sábado, julho 17, 2004

507. Redacção – O Embaixador
 
Eu gosto muito de embaixadores. Quando eu era miúdo o meu pai também gostava muito de embaixadores e eu acho que é por essa razão que eu também gosto muito. Um dia estava a passear pelo Jardin des Deux Rives, já era eu crescidinho, veio uma pessoa muito ligada ao Senhor. Ministro dos Negócios Estrangeiros perguntar-me, em discurso directo e com uma frontalidade que me deixou perplexo, Predatado, queres ser embaixador? Num primeiro momento, pensei que fosse uma óptima proposta. Cheguei a casa, fui buscar uma balança de dois pratos, daquelas que se usavam antigamente nas mercearias lá do meu bairro e no esquerdo coloquei um monte de prós e no outro uma data de contras. A balança não me estava a ajudar nada porque lhe faltava uma peça muito importante: o fiel. Voltei ao jardim na esperança de encontrar a tal pessoa ligada ao senhor ministro, mas não o encontrei. Naquele mesmo lugar alguém me entregou um pequeno papelinho que dizia assim: “ e vais aceitar colocar uma mordaça na boca, sem poderes dizer o que pensas, em troca de mais uns cobres, por muito que pareça prestigiante o teu lugar?” Tinha uma assinatura quase ilegível. Tirei os óculos e com esforço consegui juntar as letrinhas e lá estava a assinatura: a consciência. Acabei de descobrir o fiel que me faltava na balança. Já não quis ser embaixador. Eu sei que alguém me anda a copiar o meu estilo de tomar decisões. Quem sabe um dia, com outra balança e com outro fiel…
 
 
PS. A minha professora, não gosta que eu escreva pêésses nas minhas redacções, mas era inevitável dizer que o Schubert, aplaudiu a decisão. No final, ela disse-me que era pobre país o nosso onde poucos gatos levantavam o seu miau para aplaudir decisões destas.

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