515. Redacção – A guitarra
Eu gosto muito de guitarras. Quando eu era miúdo, o pai do meu amigo Costa ofereceu-lhe uma. Era uma guitarra pequena, moldada aos dedos de um garoto. De vez em quando ele emprestava-me, mas eu nunca atinei com os acordes. Era uma guitarra espanhola que hoje conhecemos por viola e os nossos irmãos de além-mar por violão. Gosto do som e gosto da forma. O corpo de uma mulher. No entanto, a guitarra que me faz tremer, é a guitarra portuguesa. Os acordes de uma guitarra penetram-se em cada poro do meu corpo, como se fosse, cada um deles, uma trompa de Eustáquio, um martelo, uma bigorna, uma membrana a vibrar. Nem todas emitem os mesmos sons. A guitarra “de Lisboa” e a guitarra “de Coimbra” têm trinados diferentes. Mas a arte está em fazê-las falar. Não falta quem se possa referir. Não vou fazer nomeações pois não quero ser injusto para os grandes mestres. Hoje, uma guitarra me faz chorar. Morreu ontem, quem eu considero o maior português de todos os tempos na arte da composição e da utilização da guitarra. Morreu Carlos Paredes e vai agora fazer companhia ao grande Artur Paredes, seu pai. Carlos Paredes nasceu em 1925 e tocava guitarra desde os quatro anos de idade. A biografia deixo-a para os especialistas. A minha redacção tem como objectivo apenas lhe falar no nome. E prestar-lhe a minha homenagem, enquanto escuto o Movimento Perpétuo. E dizer que gosto de guitarra.
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