julho 06, 2004
488. Lunch Time Blog
Não, hoje não comi gaspacho. O meu almoço foi lulas grelhadas, acompanhadas com legumes (feijão verde, cenoura e batatas cozidas). Posso dizer-vos que estava óptimo mas que não tem nenhum segredo culinário. As lulas não podem ficar rijas, mas devem ‘sentir-se’ na boca. O branco, que o calor convida, era alentejano. Mas não foi por causa do vinho que eu vim aqui escrever esta postagem. Nem por causa do Alentejo de per si. Foi por causa da Sofia. Então não é que a moça hoje mexeu comigo? Lembrou-se de pôr uma receita de gaspacho e, logo eu que não sou nadinha, mas mesmo nada, como aliás vós leitoras amigas e leitores amigos bem sabeis, de falar de comida e muito menos de comer, fiquei cá com uma vontade de re-almoçar, ai, ai … Pois é, a Sofia lembrou-se do gaspacho e eu lembrei-me das minhas noites alentejanas, quando os outros estão sentados à mesa (e no quintal) a comer febras grelhadas, entremeadas, chouriços (ou linguiças, como dizemos por lá), estou eu a refastelar-me com o fresco e delicioso gaspacho, normalmente acompanhado de um pouco de bacalhau. Ai Sofia como me fez bem ler o teu blog, hoje. O pior, pior, pior, como diz o Serafim, é que não estou no Alentejo. E comer gaspacho aqui em casa, lembra-me quando vou a uma pizzaria e fico nostálgico da bela Veneza. Mas vou lá voltar. Garanto. Nem que vá de gôndola.
PS. Schubert, este tipo de comida não te diz nada. Mas eu sei que tu não estás preocupado com isso. Estás de barriguinha cheia, hoje o dono comprou-te uma goluseima e do texto apenas cheiraste o bacalhau. Cuidado que isso ainda não é para a tua idade.
Não, hoje não comi gaspacho. O meu almoço foi lulas grelhadas, acompanhadas com legumes (feijão verde, cenoura e batatas cozidas). Posso dizer-vos que estava óptimo mas que não tem nenhum segredo culinário. As lulas não podem ficar rijas, mas devem ‘sentir-se’ na boca. O branco, que o calor convida, era alentejano. Mas não foi por causa do vinho que eu vim aqui escrever esta postagem. Nem por causa do Alentejo de per si. Foi por causa da Sofia. Então não é que a moça hoje mexeu comigo? Lembrou-se de pôr uma receita de gaspacho e, logo eu que não sou nadinha, mas mesmo nada, como aliás vós leitoras amigas e leitores amigos bem sabeis, de falar de comida e muito menos de comer, fiquei cá com uma vontade de re-almoçar, ai, ai … Pois é, a Sofia lembrou-se do gaspacho e eu lembrei-me das minhas noites alentejanas, quando os outros estão sentados à mesa (e no quintal) a comer febras grelhadas, entremeadas, chouriços (ou linguiças, como dizemos por lá), estou eu a refastelar-me com o fresco e delicioso gaspacho, normalmente acompanhado de um pouco de bacalhau. Ai Sofia como me fez bem ler o teu blog, hoje. O pior, pior, pior, como diz o Serafim, é que não estou no Alentejo. E comer gaspacho aqui em casa, lembra-me quando vou a uma pizzaria e fico nostálgico da bela Veneza. Mas vou lá voltar. Garanto. Nem que vá de gôndola.
PS. Schubert, este tipo de comida não te diz nada. Mas eu sei que tu não estás preocupado com isso. Estás de barriguinha cheia, hoje o dono comprou-te uma goluseima e do texto apenas cheiraste o bacalhau. Cuidado que isso ainda não é para a tua idade.
486. Novos Ministérios
O Dr. Santana Lopes, se for nomeado PM, irá criar novos ministérios. Atrevo-me a fazer-lhe uma sugestão. Crie o Ministério das Corporações. A ideia não é original mas é actual. Bastaria dar meia dúzia de exemplos e veria quão a propósito vem esta sugestão. Olhemos o comportamento de algumas das organizações profissionais, polícias, farmacêuticos, médicos, advogados, juízes só para mencionar alguns e ninguém o criticaria por esse novo-velho Ministério.
Sugeria também a criação da Secretaria de Estado da Intelectualidade. Há alguns umbigos à espera. Desligados da “populaça”, falam entre eles, escrevem para eles, citam-se uns aos outros, fazem programas de TV só para eles (auto-masturbação?) e gastam do dinheiro que é de todos nós (assim como assim, não é?). Há alguns destes aqui na blogosfera. O senhor novo primeiro-ministro com algum jeito, vai encontrá-los.
PS. Sugiro que comece a pesquisa por anti bandeira nacional, ou anti buzinas, ou anti festas do povo. Se mesmo assim não encontrar, porque realmente são poucos, compre um ou outro jornal diário. Às vezes também estão lá.
O Dr. Santana Lopes, se for nomeado PM, irá criar novos ministérios. Atrevo-me a fazer-lhe uma sugestão. Crie o Ministério das Corporações. A ideia não é original mas é actual. Bastaria dar meia dúzia de exemplos e veria quão a propósito vem esta sugestão. Olhemos o comportamento de algumas das organizações profissionais, polícias, farmacêuticos, médicos, advogados, juízes só para mencionar alguns e ninguém o criticaria por esse novo-velho Ministério.
Sugeria também a criação da Secretaria de Estado da Intelectualidade. Há alguns umbigos à espera. Desligados da “populaça”, falam entre eles, escrevem para eles, citam-se uns aos outros, fazem programas de TV só para eles (auto-masturbação?) e gastam do dinheiro que é de todos nós (assim como assim, não é?). Há alguns destes aqui na blogosfera. O senhor novo primeiro-ministro com algum jeito, vai encontrá-los.
PS. Sugiro que comece a pesquisa por anti bandeira nacional, ou anti buzinas, ou anti festas do povo. Se mesmo assim não encontrar, porque realmente são poucos, compre um ou outro jornal diário. Às vezes também estão lá.
485. Bom Dia!
O primeiro-ministro demitiu-se ontem. Até que enfim.
O Benfica já apresentou 6 jogadores novos e prepara-se para comprar mais 5. Voltou aos bons velhos tempos. Uma equipa nova todos os anos. Isto promete.
Santana Lopes quer mais ministérios. É preciso dar lugares a quem o apoiou. Ainda teremos o ministério da plantação de palmeiras. Isto promete.
O Alberto João quer fazer um contra-golpe. Acha que ‘aos guerrilheiros se responde com guerrilha’. Parece que aqui no continente ainda ninguém se tinha lembrado disto, pois não senhor guerrilheiro Alberto? Se alguém se lembrar isto promete.
O Vírus Evaman está a atacar os e-mails do Hotmail e do Yahoo. Nem nos conseguimos curar de um e logo vem outro a seguir. Estes vírus andam a imitar os nossos governantes. Já estou a sentir um formigueiro no nariz.
São oito e meia da manhã e estão 17ºC. Mas pelo aspecto o dia promete. Desfrutem-no e tenham um muito bom dia.
O primeiro-ministro demitiu-se ontem. Até que enfim.
O Benfica já apresentou 6 jogadores novos e prepara-se para comprar mais 5. Voltou aos bons velhos tempos. Uma equipa nova todos os anos. Isto promete.
Santana Lopes quer mais ministérios. É preciso dar lugares a quem o apoiou. Ainda teremos o ministério da plantação de palmeiras. Isto promete.
O Alberto João quer fazer um contra-golpe. Acha que ‘aos guerrilheiros se responde com guerrilha’. Parece que aqui no continente ainda ninguém se tinha lembrado disto, pois não senhor guerrilheiro Alberto? Se alguém se lembrar isto promete.
O Vírus Evaman está a atacar os e-mails do Hotmail e do Yahoo. Nem nos conseguimos curar de um e logo vem outro a seguir. Estes vírus andam a imitar os nossos governantes. Já estou a sentir um formigueiro no nariz.
São oito e meia da manhã e estão 17ºC. Mas pelo aspecto o dia promete. Desfrutem-no e tenham um muito bom dia.
segunda-feira, julho 05, 2004
484. As línguas do Zé Manel.
Uma das anedotas que mais gosto, é aquela (vou resumir) em que o um nosso amigo alentejano, caminhando com o seu filho à beira da estrada, encontra um aflito estrangeiro, que com o carro avariado tentava desesperadamente comunicar com estes dois transeuntes. Usted habla español? Recebeu indiferença, como resposta. Parlez vous français? Um encolher de ombros do pai e uma cara de interrogação do filho, foi tudo quanto obteve. Do you speak english? ‘Vamos embora Maneli que este tipo tá mangando com a gente’ , foi a única frase que ouviu daquelas alminhas.
Mais à frente, o filho, encantado com a versatilidade do poliglota, disse para o pai:
- Pai, é muito bom a gente saber falar línguas.
- Para quê, filho? Na lhe serviu para nada.
Hoje o final seria outro:
- Pai, é muito bom a gente saber falar línguas.
- Para quê, filho? Só se for para seres presidente da Europa. Mas o carro aqui na terrinha fica parado na mesma.
Uma das anedotas que mais gosto, é aquela (vou resumir) em que o um nosso amigo alentejano, caminhando com o seu filho à beira da estrada, encontra um aflito estrangeiro, que com o carro avariado tentava desesperadamente comunicar com estes dois transeuntes. Usted habla español? Recebeu indiferença, como resposta. Parlez vous français? Um encolher de ombros do pai e uma cara de interrogação do filho, foi tudo quanto obteve. Do you speak english? ‘Vamos embora Maneli que este tipo tá mangando com a gente’ , foi a única frase que ouviu daquelas alminhas.
Mais à frente, o filho, encantado com a versatilidade do poliglota, disse para o pai:
- Pai, é muito bom a gente saber falar línguas.
- Para quê, filho? Na lhe serviu para nada.
Hoje o final seria outro:
- Pai, é muito bom a gente saber falar línguas.
- Para quê, filho? Só se for para seres presidente da Europa. Mas o carro aqui na terrinha fica parado na mesma.
483. Entreguem isto aos bichos
Estado policial? Não. Estado de Direito? Deixem-me rir. Acabem com a PJ, com o SEF. Acabem com a PGR e com o PGR. Nomear um novo PM ou Eleições? Tanto faz. Entreguem isto aos bichos. Ou então ao Juízes. Eles é que sabem. Acabei de ouvir a notícia sobre o julgamento da mega rede de falsificação de documentos. Se não fosse trágico, mijava-me a rir. Os milhares de passaportes, BIs, autorizações de residência e outros documentos relevantes que foram apreendidos, a mega tipografia desmantelada, saíram de um livro de Harry Potter. São fruto de magia e invenção. Nada daquilo existe, ninguém fez aquilo. E ainda há quem tenha esperança que hajam condenados no processo Casa Pia. Só um doido é que acredita que alguém vá preso. Eu cá por mim mandava prender era toda a polícia e toda a investigação e todo o SEF e toda a PJ. Punha os Juízes e os legisladores no poder e fartava-mo-nos todos de rir. Este país de cabisbaixos e cinzentos, que só festeja futebol e que entretanto tem 200 mil pessoas a morrer à fome, seria o país mais alegre da Europa. Era só rir. Entreguem isto aos bichos por favor.
Estado policial? Não. Estado de Direito? Deixem-me rir. Acabem com a PJ, com o SEF. Acabem com a PGR e com o PGR. Nomear um novo PM ou Eleições? Tanto faz. Entreguem isto aos bichos. Ou então ao Juízes. Eles é que sabem. Acabei de ouvir a notícia sobre o julgamento da mega rede de falsificação de documentos. Se não fosse trágico, mijava-me a rir. Os milhares de passaportes, BIs, autorizações de residência e outros documentos relevantes que foram apreendidos, a mega tipografia desmantelada, saíram de um livro de Harry Potter. São fruto de magia e invenção. Nada daquilo existe, ninguém fez aquilo. E ainda há quem tenha esperança que hajam condenados no processo Casa Pia. Só um doido é que acredita que alguém vá preso. Eu cá por mim mandava prender era toda a polícia e toda a investigação e todo o SEF e toda a PJ. Punha os Juízes e os legisladores no poder e fartava-mo-nos todos de rir. Este país de cabisbaixos e cinzentos, que só festeja futebol e que entretanto tem 200 mil pessoas a morrer à fome, seria o país mais alegre da Europa. Era só rir. Entreguem isto aos bichos por favor.
482. Bom Dia!
- O que vais fazer hoje?
- hkdfjlscvsl ( estava a dizer-lhe para esperar um pouco, não consigo falar enquanto lavo os dentes)
Esperou e insistiu:
- O que vais fazer hoje?
- A barba.
A minha superstição não deu resultado. Nem a gravata do outro. Eu sabia que essa resposta não lhe agradaria. Mas tenho dias em que gosto de provocar.
- O que vais fazer hoje?
- Descer à terra.
Acho que não percebeu. Os espelhos nunca percebem nada. Um dia destes, falo-lhe por sinais.
PS. Vi-o limpar uma lágrima no canto do olho, mas não comentei.
- O que vais fazer hoje?
- hkdfjlscvsl ( estava a dizer-lhe para esperar um pouco, não consigo falar enquanto lavo os dentes)
Esperou e insistiu:
- O que vais fazer hoje?
- A barba.
A minha superstição não deu resultado. Nem a gravata do outro. Eu sabia que essa resposta não lhe agradaria. Mas tenho dias em que gosto de provocar.
- O que vais fazer hoje?
- Descer à terra.
Acho que não percebeu. Os espelhos nunca percebem nada. Um dia destes, falo-lhe por sinais.
PS. Vi-o limpar uma lágrima no canto do olho, mas não comentei.
domingo, julho 04, 2004
481. Tristeza
A tristeza está instalada no meu coração. As lágrimas correram, inevitáveis. A decepção é tão maior quanto enorme era a esperança. Mas, neste momento, não posso deixar de dar os meus sinceros parabéns à selecção nacional de futebol por ter feito o que fez. Também parabéns à Grécia porque venceu.
PS. Obrigado Luís Felipe Scolari. Você é grande e vai continuar a conduzir esta equipa a novos êxitos.
A tristeza está instalada no meu coração. As lágrimas correram, inevitáveis. A decepção é tão maior quanto enorme era a esperança. Mas, neste momento, não posso deixar de dar os meus sinceros parabéns à selecção nacional de futebol por ter feito o que fez. Também parabéns à Grécia porque venceu.
PS. Obrigado Luís Felipe Scolari. Você é grande e vai continuar a conduzir esta equipa a novos êxitos.
sexta-feira, julho 02, 2004
479. Homenagem *
Naquele Tempo
Sob o caramachão de glicínia lilaz
As abelhas e eu
Tontas de perfume
Lá no alto as abelhas
Doiradas e pequenas
Não se ocupavam de mim
Iam de flor em flor
E cá em baixo eu
Sentada no banco de azulejos
Entre penumbra e luz
Flor e perfume
Tão ávida como as abelhas
Abril de 98
Sophia de Mello Breyner Andresen
* faleceu hoje, com 84 anos.
Naquele Tempo
Sob o caramachão de glicínia lilaz
As abelhas e eu
Tontas de perfume
Lá no alto as abelhas
Doiradas e pequenas
Não se ocupavam de mim
Iam de flor em flor
E cá em baixo eu
Sentada no banco de azulejos
Entre penumbra e luz
Flor e perfume
Tão ávida como as abelhas
Abril de 98
Sophia de Mello Breyner Andresen
* faleceu hoje, com 84 anos.
478. Morreu Brando
Marlon Brando morreu com 80 anos. Li a notícia em blogs, em muitos. Um ícone que desaparece, como desaparecerão todos, ao mesmo tempo que outros ídolos se vão criando. Intelectualmente mencionando “Júlio César”, Hollywoodescamente citando “A Revolta na Bounty”, Oscarmente referindo “O Padrinho” uns e outros vão relembrando a sua obra. Fã desde há muito, muito tempo (pois é a idade…) assisto agora ao seu “Último Tango”.
Marlon Brando morreu com 80 anos. Li a notícia em blogs, em muitos. Um ícone que desaparece, como desaparecerão todos, ao mesmo tempo que outros ídolos se vão criando. Intelectualmente mencionando “Júlio César”, Hollywoodescamente citando “A Revolta na Bounty”, Oscarmente referindo “O Padrinho” uns e outros vão relembrando a sua obra. Fã desde há muito, muito tempo (pois é a idade…) assisto agora ao seu “Último Tango”.
477. Lunch Time Blog
O almoço tem dias mas não foi ao micro-ondas. Está calor que baste, não tem de ser aquecido. A travessa vem composta, o aspecto é agradável e ao sabor não se pode pôr defeito. Na mesa uma flor. Nunca vos disse que gosto de uma mesa com uma flor. Mas gosto. Há quem a tire para o lado. Eu prefiro tirar para o lado, o pão e a manteiga. Uma flor é uma coisa bonita. Uma bandeira também. A minha mesa tinha uma bandeira portuguesa. Ficou até ao final. A flor também. Não tirei os olhos da flor. Assim como que um fascínio. Minto, de vez em quando também olhava para a bandeira. Ando com uma pancada pela bandeira nacional. Mas este LTB hoje não terá política nem futebol. Só comida e flores. Algumas flores têm olhos. Estou a lembrar-me dos amores-perfeitos. Mas sempre que me lembro dos olhos deles, dá-me vontade de rir. Quando olho de frente um amor-perfeito reparo que tem bigode. Gosto de uma flor sem bigode. Gosto das margaridas, das rosas, das tulipas, das orquídeas. Gosto quando olho para elas e quando elas olham para mim. Têm olhos e têm nomes. As flores têm nome de mulher. As que não têm são cravos. Também são bonitos, mas eu gosto mais das outras. Não estou a falar de política. Na política gosto de cravos. Na mesa gosto de outros nomes. De flores com olhos bonitos, flores que enquanto como, como também com os olhos. Os olhos desta flor. Um dia destes, escreverei um LTB com tácticas de futebol. Mas hoje não falo de bola nem de política.
PS. O Schubert aqui ao meu lado, está farto de me morder os calcanhares e de miar. Mas eu estava tão embebido no meu almoço e na flor que nem lhe estava a ligar. Depois é que entendi a frase ‘desembucha, dono, diz lá o que é que comeste’. Pois sim, comi filetes de cherne, mas hoje não falo de política. O Schubert virou as costas, gosta mais de carne… ou então não gosta de política.
O almoço tem dias mas não foi ao micro-ondas. Está calor que baste, não tem de ser aquecido. A travessa vem composta, o aspecto é agradável e ao sabor não se pode pôr defeito. Na mesa uma flor. Nunca vos disse que gosto de uma mesa com uma flor. Mas gosto. Há quem a tire para o lado. Eu prefiro tirar para o lado, o pão e a manteiga. Uma flor é uma coisa bonita. Uma bandeira também. A minha mesa tinha uma bandeira portuguesa. Ficou até ao final. A flor também. Não tirei os olhos da flor. Assim como que um fascínio. Minto, de vez em quando também olhava para a bandeira. Ando com uma pancada pela bandeira nacional. Mas este LTB hoje não terá política nem futebol. Só comida e flores. Algumas flores têm olhos. Estou a lembrar-me dos amores-perfeitos. Mas sempre que me lembro dos olhos deles, dá-me vontade de rir. Quando olho de frente um amor-perfeito reparo que tem bigode. Gosto de uma flor sem bigode. Gosto das margaridas, das rosas, das tulipas, das orquídeas. Gosto quando olho para elas e quando elas olham para mim. Têm olhos e têm nomes. As flores têm nome de mulher. As que não têm são cravos. Também são bonitos, mas eu gosto mais das outras. Não estou a falar de política. Na política gosto de cravos. Na mesa gosto de outros nomes. De flores com olhos bonitos, flores que enquanto como, como também com os olhos. Os olhos desta flor. Um dia destes, escreverei um LTB com tácticas de futebol. Mas hoje não falo de bola nem de política.
PS. O Schubert aqui ao meu lado, está farto de me morder os calcanhares e de miar. Mas eu estava tão embebido no meu almoço e na flor que nem lhe estava a ligar. Depois é que entendi a frase ‘desembucha, dono, diz lá o que é que comeste’. Pois sim, comi filetes de cherne, mas hoje não falo de política. O Schubert virou as costas, gosta mais de carne… ou então não gosta de política.
476. Bom Dia!
Acabei de ler o excelente artigo de Miguel Sousa Tavares no Público.
Acabei de ler o excelente artigo de Ivan Nunes no Público
Li em A Bola que o Dias da Cunha está, de novo, indignado com o Pinto da Costa por causa de um “roubo” de jogador. Promete.
Vamos ter mais um dia de Santana e Futebol. Eu por mim, vou comer um iogurte.
Acabei de ler o excelente artigo de Miguel Sousa Tavares no Público.
Acabei de ler o excelente artigo de Ivan Nunes no Público
Li em A Bola que o Dias da Cunha está, de novo, indignado com o Pinto da Costa por causa de um “roubo” de jogador. Promete.
Vamos ter mais um dia de Santana e Futebol. Eu por mim, vou comer um iogurte.
quinta-feira, julho 01, 2004
475. Tudo velho!
Olha blog, eu não te desprezei. Mas estás a ver, um gajo anda num curso, sai cedo de casa, chega tarde, depois quer ouvir as notícias da bola e as notícias do Santana. Notícias velhas, claro. Quase nem tenho tempo de pensar. Ando num vazio de ideias que tu nem imaginas. Ainda por cima está calor, derretem-se-me os poucos neurónios, é chegar a casa, meter a cabeça no frigorífico e esperar que uma cerveja fresca me faça rejuvenescer. Sabes blog que eu gosto de cerveja fresquinha? E num bar de praia à tardinha a olhar para o mar até que é bem melhor. Mas nem sempre é possível, e regressa-se a casa com a camisa molhada, direitinho ao duche (mesmo antes do frigorífico) e depois ao frigorífico, mesmo antes do sofá e depois ao sofá, mesmo antes do futebol, e depois ao futebol, mesmo antes do jantar, e depois ao jantar mesmo antes da conferência de imprensa do Santana. É o que se pode arranjar. Acho que nem há temas para escrever. Não acontece nada de novo. Os incêndios começaram, mas isso é novo? Fez-se alguma coisa desde o desastre do ano passado para melhorar a coisa? Então não é novo, é história velha. O Sadam Hussein está ser julgado. Mas isso é novo? O homem já está condenado, a pena já se sabe qual é, os americanos já determinaram. Não há novidades. O Sr. Presidente da República anda a ouvir personalidades, mas isso é novo? Não é, anda a ouvir desde sexta-feira, é coisa antiga, portanto. O Pacheco Pereira escreveu um artigo no público, anti-Santana, anti-ida de José Barroso para a Comissão. Mas isso é novo? Novo só no papel, o Pacheco Pereira anda a escrever isso desde Domingo…pobre país, o nosso, não é? Até a vitória de Portugal sobre a Holanda, já foi ontem, a próxima só será no Domingo. Não há novidades. Por isso amigo blog, é que não dá sequer para vir aqui escrever nada. Quem iria ler coisas velhas?
Olha blog, eu não te desprezei. Mas estás a ver, um gajo anda num curso, sai cedo de casa, chega tarde, depois quer ouvir as notícias da bola e as notícias do Santana. Notícias velhas, claro. Quase nem tenho tempo de pensar. Ando num vazio de ideias que tu nem imaginas. Ainda por cima está calor, derretem-se-me os poucos neurónios, é chegar a casa, meter a cabeça no frigorífico e esperar que uma cerveja fresca me faça rejuvenescer. Sabes blog que eu gosto de cerveja fresquinha? E num bar de praia à tardinha a olhar para o mar até que é bem melhor. Mas nem sempre é possível, e regressa-se a casa com a camisa molhada, direitinho ao duche (mesmo antes do frigorífico) e depois ao frigorífico, mesmo antes do sofá e depois ao sofá, mesmo antes do futebol, e depois ao futebol, mesmo antes do jantar, e depois ao jantar mesmo antes da conferência de imprensa do Santana. É o que se pode arranjar. Acho que nem há temas para escrever. Não acontece nada de novo. Os incêndios começaram, mas isso é novo? Fez-se alguma coisa desde o desastre do ano passado para melhorar a coisa? Então não é novo, é história velha. O Sadam Hussein está ser julgado. Mas isso é novo? O homem já está condenado, a pena já se sabe qual é, os americanos já determinaram. Não há novidades. O Sr. Presidente da República anda a ouvir personalidades, mas isso é novo? Não é, anda a ouvir desde sexta-feira, é coisa antiga, portanto. O Pacheco Pereira escreveu um artigo no público, anti-Santana, anti-ida de José Barroso para a Comissão. Mas isso é novo? Novo só no papel, o Pacheco Pereira anda a escrever isso desde Domingo…pobre país, o nosso, não é? Até a vitória de Portugal sobre a Holanda, já foi ontem, a próxima só será no Domingo. Não há novidades. Por isso amigo blog, é que não dá sequer para vir aqui escrever nada. Quem iria ler coisas velhas?
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