625. Futebóis
Os gajos dos jornais, andam sempre a dizer e tal e coiso, e os pontos e tal dá mais equipas e isso, e depois vão cinco à UEFA e coiso. E coiso não, e coiso não, os gajos vão lá, vão lá, vão lá e não ganham nada. Báááá. (Desculpa lá a imitação Ricardo, mas é que deu muito jeito. Bááá).
quinta-feira, setembro 30, 2004
624. Desejos
“P.sAdianto-vos, outrossim, que, não obstante, sou uma grávida normal.Tenho desejos e tudo: de manhã, a primeira coisa que me vem à cabeça é um “Smart ForFour”…(Já expliquei, a quem de direito, que se não me for feita a vontade, os traumas emocionais da criança podem ser terríveis…)”
Este PS não é meu. É da grávida. Imaginem se a Papoila, quando acordasse a primeira coisa que lhe viesse à cabeça fosse ler o PreDatado… (ai querido/a filho/a da Papoila. Tão pequenino assim, ainda não sabes o que são traumas)
“P.sAdianto-vos, outrossim, que, não obstante, sou uma grávida normal.Tenho desejos e tudo: de manhã, a primeira coisa que me vem à cabeça é um “Smart ForFour”…(Já expliquei, a quem de direito, que se não me for feita a vontade, os traumas emocionais da criança podem ser terríveis…)”
Este PS não é meu. É da grávida. Imaginem se a Papoila, quando acordasse a primeira coisa que lhe viesse à cabeça fosse ler o PreDatado… (ai querido/a filho/a da Papoila. Tão pequenino assim, ainda não sabes o que são traumas)
623. Bombeiros
Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Almada. Humanitária? Dasse. Humanitária? Primeiro mandam uma ambulância com 2 homens: um motorista e outro. (deixem-me fazer um parêntesis para dizer que o serviço é pago). A Senhora tem 100 kgs (deixem-me fazer um parêntesis para dizer que a Senhora mora num rés de R/C). Eles têm macas com rodas. O motorista diz que não é nada com ele. Então? Mandaram só um? O que é que essa besta quadrada anda lá a fazer? É só para ligar sirenes e levar o dele ao fim do mês? Humanitária? A Senhora acaba o exame no hospital. A ambulância ainda lá está. A filha telefona para os bombeiros. Chama uma ambulância para o regresso (deixem-me fazer um parêntesis para dizer que o serviço é pago), “que é só um momentinho, que eles vão já”. A filha pergunta aos bombeiros se são eles a fazer o serviço de regresso. O motorista, o mesmo, assobia para o ar. Humanitária? Dasse. Voltam costas, vão embora. A ambulância regressa uma hora e cinco minutos depois. Humanitária? Venham cá vender rifas que mando-os pró caralho.
PS. Apesar da temperatura, não faço posts a quente. Esta é a terceira, ou quarta, ou quinta vez que situações destas se passam com os Bombeiros de Almada. Estou cansado destes gajos.
Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Almada. Humanitária? Dasse. Humanitária? Primeiro mandam uma ambulância com 2 homens: um motorista e outro. (deixem-me fazer um parêntesis para dizer que o serviço é pago). A Senhora tem 100 kgs (deixem-me fazer um parêntesis para dizer que a Senhora mora num rés de R/C). Eles têm macas com rodas. O motorista diz que não é nada com ele. Então? Mandaram só um? O que é que essa besta quadrada anda lá a fazer? É só para ligar sirenes e levar o dele ao fim do mês? Humanitária? A Senhora acaba o exame no hospital. A ambulância ainda lá está. A filha telefona para os bombeiros. Chama uma ambulância para o regresso (deixem-me fazer um parêntesis para dizer que o serviço é pago), “que é só um momentinho, que eles vão já”. A filha pergunta aos bombeiros se são eles a fazer o serviço de regresso. O motorista, o mesmo, assobia para o ar. Humanitária? Dasse. Voltam costas, vão embora. A ambulância regressa uma hora e cinco minutos depois. Humanitária? Venham cá vender rifas que mando-os pró caralho.
PS. Apesar da temperatura, não faço posts a quente. Esta é a terceira, ou quarta, ou quinta vez que situações destas se passam com os Bombeiros de Almada. Estou cansado destes gajos.
quarta-feira, setembro 29, 2004
620. Editorial
Ultimamente, muito se tem discutido a Saúde em Portugal. Tudo bem, dizem que da discussão nasce a luz. Pode ser…
Para o Governo está tudo bem. Ou melhor, se não está bem transforma-se em S.A. e passa a estar bem. Simples. Para a oposição está mal. E para os utentes?
Para os utentes não está bem, nem está mal, está uma merda, parafraseando um antigo professor que tive no liceu.
No passado dia 3 de Setembro a minha médica de família passou-me uma credencial para uma consulta de especialidade. A consulta poderia ser marcada a 27 de Setembro. Confundi as datas e hoje dia 29 fui para marcar a dita. Pois é, enganei-me e agora poderei marcar a 25 de Outubro. Isto é para marcar uma consulta, não é para ser consultado. Não é um caso de vida ou de morte, felizmente, porque se o fosse lá teria eu de contratar um funcionário da “Anjinhos & Anjinhos, S.A.”, para agradecer ao senhor ministro a saúde que temos.
PS.
Declaração
Para os devidos efeitos e, porque me foi solicitado declaro que não tenho interesses, directos nem indirectos, na firma “Cunhas & Cunhas, SA”.
Ass. O PreDatado
Ultimamente, muito se tem discutido a Saúde em Portugal. Tudo bem, dizem que da discussão nasce a luz. Pode ser…
Para o Governo está tudo bem. Ou melhor, se não está bem transforma-se em S.A. e passa a estar bem. Simples. Para a oposição está mal. E para os utentes?
Para os utentes não está bem, nem está mal, está uma merda, parafraseando um antigo professor que tive no liceu.
No passado dia 3 de Setembro a minha médica de família passou-me uma credencial para uma consulta de especialidade. A consulta poderia ser marcada a 27 de Setembro. Confundi as datas e hoje dia 29 fui para marcar a dita. Pois é, enganei-me e agora poderei marcar a 25 de Outubro. Isto é para marcar uma consulta, não é para ser consultado. Não é um caso de vida ou de morte, felizmente, porque se o fosse lá teria eu de contratar um funcionário da “Anjinhos & Anjinhos, S.A.”, para agradecer ao senhor ministro a saúde que temos.
PS.
Declaração
Para os devidos efeitos e, porque me foi solicitado declaro que não tenho interesses, directos nem indirectos, na firma “Cunhas & Cunhas, SA”.
Ass. O PreDatado
619. Conto (IX)
Despertei com a luz do Sol que penetrava na fresta que servia de entrada à tenda. Mal me levantei as duas anciãs que permaneciam de cócoras vigiando a jovem, cobertas por pequenas marlotas, braços carregados de mananas cujas agulhas, batendo umas nas outras, faziam um estranho tilintar, com ar de malcomidas, saíram sem içar as cabeças. Dirigi-me à fenda, semicerrada por dois magnetos, espreitei a machamba que a rodeava. Num ápice toda a tenda fora inundada, pelo cheiro das madressilvas e das magnólias. Fiquei ainda uns momentos escutando o chilrear dos maria-é-dia, antes de reentrar. Nunca tinha visto a jovem “quase-virgem” à claridade da luz. Deitada em marroquinas, longas madeixas de cabelo cobriam-lhe o peito. À espreita, não maiores que marmelos, os seios que, apesar de insensíveis, ainda me seduziam.
(continua)
Despertei com a luz do Sol que penetrava na fresta que servia de entrada à tenda. Mal me levantei as duas anciãs que permaneciam de cócoras vigiando a jovem, cobertas por pequenas marlotas, braços carregados de mananas cujas agulhas, batendo umas nas outras, faziam um estranho tilintar, com ar de malcomidas, saíram sem içar as cabeças. Dirigi-me à fenda, semicerrada por dois magnetos, espreitei a machamba que a rodeava. Num ápice toda a tenda fora inundada, pelo cheiro das madressilvas e das magnólias. Fiquei ainda uns momentos escutando o chilrear dos maria-é-dia, antes de reentrar. Nunca tinha visto a jovem “quase-virgem” à claridade da luz. Deitada em marroquinas, longas madeixas de cabelo cobriam-lhe o peito. À espreita, não maiores que marmelos, os seios que, apesar de insensíveis, ainda me seduziam.
(continua)
terça-feira, setembro 28, 2004
618. Chocolates
Ao contrário da Catarina, não como chocolates enquanto escrevo, nem me faltou o tabaco. A minha Etelvina não partiu nada, não faltou ao trabalho, não está com dores de dentes. Não fiquei lixado com nenhum comentário, e tenho uma memória de merda.
Ao contrário do Circo Cerebral, não como a Cerelac ao bebé, não leio O Acidental, não tenho que ir buscar ninguém ao infantário, não faço BTT, não sou do Sporting.
Vou escrever sobre quê?
Ao contrário da Catarina, não como chocolates enquanto escrevo, nem me faltou o tabaco. A minha Etelvina não partiu nada, não faltou ao trabalho, não está com dores de dentes. Não fiquei lixado com nenhum comentário, e tenho uma memória de merda.
Ao contrário do Circo Cerebral, não como a Cerelac ao bebé, não leio O Acidental, não tenho que ir buscar ninguém ao infantário, não faço BTT, não sou do Sporting.
Vou escrever sobre quê?
617. À mão
Mentes perversas! Não é isso, caraças, não estou a colocar professores… estou só a teclar no blog. Ainda vou contratar um técnico de informática para produzir o meu blog a tempo e horas. Isto são lá horas de estar a escrever.
PS. Estou a encher chouriços enquanto escrevo a parte IX do conto.
Mentes perversas! Não é isso, caraças, não estou a colocar professores… estou só a teclar no blog. Ainda vou contratar um técnico de informática para produzir o meu blog a tempo e horas. Isto são lá horas de estar a escrever.
PS. Estou a encher chouriços enquanto escrevo a parte IX do conto.
614. Sabão
Se o Tide, agora, é sabão tradicional, porque é que eu hei-de usar Tide?
(a água fria da ribeira,
a água fria que o sol aqueceu…)
PS. O Schubert ouviu-me cantar, viu-me vestido com uns calções às flores e uma t-shirt a dizer "estive no algarve e pensei em ti" e chamou-me azeiteiro. Acho que ele anda a ver os Ídolos.
Se o Tide, agora, é sabão tradicional, porque é que eu hei-de usar Tide?
(a água fria da ribeira,
a água fria que o sol aqueceu…)
PS. O Schubert ouviu-me cantar, viu-me vestido com uns calções às flores e uma t-shirt a dizer "estive no algarve e pensei em ti" e chamou-me azeiteiro. Acho que ele anda a ver os Ídolos.
segunda-feira, setembro 27, 2004
612. Poupança
Ainda meio estremunhado, ouvi a minha Maria perguntar ao meu filho se levava os 5kgs de batatas na mochila, quando este saiu para as aulas.
- Batatas? Perguntei eu, pensando que ainda não tinha acordado.
- Sim filho (aqui o filho era eu). Comprei a 0,15€/Kg no Ecomarché.
- Então e o miúdo leva as batatas na mochila? – Continuava incrédulo.
- Claro, em tempo de guerra não se limpam armas. Ando a poupar dinheiro.
Fui-lhe buscar um copo de água com açúcar, escondi as facas e o picador de gelo, abracei-a com carinho, pedi-lhe “calma amor”, sentei-a no sofá e disse-lhe “vamos ver um bocadinho de televisão, vamos, para descontraíres?”.
Agora sou eu que obrigo os meus filhos a encherem as mochilas de batatas antes de saírem para a escola. É que “com batatas a 0,15€/Kg, o regresso às aulas é mais barato do Ecomarché”.
Ainda meio estremunhado, ouvi a minha Maria perguntar ao meu filho se levava os 5kgs de batatas na mochila, quando este saiu para as aulas.
- Batatas? Perguntei eu, pensando que ainda não tinha acordado.
- Sim filho (aqui o filho era eu). Comprei a 0,15€/Kg no Ecomarché.
- Então e o miúdo leva as batatas na mochila? – Continuava incrédulo.
- Claro, em tempo de guerra não se limpam armas. Ando a poupar dinheiro.
Fui-lhe buscar um copo de água com açúcar, escondi as facas e o picador de gelo, abracei-a com carinho, pedi-lhe “calma amor”, sentei-a no sofá e disse-lhe “vamos ver um bocadinho de televisão, vamos, para descontraíres?”.
Agora sou eu que obrigo os meus filhos a encherem as mochilas de batatas antes de saírem para a escola. É que “com batatas a 0,15€/Kg, o regresso às aulas é mais barato do Ecomarché”.
611. Mais
Hoje, já publiquei mais posts do que a Catarina, do que o Paulo Gorjão e quase tantos como o Barnabé. É fofo, não é?
Hoje, já publiquei mais posts do que a Catarina, do que o Paulo Gorjão e quase tantos como o Barnabé. É fofo, não é?
610. Linquis
Não linco por me lincarem (eita frase, boba). Não sei se o novo Dicionário da Academia já inclui lincar, deletar, printar e outros estrangeirismos assim. Não sei, porque não tenho o dito, nem me dei ao trabalho de o consultar. Mas, se não tem, deveria ter. E perguntam as minhas amigas leitoras e os meus amigos leitores num estridente uníssono: “Deveria ter?”. Pois deveria. Eu não linco por me lincarem. A minha coluna da direita tem bué (bué vem lá, no Dicionário) destas situações. Mas se eu tivesse que fazer uma divisão dos que me lincam e dos que não me lincam, provavelmente nalguns eu escreveria “Coça-me as costas que eu coço as tuas”. Uma frase destas é grande prá chuchu (eita, brasileiro matuto). Então, o meu amigo Branco usou “eu tilinco, tu milincas”. Vamos lá a pôr o lincar no Dicionário, ilustres doutores.
Não linco por me lincarem (eita frase, boba). Não sei se o novo Dicionário da Academia já inclui lincar, deletar, printar e outros estrangeirismos assim. Não sei, porque não tenho o dito, nem me dei ao trabalho de o consultar. Mas, se não tem, deveria ter. E perguntam as minhas amigas leitoras e os meus amigos leitores num estridente uníssono: “Deveria ter?”. Pois deveria. Eu não linco por me lincarem. A minha coluna da direita tem bué (bué vem lá, no Dicionário) destas situações. Mas se eu tivesse que fazer uma divisão dos que me lincam e dos que não me lincam, provavelmente nalguns eu escreveria “Coça-me as costas que eu coço as tuas”. Uma frase destas é grande prá chuchu (eita, brasileiro matuto). Então, o meu amigo Branco usou “eu tilinco, tu milincas”. Vamos lá a pôr o lincar no Dicionário, ilustres doutores.
609. Figuras de estilo
Uma corrida ondulante em vez de tenho uma escoliose genética;
A fetidez do éter em vez de vê lá se não te voltas a descuidar;
Devorei-te mastigando palavra a palavra em vez de li o teu post de ontem;
Passaram mais de três horas num luxuriante jogo de emoções em vez de deram uma queca monumental;
Como um trovão que ribomba na calada da noite em vez de ó filho, hoje não que me dói a cabeça;
Riscas verdes e brancas e faixas azuis povoaram os meus sonhos em vez de tive um pesadelo do caraças.
Inundado pela escuridão, no fim do túnel, uma ténue luz se vislumbra em vez de será que alguma vez terei a mesma sorte da Rititi?
PS. Este post é para parabenizar a Rititi, uma das bloggers que leio com muito prazer, que agora é colunista da DNA.
Sentada na berma da estrada, uma lata de pomada branca vertia rios de espuma cobrindo-lhe os pés de uma démodé meia branca em vez de ó Pré, agora deste em engraxador, foi?
Uma corrida ondulante em vez de tenho uma escoliose genética;
A fetidez do éter em vez de vê lá se não te voltas a descuidar;
Devorei-te mastigando palavra a palavra em vez de li o teu post de ontem;
Passaram mais de três horas num luxuriante jogo de emoções em vez de deram uma queca monumental;
Como um trovão que ribomba na calada da noite em vez de ó filho, hoje não que me dói a cabeça;
Riscas verdes e brancas e faixas azuis povoaram os meus sonhos em vez de tive um pesadelo do caraças.
Inundado pela escuridão, no fim do túnel, uma ténue luz se vislumbra em vez de será que alguma vez terei a mesma sorte da Rititi?
PS. Este post é para parabenizar a Rititi, uma das bloggers que leio com muito prazer, que agora é colunista da DNA.
Sentada na berma da estrada, uma lata de pomada branca vertia rios de espuma cobrindo-lhe os pés de uma démodé meia branca em vez de ó Pré, agora deste em engraxador, foi?
608. Se o Salazar fosse vivo…
Hoje tomei 3 bicas. Em três cafés diferentes. “Se o Salazar fosse vivo, a menina já tinha sido encontrada”. Nunca tinha dado conta da faceta de farejador de Salazar, mas lá que ouvi isto, ouvi. “Se o Salazar fosse vivo, esses gajos das velocidades já tinham sido todos mortos”. Claro está, só quem não sabia que Salazar era um exímio caçador de automobilistas é que pode duvidar duma frase destas. Isto foi noutro café. “Pois, pois, é o mesmo que os gajos da Casa Pia. Ai se o Salazar fosse vivo…”. Cá para mim acho que o Salazar enrabava os pedófilos. Ai enrabava, enrabava. Trinta e cinco anos depois da morte de Salazar, há pessoas a reclamarem-no. Não se envergonham senhores governantes? No terceiro café, onde tomei a terceira bica da manhã, ninguém pediu o regresso do Salazar. Vou optar por este último e só vou tomar a terceira bica. Prescindo das outras duas. Assim dormirei melhor e até vou parecer que sou ministro.
Hoje tomei 3 bicas. Em três cafés diferentes. “Se o Salazar fosse vivo, a menina já tinha sido encontrada”. Nunca tinha dado conta da faceta de farejador de Salazar, mas lá que ouvi isto, ouvi. “Se o Salazar fosse vivo, esses gajos das velocidades já tinham sido todos mortos”. Claro está, só quem não sabia que Salazar era um exímio caçador de automobilistas é que pode duvidar duma frase destas. Isto foi noutro café. “Pois, pois, é o mesmo que os gajos da Casa Pia. Ai se o Salazar fosse vivo…”. Cá para mim acho que o Salazar enrabava os pedófilos. Ai enrabava, enrabava. Trinta e cinco anos depois da morte de Salazar, há pessoas a reclamarem-no. Não se envergonham senhores governantes? No terceiro café, onde tomei a terceira bica da manhã, ninguém pediu o regresso do Salazar. Vou optar por este último e só vou tomar a terceira bica. Prescindo das outras duas. Assim dormirei melhor e até vou parecer que sou ministro.
607. E quando não me apetece escrever só penso que…
O suco da barbatana do entulho, do português vernáculo vicentino, não só como ora essa é bom, mas até mesmo porque enfim. Vale mais um homem todavia nunca do que sem comparação jamais.
PS. O Schubert acha que eu não ando a bater bem, por isso arranhou-me. Hoje sinto-me… arranhado.
O suco da barbatana do entulho, do português vernáculo vicentino, não só como ora essa é bom, mas até mesmo porque enfim. Vale mais um homem todavia nunca do que sem comparação jamais.
PS. O Schubert acha que eu não ando a bater bem, por isso arranhou-me. Hoje sinto-me… arranhado.
606. Conto (VIII)
O nubente assistiu macambúzio ao ritual que se seguiu. De facto não era espectável que, após uma tão excitante cerimónia de iniciação, a passagem seguinte assumisse um tão maçadiço teor. Assim para vos poupar a uma macarrónea crónica, apenas refiro que a jovem foi conduzida numa maca, acompanhada por duas anciãs, para uma tenda isolada, colocada nas cercanias da aldeia. Mal acabou de entrar, o futuro noivo estendeu-me a mão, no que foi retribuído. E sem a largar conduziu-me ao meu lugar, previamente reservado na mesa principal, precisamente do lado direito do chefe. Ele sentar-se-ia à esquerda. Os pratos exóticos de jamantes e jeticas, de miolos de macaco servidos na própria cabeça, de língua de jacaré numa espécie de estufado, que ía chegando em grandes travessa de barro cru, de espetos de láparos apenas separados por folhas de urtiga fresca, de jambé, de rabo de boi com natas de leite de morcega, misturavam-se com alguns dos mais conhecidos pratos ocidentais, como o javali assado em forno de lenha, estaladiço, rodeado de laranja e maçarocas de mabalemade cozido, macedónia de frutas, lulas (embora de um tamanho inusitado) recheadas com linguiça, nêsperas em calda de açúcar, muito marisco de casca e pardais nidífugos fritos em óleo de nicori. E foi com este repasto, de que não hesitei em provar todas as iguarias, que me saciei de uma fome de três dias. Adormeci bebendo um chimarão, não de erva-mate como seria de esperar, mas de uma mistura de gengibre e macela.
(continua)
O nubente assistiu macambúzio ao ritual que se seguiu. De facto não era espectável que, após uma tão excitante cerimónia de iniciação, a passagem seguinte assumisse um tão maçadiço teor. Assim para vos poupar a uma macarrónea crónica, apenas refiro que a jovem foi conduzida numa maca, acompanhada por duas anciãs, para uma tenda isolada, colocada nas cercanias da aldeia. Mal acabou de entrar, o futuro noivo estendeu-me a mão, no que foi retribuído. E sem a largar conduziu-me ao meu lugar, previamente reservado na mesa principal, precisamente do lado direito do chefe. Ele sentar-se-ia à esquerda. Os pratos exóticos de jamantes e jeticas, de miolos de macaco servidos na própria cabeça, de língua de jacaré numa espécie de estufado, que ía chegando em grandes travessa de barro cru, de espetos de láparos apenas separados por folhas de urtiga fresca, de jambé, de rabo de boi com natas de leite de morcega, misturavam-se com alguns dos mais conhecidos pratos ocidentais, como o javali assado em forno de lenha, estaladiço, rodeado de laranja e maçarocas de mabalemade cozido, macedónia de frutas, lulas (embora de um tamanho inusitado) recheadas com linguiça, nêsperas em calda de açúcar, muito marisco de casca e pardais nidífugos fritos em óleo de nicori. E foi com este repasto, de que não hesitei em provar todas as iguarias, que me saciei de uma fome de três dias. Adormeci bebendo um chimarão, não de erva-mate como seria de esperar, mas de uma mistura de gengibre e macela.
(continua)
domingo, setembro 26, 2004
604. Conto (VII)
Os membros da tribo só saíam da aldeia por dois motivos. Caçar e, quando se tornava necessário, iniciar o ritual do casamento. Era da tradição que qualquer jovem da tribo, antes de casar, fosse desvirginada por um “estrangeiro”. Por um lado, a jovem nunca seria acusada pelo futuro marido de que tivera tido um romance antes com alguém do mesmo grupo. Isso diminuía drasticamente as relações de desconfiança. Por outro lado, uma vez que a cerimónia era pública, haveria a certeza que a jovem era virgem antes do casamento. Desta vez, o estrangeiro escolhido fora eu. Quando a jovem parou de lacrimejar, respirei fundo. Abstraí-me da plateia e fiz amor com ela. Para ser preciso, o acto durou apenas o tempo de a desflorar. Uma ladainha ecoou em todo o anfiteatro e como que por magia, as nuvens, que desde há horas cobriam os céus, desapareceram e o luarejar misturou-se com a luz dos archotes. Foi um acto lancinante. Para mim, por me ter prestado a tão lapuz ritual. Para a implume jovem, porque o seu rosto se contorceu de dor no momento da penetração. Quando a ladainha que as anciãs entoavam em uníssono terminou, o chefe ergueu alto o lábaro com as armas da tribo - um falcão com focinho de jacaré. Numa lemniscata desenhada no chão, onde num dos círculos me sentei e, no outro, se sentou o futuro noivo, o tratado que antes haveria assinado com sangue, foi-nos lido em voz alta, por uma espécie de feiticeiro. Teria de ficar na aldeia até que a gravidez da jovem se consumasse.
(continua)
Os membros da tribo só saíam da aldeia por dois motivos. Caçar e, quando se tornava necessário, iniciar o ritual do casamento. Era da tradição que qualquer jovem da tribo, antes de casar, fosse desvirginada por um “estrangeiro”. Por um lado, a jovem nunca seria acusada pelo futuro marido de que tivera tido um romance antes com alguém do mesmo grupo. Isso diminuía drasticamente as relações de desconfiança. Por outro lado, uma vez que a cerimónia era pública, haveria a certeza que a jovem era virgem antes do casamento. Desta vez, o estrangeiro escolhido fora eu. Quando a jovem parou de lacrimejar, respirei fundo. Abstraí-me da plateia e fiz amor com ela. Para ser preciso, o acto durou apenas o tempo de a desflorar. Uma ladainha ecoou em todo o anfiteatro e como que por magia, as nuvens, que desde há horas cobriam os céus, desapareceram e o luarejar misturou-se com a luz dos archotes. Foi um acto lancinante. Para mim, por me ter prestado a tão lapuz ritual. Para a implume jovem, porque o seu rosto se contorceu de dor no momento da penetração. Quando a ladainha que as anciãs entoavam em uníssono terminou, o chefe ergueu alto o lábaro com as armas da tribo - um falcão com focinho de jacaré. Numa lemniscata desenhada no chão, onde num dos círculos me sentei e, no outro, se sentou o futuro noivo, o tratado que antes haveria assinado com sangue, foi-nos lido em voz alta, por uma espécie de feiticeiro. Teria de ficar na aldeia até que a gravidez da jovem se consumasse.
(continua)
sábado, setembro 25, 2004
603. Eu que pensava que era a estação de Corroios ou do Pragal, saiu-me isto
Fui copiar o quiz desta minha querida amiga... vejam como sou quente.
You're a Summer. You're just a ball of energy that
is constantly going on and on!! You're kinda
like the energizer bunny. lol. But your
probably really athletic and even if you're
not, you'd be good in sports because of all
your energy. You're enthusiastic about
everything you do and find it hard not to be
happy. You're usually pretty optimistic but can
be realistic when needed. You always hope for
the best to turn out and many times they do.
Sometimes though, you let your temper get the
best of you but you apologize as soon as you
can because you hate people being angry with
you. You're friends love how active you are and
you make them feel like they can do anything
crazy if they want to.
What season are you? (pics)
brought to you by
Fui copiar o quiz desta minha querida amiga... vejam como sou quente.
You're a Summer. You're just a ball of energy that
is constantly going on and on!! You're kinda
like the energizer bunny. lol. But your
probably really athletic and even if you're
not, you'd be good in sports because of all
your energy. You're enthusiastic about
everything you do and find it hard not to be
happy. You're usually pretty optimistic but can
be realistic when needed. You always hope for
the best to turn out and many times they do.
Sometimes though, you let your temper get the
best of you but you apologize as soon as you
can because you hate people being angry with
you. You're friends love how active you are and
you make them feel like they can do anything
crazy if they want to.
What season are you? (pics)
brought to you by
602. Conto VI
Apesar da minha fraqueza física, motivada pela fome e quiçá pela situação inusitada, não quis parecer um qualquer jagodes. Levemente acariciei-lhes os seios. Primeiro um, depois outro. Tive uma surpresa. Não posso jactar-me de ter tido muitas mulheres na minha vida. Ainda sou relativamente jovem, falta um bom par de anos para atingir os quarenta. Nunca tive nenhuma mulher insensível ao toque nos mamilos. Pensei que a minha inabilidade ou a minha retracção fossem as responsáveis. Toquei-lhes com a ponta da língua numa tentativa de os bolinar. Nenhuma reacção da jovem, nem um tremor, nem uma expressão de prazer. Completamente insensível. Num instante, o chefe da “tribo” levantou-se e começou a jacular. Tal a velocidade com que emitia os sons, uma evidente forma primitiva de fala, que o joco se instalou entre os assistentes. Arrepiei no meu jogo amoroso e acto contínuo a jovem começou a jeremiar. Fez-se silêncio, só não absoluto porque, do goto da rapariga, se escutava um ténue choro. Alguns dias mais tarde, entendi essa insensibilidade dos seios das mulheres da aldeia.
(continua)
Apesar da minha fraqueza física, motivada pela fome e quiçá pela situação inusitada, não quis parecer um qualquer jagodes. Levemente acariciei-lhes os seios. Primeiro um, depois outro. Tive uma surpresa. Não posso jactar-me de ter tido muitas mulheres na minha vida. Ainda sou relativamente jovem, falta um bom par de anos para atingir os quarenta. Nunca tive nenhuma mulher insensível ao toque nos mamilos. Pensei que a minha inabilidade ou a minha retracção fossem as responsáveis. Toquei-lhes com a ponta da língua numa tentativa de os bolinar. Nenhuma reacção da jovem, nem um tremor, nem uma expressão de prazer. Completamente insensível. Num instante, o chefe da “tribo” levantou-se e começou a jacular. Tal a velocidade com que emitia os sons, uma evidente forma primitiva de fala, que o joco se instalou entre os assistentes. Arrepiei no meu jogo amoroso e acto contínuo a jovem começou a jeremiar. Fez-se silêncio, só não absoluto porque, do goto da rapariga, se escutava um ténue choro. Alguns dias mais tarde, entendi essa insensibilidade dos seios das mulheres da aldeia.
(continua)
sexta-feira, setembro 24, 2004
601. Ope 2 esquerda, direita!
Um gajo é assim, pronto, e eu não sei explicar. Eu sou um gajo de esquerda, toda a gente o sabe e, eu, sem medo (porque meus amigos e minhas amigas, não tenham dúvidas que desde o pós-gonçalvismo é preciso ter alguma coragem para se apregoar aos quatro ventos que se é de esquerda; ou alguém ainda dúvidas de que o Sócrates vai ganhara as eleições no PS?), dizia eu sem medo, sempre me assumi de esquerda. Ser de esquerda, não é só ser anti-Santana (o José Pacheco Pereira é-o, sem ser de esquerda), não é só ser anti-Portas (o Marcelo Rebelo de Sousa é-o, sem ser de esquerda), não é só ser anti-Bush ou anti-Sharon ou o raio que nos parta a nós, os de esquerda. Fundamentalmente, que me desculpem, alguns, poucos, homens e mulheres de direita quase inteligentes, ser de esquerda é ser inteligente. Porque para mim é um atentado à inteligência, alguém, como um tal não sei quantos Melo, deputado do CDS (e da Nação), vir a público defender a nomeação de Celeste Cardona para administradora da CGD, com base no seu Curriculum. Não vou falar em milhões, nem em milhares, mas apenas em centenas de Curricula mais ricos que o de Celeste Cardona. E ao que consta, essas centenas não foram convidadas para administradores da CGD. Esse tal de Melo, é como a minha avó dizia, esperto. E como diz o povo “esperteza é a inteligência de um burro”.
Um gajo é assim, pronto, e eu não sei explicar. Eu sou um gajo de esquerda, toda a gente o sabe e, eu, sem medo (porque meus amigos e minhas amigas, não tenham dúvidas que desde o pós-gonçalvismo é preciso ter alguma coragem para se apregoar aos quatro ventos que se é de esquerda; ou alguém ainda dúvidas de que o Sócrates vai ganhara as eleições no PS?), dizia eu sem medo, sempre me assumi de esquerda. Ser de esquerda, não é só ser anti-Santana (o José Pacheco Pereira é-o, sem ser de esquerda), não é só ser anti-Portas (o Marcelo Rebelo de Sousa é-o, sem ser de esquerda), não é só ser anti-Bush ou anti-Sharon ou o raio que nos parta a nós, os de esquerda. Fundamentalmente, que me desculpem, alguns, poucos, homens e mulheres de direita quase inteligentes, ser de esquerda é ser inteligente. Porque para mim é um atentado à inteligência, alguém, como um tal não sei quantos Melo, deputado do CDS (e da Nação), vir a público defender a nomeação de Celeste Cardona para administradora da CGD, com base no seu Curriculum. Não vou falar em milhões, nem em milhares, mas apenas em centenas de Curricula mais ricos que o de Celeste Cardona. E ao que consta, essas centenas não foram convidadas para administradores da CGD. Esse tal de Melo, é como a minha avó dizia, esperto. E como diz o povo “esperteza é a inteligência de um burro”.
600. Conto (V)
Os seios da jovem apresentavam-se hirtos. Os mamilos, de um castanho-escuro, pronunciado, destacavam-se da tez cor de mel do próprio peito. Olhando ao redor, nenhuma das fêmeas, diga-se em abono da verdade, bem mais idosas, tinha semelhanças com aquela. De resto, o homozigotismo não parecia ser a característica daquela variante da raça humana. Sem nunca deixar de se insinuar, pegou-me na mão e encaminhamo-nos para uma enxerga de vime, estrategicamente colocada, onde todos e cada um dos presentes poderiam observar-nos. Fiquei de joelhos em frente de um corpo estendido. Imotos. O jovem corpo feminino e eu próprio. O rapaz imberbe e nu, aproximou-se. Numa mão aportava uma folha de papiro que me apresentou e uma faca que mais parecia uma catana miniaturizada. Na outra, uma jaca. Passou-me a folha de papiro para as mãos e quase me obrigou a ler. A disposição dos caracteres, a fazerem-me lembrar línguas estranhas, códigos antigos, como que indecifráveis hieróglifos, tinha todo o aspecto de um hiopocraz. Fez-me entalar a jaca entre os dentes, a qual, instintivamente, mordi, no momento em que um corte fino no meu dedo indicador era perpetrado pelo próprio jovem. A dor aguda fez-me trincar a jaca em duas metades. O dedo, sangrando, foi-me feito colocar, como que assinando um testamento. Depois, virou as costas e foi tomar um dos dois lugares mais altos da plateia, ao lado do chefe da tribo. O hipocraz que um dos, aparentemente, súbditos de menor estatuto, me fez ingerir, seria feito, não da maneira convencional, pois em vez do costumeiro vinho na sua constituição, teria uma espécie de aguardente pura de alto teor alcoólico. A partir desse momento, apenas os seios da jovem concentravam a minha atenção.
(continua)
Os seios da jovem apresentavam-se hirtos. Os mamilos, de um castanho-escuro, pronunciado, destacavam-se da tez cor de mel do próprio peito. Olhando ao redor, nenhuma das fêmeas, diga-se em abono da verdade, bem mais idosas, tinha semelhanças com aquela. De resto, o homozigotismo não parecia ser a característica daquela variante da raça humana. Sem nunca deixar de se insinuar, pegou-me na mão e encaminhamo-nos para uma enxerga de vime, estrategicamente colocada, onde todos e cada um dos presentes poderiam observar-nos. Fiquei de joelhos em frente de um corpo estendido. Imotos. O jovem corpo feminino e eu próprio. O rapaz imberbe e nu, aproximou-se. Numa mão aportava uma folha de papiro que me apresentou e uma faca que mais parecia uma catana miniaturizada. Na outra, uma jaca. Passou-me a folha de papiro para as mãos e quase me obrigou a ler. A disposição dos caracteres, a fazerem-me lembrar línguas estranhas, códigos antigos, como que indecifráveis hieróglifos, tinha todo o aspecto de um hiopocraz. Fez-me entalar a jaca entre os dentes, a qual, instintivamente, mordi, no momento em que um corte fino no meu dedo indicador era perpetrado pelo próprio jovem. A dor aguda fez-me trincar a jaca em duas metades. O dedo, sangrando, foi-me feito colocar, como que assinando um testamento. Depois, virou as costas e foi tomar um dos dois lugares mais altos da plateia, ao lado do chefe da tribo. O hipocraz que um dos, aparentemente, súbditos de menor estatuto, me fez ingerir, seria feito, não da maneira convencional, pois em vez do costumeiro vinho na sua constituição, teria uma espécie de aguardente pura de alto teor alcoólico. A partir desse momento, apenas os seios da jovem concentravam a minha atenção.
(continua)
599. IST
O Henrique Silveira escreveu um interessante texto, entre o humor e alguma promoção pessoal (e porque não?), nomeadamente os seus dotes de rockeiro, mesmo que o “love me tender” não seja o mesmo que o “rock around the clock”. O Henrique encontra alunos e ex-alunos do Técnico por toda a parte e eu confirmo: É verdade! Infelizmente não são só encontráveis no LUX e nos restaurantes chineses. Felizmente, para o Henrique Silveira, que não tem que frequentemente passar pelos Centros de Emprego. Há muitos anos, também eu fui aluno do Técnico. Provavelmente, não sei bem qual é a idade do Henrique, quando eu saí de lá, talvez ele ainda nem pensasse em ir para o Técnico. Hoje, o Henrique, se me quiser conhecer, teria de ser, não professor no Técnico, mas talvez gestor de uma das empresas de “Executive Research” (qualquer uma delas), para onde envio, para algumas mais de uma vez, o meu CV, há dois anos consecutivos. Ou talvez nos encontremos um dia destes num curso de mergulho. Já vi pior. O Henrique deve também conhecer, pois no Técnico nunca se deixou de contar, aquela anedota, em que no circo o domador principiante, recém-licenciado do Técnico, enfrentava o feroz leão, que tirou a máscara e lhe disse: “Não tenhas medo, eu também sou do Técnico”.
O Henrique Silveira escreveu um interessante texto, entre o humor e alguma promoção pessoal (e porque não?), nomeadamente os seus dotes de rockeiro, mesmo que o “love me tender” não seja o mesmo que o “rock around the clock”. O Henrique encontra alunos e ex-alunos do Técnico por toda a parte e eu confirmo: É verdade! Infelizmente não são só encontráveis no LUX e nos restaurantes chineses. Felizmente, para o Henrique Silveira, que não tem que frequentemente passar pelos Centros de Emprego. Há muitos anos, também eu fui aluno do Técnico. Provavelmente, não sei bem qual é a idade do Henrique, quando eu saí de lá, talvez ele ainda nem pensasse em ir para o Técnico. Hoje, o Henrique, se me quiser conhecer, teria de ser, não professor no Técnico, mas talvez gestor de uma das empresas de “Executive Research” (qualquer uma delas), para onde envio, para algumas mais de uma vez, o meu CV, há dois anos consecutivos. Ou talvez nos encontremos um dia destes num curso de mergulho. Já vi pior. O Henrique deve também conhecer, pois no Técnico nunca se deixou de contar, aquela anedota, em que no circo o domador principiante, recém-licenciado do Técnico, enfrentava o feroz leão, que tirou a máscara e lhe disse: “Não tenhas medo, eu também sou do Técnico”.
quinta-feira, setembro 23, 2004
598. Carinho
- Olá filho da puta.
- Olá, meu querido, vejo que estás em plena forma.
- Tu também estás com bom ar, filho da puta.
- Faz-se pela vida. Quando mal nunca pior.
- Então o que é que vais fazer hoje, filho da puta?
- O costume quando o dia está bonito. Vou cheirar este Outono ainda Verão.
- Pena é que eu não possa sair daqui, filho da puta.
- Paciência rapaz. Os espelhos cá de casa são fixos.
(o meu espelho hoje estava demasiado carinhoso comigo. Chamou-me quatro vezes filho da puta. Cá para mim, admitiram-no na claque lá do clube - só nunca me tinha apercebido que o meu espelho era energúmeno).
aqui:
"sporting.pt - Algumas das reacções mais notadas e até algumas das mais insultuosas foram-lhe dirigidas directamente …
ADC - ... Com isso posso eu bem. Há muito que sei que entre energúmenos a expressão “filho da puta” é um termo carinhoso, eles até se tratam assim quando se abraçam."
- Olá filho da puta.
- Olá, meu querido, vejo que estás em plena forma.
- Tu também estás com bom ar, filho da puta.
- Faz-se pela vida. Quando mal nunca pior.
- Então o que é que vais fazer hoje, filho da puta?
- O costume quando o dia está bonito. Vou cheirar este Outono ainda Verão.
- Pena é que eu não possa sair daqui, filho da puta.
- Paciência rapaz. Os espelhos cá de casa são fixos.
(o meu espelho hoje estava demasiado carinhoso comigo. Chamou-me quatro vezes filho da puta. Cá para mim, admitiram-no na claque lá do clube - só nunca me tinha apercebido que o meu espelho era energúmeno).
aqui:
"sporting.pt - Algumas das reacções mais notadas e até algumas das mais insultuosas foram-lhe dirigidas directamente …
ADC - ... Com isso posso eu bem. Há muito que sei que entre energúmenos a expressão “filho da puta” é um termo carinhoso, eles até se tratam assim quando se abraçam."
597. Conto (IV)
Horas e horas sem me alimentar, atentava-me uma mesa assim. Não sabia a composição dos alimentos, mas isso não era importante. No entanto, permaneci imoto. Seria imperdoável tomar a iniciativa. Mais que imperdoável, inadequado e imbecil. O chefe tinha um aspecto rude, a atingir laivos de imane. Qualquer tentativa, mesmo que imaculada poderia ser considerada uma imisção nos costumes. Esperei. A cena que se seguiu é imperdível, mesmo para um observador externo. Dois jovens, um rapaz imberbe e uma moça implume, aproximaram-se, nus. Alguns dos indígenas desviaram-se abrindo caminho para o jovem par. O que se passou de seguida é, para um leigo nos costumes, inarrável. Como que impetrando, os olhos da rapariga dirigiram-se a mim. Não teria mais de 16 anos o que me começava a incomodar. Embora celibatário, qualquer relação que pudesse haver entre nós me pareceria ímpia. Mas, as circunstâncias, não me permitiriam impeticar com os anfitriões. Deu-me a mão e obrigou-me a levantar. Uma a uma, num ritual de sensualidade, retirou-me as vestes. Senti-me impotente para parar aquela espiral de emoções. Nunca fui casado, nunca tive filhos, mas qualquer acto que eu cometesse me acometia de incestuoso. Se alguém, da minha cultura, me visse, face a tão inusitados preparos, me acharia inábil. No entanto, o jogo iria continuar.
(continua)
Horas e horas sem me alimentar, atentava-me uma mesa assim. Não sabia a composição dos alimentos, mas isso não era importante. No entanto, permaneci imoto. Seria imperdoável tomar a iniciativa. Mais que imperdoável, inadequado e imbecil. O chefe tinha um aspecto rude, a atingir laivos de imane. Qualquer tentativa, mesmo que imaculada poderia ser considerada uma imisção nos costumes. Esperei. A cena que se seguiu é imperdível, mesmo para um observador externo. Dois jovens, um rapaz imberbe e uma moça implume, aproximaram-se, nus. Alguns dos indígenas desviaram-se abrindo caminho para o jovem par. O que se passou de seguida é, para um leigo nos costumes, inarrável. Como que impetrando, os olhos da rapariga dirigiram-se a mim. Não teria mais de 16 anos o que me começava a incomodar. Embora celibatário, qualquer relação que pudesse haver entre nós me pareceria ímpia. Mas, as circunstâncias, não me permitiriam impeticar com os anfitriões. Deu-me a mão e obrigou-me a levantar. Uma a uma, num ritual de sensualidade, retirou-me as vestes. Senti-me impotente para parar aquela espiral de emoções. Nunca fui casado, nunca tive filhos, mas qualquer acto que eu cometesse me acometia de incestuoso. Se alguém, da minha cultura, me visse, face a tão inusitados preparos, me acharia inábil. No entanto, o jogo iria continuar.
(continua)
quarta-feira, setembro 22, 2004
596. Quando não se responde…
- Recebeste o e-mail?
- Recebi
- E o que é que dizia?
(indiscreto o meu espelho, quer sempre saber de tudo; a minha vida íntima é só minha e não tenho que a partilhar; nem com o espelho)
- Recebeste o e-mail? – respondi.
(acho que o baralhei, finalmente começo a encontrar um jeito de me vingar)
- Um espelho não recebe e-mails – disse-me com algum desdém.
- Só te respondi – ripostei, sabendo que não estava a ser convincente e gozando na surra, a baralhação provocada.
(o espelho parou para reflectir, olhou para mim – nesse momento achei que ele já tinha percebido – e atirou-me como que provocando)
- Recebeste o e-mail? Só isso? E o que é que respondeste?
- Sim.
(virou-me as costas; fiquei sem perceber se ele pensou que o sim era uma resposta do meu e-mail ao outro e-mail, se sim era resposta à pouquez do conteúdo… vá lá a gente perceber os espelhos).
- Recebeste o e-mail?
- Recebi
- E o que é que dizia?
(indiscreto o meu espelho, quer sempre saber de tudo; a minha vida íntima é só minha e não tenho que a partilhar; nem com o espelho)
- Recebeste o e-mail? – respondi.
(acho que o baralhei, finalmente começo a encontrar um jeito de me vingar)
- Um espelho não recebe e-mails – disse-me com algum desdém.
- Só te respondi – ripostei, sabendo que não estava a ser convincente e gozando na surra, a baralhação provocada.
(o espelho parou para reflectir, olhou para mim – nesse momento achei que ele já tinha percebido – e atirou-me como que provocando)
- Recebeste o e-mail? Só isso? E o que é que respondeste?
- Sim.
(virou-me as costas; fiquei sem perceber se ele pensou que o sim era uma resposta do meu e-mail ao outro e-mail, se sim era resposta à pouquez do conteúdo… vá lá a gente perceber os espelhos).
595. Conto (III)
A idiossincrasia do que parecia ser o chefe do grupo, dado que todos os restantes pareciam idolatrá-lo, criou-me a ilusão que seria idóneo. Quando me desloquei a caminho do deserto, estava efectivamente convencido que o era. No entanto pequenos igarapés cortavam o terreno em quase todo o seu comprimento e em toda a sua largura criando malhas incomensuráveis de água, o que nos obrigou a dividir em ínfimos grupos de apenas três indivíduos, que mal cabíamos nas igaras estacionadas em fila. Chegamos finalmente a uma pequena ilha, ao fim de mais de 12 horas de viagem sem nada comermos. Apenas um gole de água, que um dos indígenas me ofereceu, por uma única vez. Quando chegamos, o meu aspecto apresentava-me como um ser ignóbil. A ilha estava iluminada aparentando uma igreja natural. De repente tive a sensação de me ter deixado iliçar. Ígneos archotes debruavam um caminho que me conduziria ao mais ignoto dos mundos. Eu que não era da igualha destes autóctones, estava a ser convidado a sentar-me à volta de uma mesa coberta das mais exóticas iguarias. Não arranjei coragem para ilidir. Só pensava se sairia dali ileso.
(continua)
A idiossincrasia do que parecia ser o chefe do grupo, dado que todos os restantes pareciam idolatrá-lo, criou-me a ilusão que seria idóneo. Quando me desloquei a caminho do deserto, estava efectivamente convencido que o era. No entanto pequenos igarapés cortavam o terreno em quase todo o seu comprimento e em toda a sua largura criando malhas incomensuráveis de água, o que nos obrigou a dividir em ínfimos grupos de apenas três indivíduos, que mal cabíamos nas igaras estacionadas em fila. Chegamos finalmente a uma pequena ilha, ao fim de mais de 12 horas de viagem sem nada comermos. Apenas um gole de água, que um dos indígenas me ofereceu, por uma única vez. Quando chegamos, o meu aspecto apresentava-me como um ser ignóbil. A ilha estava iluminada aparentando uma igreja natural. De repente tive a sensação de me ter deixado iliçar. Ígneos archotes debruavam um caminho que me conduziria ao mais ignoto dos mundos. Eu que não era da igualha destes autóctones, estava a ser convidado a sentar-me à volta de uma mesa coberta das mais exóticas iguarias. Não arranjei coragem para ilidir. Só pensava se sairia dali ileso.
(continua)
terça-feira, setembro 21, 2004
594. Vai uma bejeca?
"Desde a Antiguidade que se consome cerveja na Índia e na China. No Egipto Faraónico, a cerveja chegou a ser considerada bebida nacional e na Hispânia, o seu consumo era maciço. Contudo, os grandes bebedores de cerveja eram os Sumérios.Mas foi apenas no séc. XIII que surgiu um tipo de cerveja parecido com a que consumimos hoje. Este pequeno milagre foi conseguido por frades, graças à introdução do lúpulo como conservante.No séc. XV, a Alemanha fabrica a primeira cerveja ligeira, pouco fermentada, que desde a Baviera se foi estendendo ao resto da Europa.A cerveja manteve-se artesanal até 1860, quando Louis Pasteur, através dos seus trabalhos sobre fermentação da levedura, melhorou o processo de fabricação.No séc. XIX, surge em França uma cerveja local mais suave e sem álcool que deu origem a um moderno conceito de cerveja na década de 60: a Cerveja sem álcool."
In http://www.republicadacerveja.pt/html/cerv_historia.htm
Enquanto os meus dois amigos Serafim e Joca mordiscavam um pedaço de entrecosto, que o primeiro havia grelhado a preceito e, discutiam a quem haviam de dar vivas pela descoberta da cerveja, o Anastácio apareceu, com o seu ar de quem sempre tudo sabe e após escutá-los atentamente interveio:
- Pois eu cá, compadres, eu dou as minhas vivas aos brasileiros.
- Aos brasileiros???? – Perguntamos em uníssono, sem termos atingido o alcance da afirmação do Anastácio.
- Pois sim, homessa, aos brasileiros sim senhores.
- Ó compadre Anastácio, perguntava eu, calculando que dali não iria sair boa, mas diga-me lá vossemecê, o que é que os brasileiros têm a ver com a invenção da cerveja?
- Não é isso, compadre Vitor, não é nada disso. Eu dou vivas aos brasileiros por terem inventado a telenovela.
- Mas ó compadre, ripostou o Serafim, a gente está aqui discutindo quem teve mais mérito na invenção da cerveja e o compadre vem dar vivas aos brasileiros por causa da telenovela. Só você, compadre Anastácio, só você para desconversar.
- Mas qual desconversar, qual quê compadre Serafim. Então vossemecê não acha que quem todo o mérito são os nossos irmãos do lado de lá do Atlântico? Vejam vossemecês se eu não estou com a razão. Onde é que estão as comadres, vá lá, digam lá onde é que estão as comadres?
- Se calha lá dentro, vendo a telenovela, compadre – alvitrou o Joca.
- Pois é por isso mesmo que eu lhes dou vivas compadres. Enquanto as moças estão lá dentro distraídas com o romance, estão vossemecês aqui fora a virar cervejas atrás de cervejas, sem elas darem por nada. E a propósito, com menos conversa já eu bebia outra, que estou com a garganta seca.
In “À Mesa e no Quintal”, Alves Fernandes
"Desde a Antiguidade que se consome cerveja na Índia e na China. No Egipto Faraónico, a cerveja chegou a ser considerada bebida nacional e na Hispânia, o seu consumo era maciço. Contudo, os grandes bebedores de cerveja eram os Sumérios.Mas foi apenas no séc. XIII que surgiu um tipo de cerveja parecido com a que consumimos hoje. Este pequeno milagre foi conseguido por frades, graças à introdução do lúpulo como conservante.No séc. XV, a Alemanha fabrica a primeira cerveja ligeira, pouco fermentada, que desde a Baviera se foi estendendo ao resto da Europa.A cerveja manteve-se artesanal até 1860, quando Louis Pasteur, através dos seus trabalhos sobre fermentação da levedura, melhorou o processo de fabricação.No séc. XIX, surge em França uma cerveja local mais suave e sem álcool que deu origem a um moderno conceito de cerveja na década de 60: a Cerveja sem álcool."
In http://www.republicadacerveja.pt/html/cerv_historia.htm
Enquanto os meus dois amigos Serafim e Joca mordiscavam um pedaço de entrecosto, que o primeiro havia grelhado a preceito e, discutiam a quem haviam de dar vivas pela descoberta da cerveja, o Anastácio apareceu, com o seu ar de quem sempre tudo sabe e após escutá-los atentamente interveio:
- Pois eu cá, compadres, eu dou as minhas vivas aos brasileiros.
- Aos brasileiros???? – Perguntamos em uníssono, sem termos atingido o alcance da afirmação do Anastácio.
- Pois sim, homessa, aos brasileiros sim senhores.
- Ó compadre Anastácio, perguntava eu, calculando que dali não iria sair boa, mas diga-me lá vossemecê, o que é que os brasileiros têm a ver com a invenção da cerveja?
- Não é isso, compadre Vitor, não é nada disso. Eu dou vivas aos brasileiros por terem inventado a telenovela.
- Mas ó compadre, ripostou o Serafim, a gente está aqui discutindo quem teve mais mérito na invenção da cerveja e o compadre vem dar vivas aos brasileiros por causa da telenovela. Só você, compadre Anastácio, só você para desconversar.
- Mas qual desconversar, qual quê compadre Serafim. Então vossemecê não acha que quem todo o mérito são os nossos irmãos do lado de lá do Atlântico? Vejam vossemecês se eu não estou com a razão. Onde é que estão as comadres, vá lá, digam lá onde é que estão as comadres?
- Se calha lá dentro, vendo a telenovela, compadre – alvitrou o Joca.
- Pois é por isso mesmo que eu lhes dou vivas compadres. Enquanto as moças estão lá dentro distraídas com o romance, estão vossemecês aqui fora a virar cervejas atrás de cervejas, sem elas darem por nada. E a propósito, com menos conversa já eu bebia outra, que estou com a garganta seca.
In “À Mesa e no Quintal”, Alves Fernandes
593. Conto
Em tempos decidi escrever um conto neste blog. Mas devo ter-me esquecido. Só pode ter sido. Lembrei-me disso a conversar com uma amiga. Vou tentar recomeçar. Entretanto, deixo-vos com o bocadinho da prosa que tinha sido escrito antes.
Conto (I)
A disceptação teve o seu epílogo. Estava decidido. Como bom dendrófobo dirigir-me-ía para o deserto. Ele caminharia para os antípodas. Sentia-me fatigado de ser sempre apoucado nas minhas decisões. Assumiria de uma vez por todas o meu eremitismo. O badano, já cambado, haveria de suportar as duas ou três horas que me faltavam para chegar ao destino. Quando as adelfas e as carvalhinhas começaram a rarear nas margens do caminho, o dia abaçanava. A alimária alentecia e nem os golpes de butuca a fariam mover. Paramos. Coligi os escassos haveres, cobri-me com um bedém, com o qual me tinha abispado antes da partida, sentei-me ao velho jeito índio, pernas cruzadas uma sobre a outra e adormeci. A minha mente extenuada achapuçava-se de sonhos. Abentesmas albípedes, cujas restantes partes corporais se não viam, bandarreavam no meu espírito deixando-me azabumbado. Como seria possível em lugar tão ermo me sentir cercado. Acordei abruptamente. Autócnes de aspecto boçal faziam a festa. Nunca na vida tinham deparado com tão alva tez. Com as mãos enrugadas esbarbavam-me o capote como que se inteirando da minha condição de real.
Conto (II)
Os autócnes tinham um ar fúfio. As gaforinas não ajudavam à criação de uma imagem menos depreciativa. No entanto os pescoços exibiam fulgentes colares de estranho metal. Ensaiaram uma ginga em meu redor e tentaram comunicar. Não sei se por ter acordado no momento, os sons que emitiam eram-me ininteligíveis. A última vez que tinha escutado algo similar, foi de uns indígenas de Timor Oriental que tentaram ensinar-me o seu galóli. Tive medo que se tratassem de antropófagos preparando a funçanata. Num pequeno hiato de tempo, um deles de aspecto galhardo, apercebendo-se de que eu efectivamente não estava atinando com o seu linguarejar, ensaiou uma ideografia simples mas eficaz. Aí eu não tive coragem para ilidir. Aceitei de imediato. Era um convite para repasto. Seria?
(continua…)
Em tempos decidi escrever um conto neste blog. Mas devo ter-me esquecido. Só pode ter sido. Lembrei-me disso a conversar com uma amiga. Vou tentar recomeçar. Entretanto, deixo-vos com o bocadinho da prosa que tinha sido escrito antes.
Conto (I)
A disceptação teve o seu epílogo. Estava decidido. Como bom dendrófobo dirigir-me-ía para o deserto. Ele caminharia para os antípodas. Sentia-me fatigado de ser sempre apoucado nas minhas decisões. Assumiria de uma vez por todas o meu eremitismo. O badano, já cambado, haveria de suportar as duas ou três horas que me faltavam para chegar ao destino. Quando as adelfas e as carvalhinhas começaram a rarear nas margens do caminho, o dia abaçanava. A alimária alentecia e nem os golpes de butuca a fariam mover. Paramos. Coligi os escassos haveres, cobri-me com um bedém, com o qual me tinha abispado antes da partida, sentei-me ao velho jeito índio, pernas cruzadas uma sobre a outra e adormeci. A minha mente extenuada achapuçava-se de sonhos. Abentesmas albípedes, cujas restantes partes corporais se não viam, bandarreavam no meu espírito deixando-me azabumbado. Como seria possível em lugar tão ermo me sentir cercado. Acordei abruptamente. Autócnes de aspecto boçal faziam a festa. Nunca na vida tinham deparado com tão alva tez. Com as mãos enrugadas esbarbavam-me o capote como que se inteirando da minha condição de real.
Conto (II)
Os autócnes tinham um ar fúfio. As gaforinas não ajudavam à criação de uma imagem menos depreciativa. No entanto os pescoços exibiam fulgentes colares de estranho metal. Ensaiaram uma ginga em meu redor e tentaram comunicar. Não sei se por ter acordado no momento, os sons que emitiam eram-me ininteligíveis. A última vez que tinha escutado algo similar, foi de uns indígenas de Timor Oriental que tentaram ensinar-me o seu galóli. Tive medo que se tratassem de antropófagos preparando a funçanata. Num pequeno hiato de tempo, um deles de aspecto galhardo, apercebendo-se de que eu efectivamente não estava atinando com o seu linguarejar, ensaiou uma ideografia simples mas eficaz. Aí eu não tive coragem para ilidir. Aceitei de imediato. Era um convite para repasto. Seria?
(continua…)
sábado, setembro 18, 2004
592. Raposas ou velhas raposas
Eu gostava de saber escrever como o Sr. Carne. Infelizmente não nasci escritor, nem poeta, nem fui feito jornalista, pelo que a minha veia não chega a tanto. Fui mais talhado para ler disparates e, por mais que o grilo falante que há em mim me diga, ‘não sejas masoquista, não vás lá’, não evito as auto-agressões. Este tal de FA que escreve neste blog, é honestíssimo. Tal como agora defende a guerra às raposas, atendendo aos desempregados que o fim daquela actividade provocará, no Reino Unido, também terá escrito contra o fecho das fábricas de beterraba em Coruche, contra o fecho da Clark, contra o fecho Decantrofex, contra o fecho da Bombardier e terá escrito ou irá escrever um vastíssimo artigo contra o fecho da refinaria da Galp, em Leça. Ou então não…
PS. Pressuponho que o tal de FA irá contrapor ao fecho de todas as fábricas em Portugal, à instalação de algumas empresas subsidiárias da caça à raposa como sejam chouriço fumado de raposa, presunto de raposa, estolas e outros artefactos, comida para cães caçadores de raposa, armas e munições para espingardas de caça à raposa, casacas vermelhas de veludo, chapéus pretos… Ó meus amigos futuros ex-desempregados de todas estas fábricas em Portugal, o vosso futuro está garantido.
Eu gostava de saber escrever como o Sr. Carne. Infelizmente não nasci escritor, nem poeta, nem fui feito jornalista, pelo que a minha veia não chega a tanto. Fui mais talhado para ler disparates e, por mais que o grilo falante que há em mim me diga, ‘não sejas masoquista, não vás lá’, não evito as auto-agressões. Este tal de FA que escreve neste blog, é honestíssimo. Tal como agora defende a guerra às raposas, atendendo aos desempregados que o fim daquela actividade provocará, no Reino Unido, também terá escrito contra o fecho das fábricas de beterraba em Coruche, contra o fecho da Clark, contra o fecho Decantrofex, contra o fecho da Bombardier e terá escrito ou irá escrever um vastíssimo artigo contra o fecho da refinaria da Galp, em Leça. Ou então não…
PS. Pressuponho que o tal de FA irá contrapor ao fecho de todas as fábricas em Portugal, à instalação de algumas empresas subsidiárias da caça à raposa como sejam chouriço fumado de raposa, presunto de raposa, estolas e outros artefactos, comida para cães caçadores de raposa, armas e munições para espingardas de caça à raposa, casacas vermelhas de veludo, chapéus pretos… Ó meus amigos futuros ex-desempregados de todas estas fábricas em Portugal, o vosso futuro está garantido.
591. Livros
Subiamos a Avenida Nuno Álvares Pereira desde o antigo Liceu de Almada (hoje inexistente, mas onde fica a moderna Praça S. João Baptista), até ao Condestável. Ao lado uma pequena papelaria-livraria guardava, fora de montra, alguns livros proíbidos. Eu o o Zé Júlio eramos alguns dos, provavelmente, poucos compradores de obras "malditas". Lembrei-me disto, porque hoje vi na TV que em Viseu, as autoridades mandaram tirar um livro das montras. Só que a minha história, remonta a 1972! Para quando mandarem incendiar bibliotecas? Está na hora rapazes, está na hora. Os nazis demoraram menos tempo que vocês. Estão a perder-lhes aos pontos.
Subiamos a Avenida Nuno Álvares Pereira desde o antigo Liceu de Almada (hoje inexistente, mas onde fica a moderna Praça S. João Baptista), até ao Condestável. Ao lado uma pequena papelaria-livraria guardava, fora de montra, alguns livros proíbidos. Eu o o Zé Júlio eramos alguns dos, provavelmente, poucos compradores de obras "malditas". Lembrei-me disto, porque hoje vi na TV que em Viseu, as autoridades mandaram tirar um livro das montras. Só que a minha história, remonta a 1972! Para quando mandarem incendiar bibliotecas? Está na hora rapazes, está na hora. Os nazis demoraram menos tempo que vocês. Estão a perder-lhes aos pontos.
590. Antecipação...
Coloquei-lhe o post ontem, apenas por um erro no meu relógio. Hoje é que devia ter sido. Reparabenizo. E portanto, pode continuar a escutar a música. Feliz aniversário.
Coloquei-lhe o post ontem, apenas por um erro no meu relógio. Hoje é que devia ter sido. Reparabenizo. E portanto, pode continuar a escutar a música. Feliz aniversário.
sexta-feira, setembro 17, 2004
588. Velho
Perfil do candidato: Com experiência de mais de 5 anos em Business Intelligence. Capacidade para o desenvolvimento e geração de negócio Elevada experiência na gestão de equipas Elevada capacidade de análise e desenvolvimento de modelos conceptuais e funcionais Experiência na gestão de relacionamento com clientes Experiência na gestão de relacionamento com fornecedores Fluência falada e escrita em português e inglês, proactividade, disponibilidade para deslocações, gosto e apetência pelas actividades de I&D , capacidade de adaptação, facilidade de trabalhar em equipa e grande capacidade de análise e síntese.
“A KPI Solutions confirma a recepção da sua candidatura. Após análise curricular da mesma, comunica que o perfil apresentado não corresponde ao procurado no presente processo de recrutamento.
Manteremos o seu C.V. na nossa base de dados para consideração em futuras oportunidades.”
Sendo esta resposta uma autêntica aldrabice, não encontraram estes gajos outra maneira de me chamarem velho?
Perfil do candidato: Com experiência de mais de 5 anos em Business Intelligence. Capacidade para o desenvolvimento e geração de negócio Elevada experiência na gestão de equipas Elevada capacidade de análise e desenvolvimento de modelos conceptuais e funcionais Experiência na gestão de relacionamento com clientes Experiência na gestão de relacionamento com fornecedores Fluência falada e escrita em português e inglês, proactividade, disponibilidade para deslocações, gosto e apetência pelas actividades de I&D , capacidade de adaptação, facilidade de trabalhar em equipa e grande capacidade de análise e síntese.
“A KPI Solutions confirma a recepção da sua candidatura. Após análise curricular da mesma, comunica que o perfil apresentado não corresponde ao procurado no presente processo de recrutamento.
Manteremos o seu C.V. na nossa base de dados para consideração em futuras oportunidades.”
Sendo esta resposta uma autêntica aldrabice, não encontraram estes gajos outra maneira de me chamarem velho?
quinta-feira, setembro 16, 2004
586. Declaração
Eu, PreDatado Amaral de Sousa, declaro que sou incompetente. Não sei gerir o meu blog, uns dias faço 6 posts, outros não faço nenhum. Já tentei gerir isto com mais um compincha, mas andamos sempre às turras. Se o senhor ministro destas coisas, o tal de Blogão Feliz, me quiser despedir eu aceito. Mas tem de me passar para cá os meus 18.000 euritos por mês de reforma. É que parecendo que não eu já “trabalho” nisto há quase um ano.
Eu, PreDatado Amaral de Sousa, declaro que sou incompetente. Não sei gerir o meu blog, uns dias faço 6 posts, outros não faço nenhum. Já tentei gerir isto com mais um compincha, mas andamos sempre às turras. Se o senhor ministro destas coisas, o tal de Blogão Feliz, me quiser despedir eu aceito. Mas tem de me passar para cá os meus 18.000 euritos por mês de reforma. É que parecendo que não eu já “trabalho” nisto há quase um ano.
585. O álcool e os menores
Todas as semanas o LIDL manda pôr na minha caixa de correio uma publicação chamada “Dica” com publicidade às promoções da semana. Ao contrario de outros folhetos publicitários, este, trás alguns artigos interessantes, muitas das vezes fazendo eco do que algures já foi publicado noutra imprensa, mas que por ventura passam despercebidas a muita gente. A propósito de um pequeno texto sobre o consumo de álcool por menores, veio-me à memória um episódio que se passou comigo em 1992, na Califórnia. Na época, com 37 anos de idade, dirigi-me a um posto de combustível para comprar alguns maços de cigarros e um pack de cervejas. A funcionária, pediu-me, educadamente, a identificação para se certificar da minha idade. A venda pública de álcool (creio que de tabaco, também), era interdita a menores de 18 anos, o que me fez agradecer a simpatia da senhora, na óptica de quem se sentia elogiado por tal pedido. Ela explicou-me que, sem desconsiderar o, na altura, meu ar jovial, ela não tinha qualquer dúvida de que eu não tivesse menos de 18 anos. No entanto, como ela me explicou, se não me exigisse a identificação poderia ficar sujeita a que lhe fechassem o estabelecimento. Há aqui algum exagero na acção, quiçá algum fundamentalismo. Mas depois de ler o tal artigo na referida publicação, pergunto, quem fiscaliza a venda de bebidas alcoólicas a menores em Portugal? Eu próprio já o vi fazer e, sem ter qualquer responsabilidade oficial (que não moral), intervim, chamando a atenção do funcionário de uma bomba de gasolina. Era para o pai, respondeu o miúdo. O empregado, esse, ao menos, corou.
Todas as semanas o LIDL manda pôr na minha caixa de correio uma publicação chamada “Dica” com publicidade às promoções da semana. Ao contrario de outros folhetos publicitários, este, trás alguns artigos interessantes, muitas das vezes fazendo eco do que algures já foi publicado noutra imprensa, mas que por ventura passam despercebidas a muita gente. A propósito de um pequeno texto sobre o consumo de álcool por menores, veio-me à memória um episódio que se passou comigo em 1992, na Califórnia. Na época, com 37 anos de idade, dirigi-me a um posto de combustível para comprar alguns maços de cigarros e um pack de cervejas. A funcionária, pediu-me, educadamente, a identificação para se certificar da minha idade. A venda pública de álcool (creio que de tabaco, também), era interdita a menores de 18 anos, o que me fez agradecer a simpatia da senhora, na óptica de quem se sentia elogiado por tal pedido. Ela explicou-me que, sem desconsiderar o, na altura, meu ar jovial, ela não tinha qualquer dúvida de que eu não tivesse menos de 18 anos. No entanto, como ela me explicou, se não me exigisse a identificação poderia ficar sujeita a que lhe fechassem o estabelecimento. Há aqui algum exagero na acção, quiçá algum fundamentalismo. Mas depois de ler o tal artigo na referida publicação, pergunto, quem fiscaliza a venda de bebidas alcoólicas a menores em Portugal? Eu próprio já o vi fazer e, sem ter qualquer responsabilidade oficial (que não moral), intervim, chamando a atenção do funcionário de uma bomba de gasolina. Era para o pai, respondeu o miúdo. O empregado, esse, ao menos, corou.
quarta-feira, setembro 15, 2004
584. Schubert
A Melancia pediu, eu prometi, o Schubert concordou e ei-lo imponente à espera da tua Paloma, Melancia.
A Melancia pediu, eu prometi, o Schubert concordou e ei-lo imponente à espera da tua Paloma, Melancia.
583. De onde?
Da Grand Place em Bruxelas, ou sentado no Chez Lion a comer moules au frites, ou simplesmente recostado numa poltrona no seu gabinete de apoio a um comissário europeu. De dentro do museu do Louvre ou sentado à beira do Sena, portátil no colo e GPRS activo. Ou talvez das escadarias de Monmartre. Do Castelo dos Mouros em Sintra, do Miradouro de Santa Luzia, da praia do Furadouro, do alto da Senhora da Graça, da Praia da Luz, em Lagos ou do cabo da Roca. Até do Pulo do Lobo, da Tapada da Mina de S. Domingos, das termas de Monfortinho e do miradouro de Almada. De uma rua em Toronto, da ilha de Bali na Indonésia, de Tokyo e de Kyoto, de Beijing ou Xangai ou sentados nas ameias da Grande Muralha. Comendo caviar em Sebastopol. De Bucareste, de Varsóvia, de Budapeste, de Praga, de Baku, de Kiev, de Tallin, de S. Petersburgo, de Novorosisky. Sentado numa cadeira do Bolshoi no intervalo de uma peça. Do New London Theatre, de qualquer teatro de Edinburgh, do Scalla em Milano, de um bar algures no Bairro Alto, de uma discoteca na 24 de Julho. A comer jaquinzinhos numa tasca em Cacilhas, ou caldeirada num restaurante em Sesimbra. Do Leu em Setúbal entre um pedaço de choco frito e uma garfada de salada mista. Da Ilha do Mel no Paraná, de Francisco Noronha ou do Morro de S. Paulo. De Salvador, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife, S. Luís do Maranhão. Do Pantanal, de Manaus, da Foz do Iguaçu. De Buenos Aires, Santiago, La Paz, Lima. De Marrakech, Tunes, Argel, Cairo, Lagos, Mogadíscio, Lusaca, Nuaquexote, Bissau, Luanda, Maputo, Dili. Da Plaza Mayor, em Madrid, enquanto saboreiam um cocinillo na Antiga Casa Botin, ou das Ramblas em Barcelona. Da praia de S. João na Caparica, do meio de um piquenique nas dunas da Fonta da Telha, da linha do Estoril e da linha de Sintra. Do Castelo de Palmela. Deixando de lado aquela presa de entrecosto num Cozido à Portuguesa em canal Caveira. Dos corredores do Parlamento Europeu, ou de uma torre na avenida Paulista. De Nova Iorque, dentro do elevador no 81º andar do Empire State Building. De Long Beach e de Sacramento. Desfrutando os maravilhosos sons de Niagara Falls ou de Saint Souce Marie no Michigan. De todos os cantos do mundo elas e eles, as minhas amigas leitoras e os meus amigos leitores vieram aqui passar uns momentos com o PreDatado. Por isso foram 15.000, as visitas que me fizeram. Eu escrevo neste blog porque gosto. Mas escrevo, fundamentalmente, para vocês. Obrigado pelo apoio e pelo incentivo. Bem hajam!
PS. O Schubert disse-me que também vieram da Gatolândia. Fica aqui a adenda. Justa.
Da Grand Place em Bruxelas, ou sentado no Chez Lion a comer moules au frites, ou simplesmente recostado numa poltrona no seu gabinete de apoio a um comissário europeu. De dentro do museu do Louvre ou sentado à beira do Sena, portátil no colo e GPRS activo. Ou talvez das escadarias de Monmartre. Do Castelo dos Mouros em Sintra, do Miradouro de Santa Luzia, da praia do Furadouro, do alto da Senhora da Graça, da Praia da Luz, em Lagos ou do cabo da Roca. Até do Pulo do Lobo, da Tapada da Mina de S. Domingos, das termas de Monfortinho e do miradouro de Almada. De uma rua em Toronto, da ilha de Bali na Indonésia, de Tokyo e de Kyoto, de Beijing ou Xangai ou sentados nas ameias da Grande Muralha. Comendo caviar em Sebastopol. De Bucareste, de Varsóvia, de Budapeste, de Praga, de Baku, de Kiev, de Tallin, de S. Petersburgo, de Novorosisky. Sentado numa cadeira do Bolshoi no intervalo de uma peça. Do New London Theatre, de qualquer teatro de Edinburgh, do Scalla em Milano, de um bar algures no Bairro Alto, de uma discoteca na 24 de Julho. A comer jaquinzinhos numa tasca em Cacilhas, ou caldeirada num restaurante em Sesimbra. Do Leu em Setúbal entre um pedaço de choco frito e uma garfada de salada mista. Da Ilha do Mel no Paraná, de Francisco Noronha ou do Morro de S. Paulo. De Salvador, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife, S. Luís do Maranhão. Do Pantanal, de Manaus, da Foz do Iguaçu. De Buenos Aires, Santiago, La Paz, Lima. De Marrakech, Tunes, Argel, Cairo, Lagos, Mogadíscio, Lusaca, Nuaquexote, Bissau, Luanda, Maputo, Dili. Da Plaza Mayor, em Madrid, enquanto saboreiam um cocinillo na Antiga Casa Botin, ou das Ramblas em Barcelona. Da praia de S. João na Caparica, do meio de um piquenique nas dunas da Fonta da Telha, da linha do Estoril e da linha de Sintra. Do Castelo de Palmela. Deixando de lado aquela presa de entrecosto num Cozido à Portuguesa em canal Caveira. Dos corredores do Parlamento Europeu, ou de uma torre na avenida Paulista. De Nova Iorque, dentro do elevador no 81º andar do Empire State Building. De Long Beach e de Sacramento. Desfrutando os maravilhosos sons de Niagara Falls ou de Saint Souce Marie no Michigan. De todos os cantos do mundo elas e eles, as minhas amigas leitoras e os meus amigos leitores vieram aqui passar uns momentos com o PreDatado. Por isso foram 15.000, as visitas que me fizeram. Eu escrevo neste blog porque gosto. Mas escrevo, fundamentalmente, para vocês. Obrigado pelo apoio e pelo incentivo. Bem hajam!
PS. O Schubert disse-me que também vieram da Gatolândia. Fica aqui a adenda. Justa.
terça-feira, setembro 14, 2004
582. Ser pai é,
- Ficar a tomar conta do puto, mudar-lhe a fralda e quando a mãe chega ele estar borrado até ao pescoço;
- Carregar com os vinte sacos do supermercado escada a cima, porque ele prefere o colo da mãe;
- Tentar convencê-los a ser do Benfica e ela preferir o Sporting, cedendo à chantagem da mama;
- Tirar do carro, armar o carrinho, tirá-los dos braços da mãe, pô-los no carrinho, apertar os cintos, empurrar o carrinho, dá-los para os braços da mãe, fechar o carrinho, meter o carrinho no carro;
- Ter a certeza que eles disseram primeiro papá do que mamã;
- Dizer estremunhado e virado para o outro lado “vê lá se acordas que a menina parece que está a chorar”;
- Dar-lhes um beijo antes de sair para o emprego, outro quando chega, afagar-lhes a cabeça e ficar a rezar para que ao Sábado ou ao Domingo eles não perguntem “mãe, este senhor que vem cá aos fins-de-semana é que é o pai?”
- Poder dizer “o teu filho já fez merda” quando eles fazem asneira e poder dizer “o meu filho é fixe”, quando eles fazem coisas boas;
- Não perceber porque é que a prancha de surf do ano passado já não serve; será que as ondas cresceram?
- Ampliar os armários da filha porque os cento e vinte pares de sapatos, chinelas, saias, blusas, vestidos, cuecas, soutiens e o diabo a sete, já não cabem no guarda-roupa;
- Pegar no berbequim, furar e apertar parafusos porque é preciso colocar os suportes da viola;
- Pagar as quotas do Sporting à filha, quando aquele dinheirinho era bem mais empregue numas jolas;
- Fazer-lhe o nó da primeira gravata;
- Dar uma de cota e explicar porque é que não quer que ele use brinco, porque é que não quer que ele use piercings, porque é que não quer que ele faça tatuagens.
- Emprestar-lhes o carro sempre que eles pedem e dar-lhes a chave mesmo quando eles não pedem, para poder ficar a sós com a mãe;
- Ter de ouvir rock punk hardcore em volume 17, quando está sentado no sofá a ler o jornal do fim-de-semana passado;
- Ficar babadinho até aos pés quando ela se licencia ou quando ele entra na universidade;
- Amar uma mulher que foi capaz de fazer as outras oitocentas e quarenta e duas coisas, aqui não relatadas e, que só ela “sabe” fazer.
(este post é dedicado à vieira do mar e por ricochete à papoila)
- Ficar a tomar conta do puto, mudar-lhe a fralda e quando a mãe chega ele estar borrado até ao pescoço;
- Carregar com os vinte sacos do supermercado escada a cima, porque ele prefere o colo da mãe;
- Tentar convencê-los a ser do Benfica e ela preferir o Sporting, cedendo à chantagem da mama;
- Tirar do carro, armar o carrinho, tirá-los dos braços da mãe, pô-los no carrinho, apertar os cintos, empurrar o carrinho, dá-los para os braços da mãe, fechar o carrinho, meter o carrinho no carro;
- Ter a certeza que eles disseram primeiro papá do que mamã;
- Dizer estremunhado e virado para o outro lado “vê lá se acordas que a menina parece que está a chorar”;
- Dar-lhes um beijo antes de sair para o emprego, outro quando chega, afagar-lhes a cabeça e ficar a rezar para que ao Sábado ou ao Domingo eles não perguntem “mãe, este senhor que vem cá aos fins-de-semana é que é o pai?”
- Poder dizer “o teu filho já fez merda” quando eles fazem asneira e poder dizer “o meu filho é fixe”, quando eles fazem coisas boas;
- Não perceber porque é que a prancha de surf do ano passado já não serve; será que as ondas cresceram?
- Ampliar os armários da filha porque os cento e vinte pares de sapatos, chinelas, saias, blusas, vestidos, cuecas, soutiens e o diabo a sete, já não cabem no guarda-roupa;
- Pegar no berbequim, furar e apertar parafusos porque é preciso colocar os suportes da viola;
- Pagar as quotas do Sporting à filha, quando aquele dinheirinho era bem mais empregue numas jolas;
- Fazer-lhe o nó da primeira gravata;
- Dar uma de cota e explicar porque é que não quer que ele use brinco, porque é que não quer que ele use piercings, porque é que não quer que ele faça tatuagens.
- Emprestar-lhes o carro sempre que eles pedem e dar-lhes a chave mesmo quando eles não pedem, para poder ficar a sós com a mãe;
- Ter de ouvir rock punk hardcore em volume 17, quando está sentado no sofá a ler o jornal do fim-de-semana passado;
- Ficar babadinho até aos pés quando ela se licencia ou quando ele entra na universidade;
- Amar uma mulher que foi capaz de fazer as outras oitocentas e quarenta e duas coisas, aqui não relatadas e, que só ela “sabe” fazer.
(este post é dedicado à vieira do mar e por ricochete à papoila)
581. Orçamentos
- Olá, bem disposto?
- Cansado, mas feliz!
- Porquê tanta felicidade?
(o meu espelho, hoje nem estranhou de eu cortar a barba às 9h30; apenas reparou no meu ar de felicidade)
- Então não leste o meu post de baixo?
- Li sim, mas isso deixa-te feliz?
- Claro, os gajos tiveram que pagar 2 euros e meio, enquanto que eu só paguei 2 euros!
- Toma que já almoçaram!
(agora foi o meu espelho que exagerou. Eu posso estar feliz, mas não uso expressões tão popularuchas assim)
- E que me contas mais? – (insistiu)
- E agora meu querido espelho é que vão ser elas cá em casa!
- Cá em casa? O que é que cá em casa tem a ver com os Espíritos Santos? Viraste católico?
(eu não aguento isto. O espelho a fazer trocadilhos de mau gosto. Um gajo a falar a sério e ele sempre com piadinhas de algibeira. Estive quase para lhe virar as costas, mas..)
- Sim cá em casa; O João vai passar a pagar uma taxa por cada iogurte que comer. O mesmo vou fazer à Anita, nem que ela rejeite o jantar por achar que está gorda. Leva com um imposto-sobre-o-desperdício. E a Maria, se a apanho a comer uma torrada com manteiga, ao pequeno almoço, leva com a taxa-sobre- produtos-que-podem-causar-colestetrol. E no fim do ano vão passar a fazer uma declaração mod. 33, para pagarem o ISGED e o ISGPQNVAD.
. Que impostos são esses?!!!!
(desta vez admiti-lhe a interrogação pasmada que fez; de facto são dois novos impostos familiares, dos quais ele não tem conhecimento prévio. Ainda estão em estudo e só serão discutidos, cá em casa, no próximo plenário à mesa de jantar)
- Imposto-Sobre-Gastos-Em-Discotecas e Imposto-Sobre-Gastos-Para-Quem-Não-Vai-A-Discotecas.
- Ó Pré! (como é carinhoso o meu espelho, quando me trata por Pré). Tu levaste mesmo a sério aquela coisa do Bagão dizer que o Orçamento de Estado é como o Orçamento Familiar, não levaste?
- Olá, bem disposto?
- Cansado, mas feliz!
- Porquê tanta felicidade?
(o meu espelho, hoje nem estranhou de eu cortar a barba às 9h30; apenas reparou no meu ar de felicidade)
- Então não leste o meu post de baixo?
- Li sim, mas isso deixa-te feliz?
- Claro, os gajos tiveram que pagar 2 euros e meio, enquanto que eu só paguei 2 euros!
- Toma que já almoçaram!
(agora foi o meu espelho que exagerou. Eu posso estar feliz, mas não uso expressões tão popularuchas assim)
- E que me contas mais? – (insistiu)
- E agora meu querido espelho é que vão ser elas cá em casa!
- Cá em casa? O que é que cá em casa tem a ver com os Espíritos Santos? Viraste católico?
(eu não aguento isto. O espelho a fazer trocadilhos de mau gosto. Um gajo a falar a sério e ele sempre com piadinhas de algibeira. Estive quase para lhe virar as costas, mas..)
- Sim cá em casa; O João vai passar a pagar uma taxa por cada iogurte que comer. O mesmo vou fazer à Anita, nem que ela rejeite o jantar por achar que está gorda. Leva com um imposto-sobre-o-desperdício. E a Maria, se a apanho a comer uma torrada com manteiga, ao pequeno almoço, leva com a taxa-sobre- produtos-que-podem-causar-colestetrol. E no fim do ano vão passar a fazer uma declaração mod. 33, para pagarem o ISGED e o ISGPQNVAD.
. Que impostos são esses?!!!!
(desta vez admiti-lhe a interrogação pasmada que fez; de facto são dois novos impostos familiares, dos quais ele não tem conhecimento prévio. Ainda estão em estudo e só serão discutidos, cá em casa, no próximo plenário à mesa de jantar)
- Imposto-Sobre-Gastos-Em-Discotecas e Imposto-Sobre-Gastos-Para-Quem-Não-Vai-A-Discotecas.
- Ó Pré! (como é carinhoso o meu espelho, quando me trata por Pré). Tu levaste mesmo a sério aquela coisa do Bagão dizer que o Orçamento de Estado é como o Orçamento Familiar, não levaste?
580. Diferenciação positiva
Acabei de chegar do Centro de Saúde do Laranjeiro. Hoje estou feliz! Apesar de termos estado desde as 6 da manhã à chuva, na fila para marcar uma consulta, lá estive em amena cavaqueira com o Ricardo Espirito Santo Salgado, o Américo Amorim, o Belmiro de Azevedo e o não sei quantos de Mello (com dois éles, sim, com dois éles). Todos ali, na fila indiferentes à humidade da madrugada, para marcarmos as nossas consultazinhas. E toma! Eles pagaram uma taxa moderadora muito mais alta que eu.
(o Bagão, passou de carro e cumprimentou-nos; acho que não ficou nada admirado de ver gente tão rica num Centro de Saúde)
Acabei de chegar do Centro de Saúde do Laranjeiro. Hoje estou feliz! Apesar de termos estado desde as 6 da manhã à chuva, na fila para marcar uma consulta, lá estive em amena cavaqueira com o Ricardo Espirito Santo Salgado, o Américo Amorim, o Belmiro de Azevedo e o não sei quantos de Mello (com dois éles, sim, com dois éles). Todos ali, na fila indiferentes à humidade da madrugada, para marcarmos as nossas consultazinhas. E toma! Eles pagaram uma taxa moderadora muito mais alta que eu.
(o Bagão, passou de carro e cumprimentou-nos; acho que não ficou nada admirado de ver gente tão rica num Centro de Saúde)
segunda-feira, setembro 13, 2004
579. Sou uma Estrela
Por sugestão do blog da minha amiga Pê, fiz o quiz e sou:
You are the Star card. The Star is the light of
hope. Shining in the night, sending light into
darkness, the stars provide direction to
sailors and are a field on which to dream.
Humanity used to look up at the sky and desire
to be there, to find out what it all meant, and
now we have been a distance into space and have
elementary ideas of the makeup of all the
different stars. This kind of achievement adds
further fuel to our hopes. The eternal,
slow-moving stars that will be long shining
past the end of our own existence provide hope
of immortality, and the vast space they suggest
and the very mystery they hold provide us with
excitement and knowledge yet to be discovered.
Image from: Danielle Sylvie Taylor
http://members.limitless.org/~morpheum/gallery.html
Which Tarot Card Are You?
brought to you by Quizilla
Não está nada mal, não senhor.
- Ó Pre estás um bocado abichanado na foto, confessa!
( o meu espelho não tem tento na língua)
- Lá estás tu... hoje não estou para te aturar. Amanhã conversamos.
Por sugestão do blog da minha amiga Pê, fiz o quiz e sou:
You are the Star card. The Star is the light of
hope. Shining in the night, sending light into
darkness, the stars provide direction to
sailors and are a field on which to dream.
Humanity used to look up at the sky and desire
to be there, to find out what it all meant, and
now we have been a distance into space and have
elementary ideas of the makeup of all the
different stars. This kind of achievement adds
further fuel to our hopes. The eternal,
slow-moving stars that will be long shining
past the end of our own existence provide hope
of immortality, and the vast space they suggest
and the very mystery they hold provide us with
excitement and knowledge yet to be discovered.
Image from: Danielle Sylvie Taylor
http://members.limitless.org/~morpheum/gallery.html
Which Tarot Card Are You?
brought to you by Quizilla
Não está nada mal, não senhor.
- Ó Pre estás um bocado abichanado na foto, confessa!
( o meu espelho não tem tento na língua)
- Lá estás tu... hoje não estou para te aturar. Amanhã conversamos.
578. JanMarri Viãzici!
Ontem (e anteontem) fui visitar o Alentejo da minha Maria. A Tapada da Mina estava deliciosa, as águas claríssimas e, a temperatura, simplesmente de convidar a não sair. Além da banhoca, ainda deu para dormir uma soneca ao sol velado pelas ramagens de eucaliptos. Nesta época tem mais beleza, pois está menos cheia de gente e podemo-nos afundar no sono sem ser embalados por aquela “algarviada” de franciú misturado com alentejano.
Ontem (e anteontem) fui visitar o Alentejo da minha Maria. A Tapada da Mina estava deliciosa, as águas claríssimas e, a temperatura, simplesmente de convidar a não sair. Além da banhoca, ainda deu para dormir uma soneca ao sol velado pelas ramagens de eucaliptos. Nesta época tem mais beleza, pois está menos cheia de gente e podemo-nos afundar no sono sem ser embalados por aquela “algarviada” de franciú misturado com alentejano.
577. Juro que não sou supersticioso
A propósito de nada lembro-me de histórias. Passo alguns bons bocados do meu tempo no escritório do meu amigo Rocha. Num desses dias, ele convidou-me a visitar um navio e, como é das normas de segurança e protecção pessoal, ele ofereceu-me umas luvas. Deixei-as em cima de uma secretária que costumo utilizar quando vou ao escritório. Um dia destes as instalações foram assaltadas. Vidros partidos, gavetas e armários revoltos, coisas pelo chão e outras que “voaram”. Vieram as autoridades, espalharam por aqui e por acolá o produto e… não havia impressões digitais. Sabemos quanto os ladrões, hoje em dia, são prevenidos. Alguns dias depois, no balanço do falta não falta, entre muitíssimas outras coisas, faltavam, também, as minhas luvas. Não bastava o jardineiro ter deixado a escada, com que sobe às árvores, à mão de semear, quanto mais eu deixar as luvas prontinhas a não deixar vestígios. Hoje, olhei para cima da secretária e vi que estavam lá umas luvas novas. Corri à janela para ver se o jardineiro tinha guardado as escadas. Não vá o diabo tecê-las.
A propósito de nada lembro-me de histórias. Passo alguns bons bocados do meu tempo no escritório do meu amigo Rocha. Num desses dias, ele convidou-me a visitar um navio e, como é das normas de segurança e protecção pessoal, ele ofereceu-me umas luvas. Deixei-as em cima de uma secretária que costumo utilizar quando vou ao escritório. Um dia destes as instalações foram assaltadas. Vidros partidos, gavetas e armários revoltos, coisas pelo chão e outras que “voaram”. Vieram as autoridades, espalharam por aqui e por acolá o produto e… não havia impressões digitais. Sabemos quanto os ladrões, hoje em dia, são prevenidos. Alguns dias depois, no balanço do falta não falta, entre muitíssimas outras coisas, faltavam, também, as minhas luvas. Não bastava o jardineiro ter deixado a escada, com que sobe às árvores, à mão de semear, quanto mais eu deixar as luvas prontinhas a não deixar vestígios. Hoje, olhei para cima da secretária e vi que estavam lá umas luvas novas. Corri à janela para ver se o jardineiro tinha guardado as escadas. Não vá o diabo tecê-las.
sábado, setembro 11, 2004
575. Luto
Obviamente, hoje estou de luto. Estou de luto há três anos... ou mais. Se é verdade que Bin Laden me ofereceu o fato preto, também não é menos verdade que a camisa, a gravata, as meias e até os sapatos me foram oferecidos por outros. Peço desculpa se não vou aqui recordar todos os que me ofereceram tão negras vestes, mas não posso deixar de referir Bush, Sharon, Putin...
Obviamente, hoje estou de luto. Estou de luto há três anos... ou mais. Se é verdade que Bin Laden me ofereceu o fato preto, também não é menos verdade que a camisa, a gravata, as meias e até os sapatos me foram oferecidos por outros. Peço desculpa se não vou aqui recordar todos os que me ofereceram tão negras vestes, mas não posso deixar de referir Bush, Sharon, Putin...
sexta-feira, setembro 10, 2004
574. Schubert...
Vou passar o fim de semana ao Alentejo, mas desta vez não te levo comigo. Sabes, meu querido, tu estás na idade de andar às gatas e nós estamos com receio que vás atrás de alguma e te esqueças do caminho de volta (lembras-te daquele gajo que saiu para comprar tabaco e só voltou ao fim de 20 anos?). Ou que te aconteça algo. Mas não vais ficar abandonado. A Fátima vem cá pelo menos duas vezes por dia visitar-te e dar-te de comer. Eu sei que vais estranhar a falta de companhia. Eu ainda nem saí de casa e já estou a sentir a tua falta. Mas a vida é assim meu caro gato. Há pessoas que abandonam animais, há pessoas que abandonam pessoas. Nós voltaremos para te mimar dentro de 48 horas. É só um instantinho.
Vou passar o fim de semana ao Alentejo, mas desta vez não te levo comigo. Sabes, meu querido, tu estás na idade de andar às gatas e nós estamos com receio que vás atrás de alguma e te esqueças do caminho de volta (lembras-te daquele gajo que saiu para comprar tabaco e só voltou ao fim de 20 anos?). Ou que te aconteça algo. Mas não vais ficar abandonado. A Fátima vem cá pelo menos duas vezes por dia visitar-te e dar-te de comer. Eu sei que vais estranhar a falta de companhia. Eu ainda nem saí de casa e já estou a sentir a tua falta. Mas a vida é assim meu caro gato. Há pessoas que abandonam animais, há pessoas que abandonam pessoas. Nós voltaremos para te mimar dentro de 48 horas. É só um instantinho.
573. Produtividade
Eu escrevi isto num comentário ao blog da Ana. Assim, de repente, apeteceu-me copiar para aqui. Só um incorrígivel produtivo.
"Eu estou desempregado há 2 anos. Já produzi 24 meses de inactividade. O que é obra! Pela teoria do primeiro ministro eu terei direito a um bom aumento... de tempo de desemprego. Esperam-me mais 15 anos assim? "
(a propósito dos aumentos segundo a produtividade)
Eu escrevi isto num comentário ao blog da Ana. Assim, de repente, apeteceu-me copiar para aqui. Só um incorrígivel produtivo.
"Eu estou desempregado há 2 anos. Já produzi 24 meses de inactividade. O que é obra! Pela teoria do primeiro ministro eu terei direito a um bom aumento... de tempo de desemprego. Esperam-me mais 15 anos assim? "
(a propósito dos aumentos segundo a produtividade)
572. À queima-roupa
O Sr. Carne publicou este post:
E disse-lhe a tia, à queima roupa:
"Olha, meu filho, a verdade é só uma: Um homem só é homem quando tem uma mulher!..."
# posted by carne @ 11:04 AM
E eu pergunto à referida tia: E se tiver duas? Ou mais? não é homem?
________
Um dia ouvi de um humorista brasileiro:
"Meu filho, você me pergunta quando é que você será um homem. Meu filho, pense, quando você jogar suas mãos nas suas partes baixas e você sentir, com nitidez, duas bolas, bem cheias, então, meu querido, aí você é um homem. Mas cuidado, porque se você achar quatro bolas, não pense que é o super-homem, não!"
O Sr. Carne publicou este post:
E disse-lhe a tia, à queima roupa:
"Olha, meu filho, a verdade é só uma: Um homem só é homem quando tem uma mulher!..."
# posted by carne @ 11:04 AM
E eu pergunto à referida tia: E se tiver duas? Ou mais? não é homem?
________
Um dia ouvi de um humorista brasileiro:
"Meu filho, você me pergunta quando é que você será um homem. Meu filho, pense, quando você jogar suas mãos nas suas partes baixas e você sentir, com nitidez, duas bolas, bem cheias, então, meu querido, aí você é um homem. Mas cuidado, porque se você achar quatro bolas, não pense que é o super-homem, não!"
571. Almoço animado
Hoje tive um almoço bastante animado. Não, amigas leitoras e amigos leitores, não é o que vós pensais. Não foi do álcool, até porque este vosso amigo agora dedicou-se às águas minerais e seus derivados. Entenda-se por derivados todas as bebidas que precisam do precioso líquido para se constituírem, como por exemplo o Capilé. Falou-se em reforma e na possibilidade de um indivíduo poder ser reformado se uma junta médica o considerasse gagá de todo. Estava eu a tentar congeminar uma táctica que me pudesse ser útil neste desiderato, quando um amigo meu me sugeriu: ‘porque é que não nomeias o Santana Lopes como primeiro-ministro?’ Terias a reforma garantida.
Mas ao almoço falou-se de mais coisas. Na reintegração das minorias étnicas. Na possibilidade de recuperarmos os trinta e tal anos de atraso que temos em relação a outros países acolhedores de emigrantes. O mesmo amigo achou que se deveria eleger Pinto da Costa para chefe do governo. Ele venderia 10 ao Chelsea, 8 ao Barcelona, alguns ao Manchester, quiçá ao Real Madrid. Em breve teríamos um número bem mais fácil de gerir. E equilibrávamos a balança de transações. Em alternativa, sugeriu que se denunciasse que todas as gajas que pertencessem às minorias fazem aborto. Aí o Paulo Portas mandava um tanque de guerra, um submarino ou um F-16 para a porta delas e elas seriam obrigadas a voltar para casa. Os gajos, naturalmente, acompanharem.
Falamos também das eleições para secretário-geral do PS. E fizemos apostas. A única dúvida, que o meu amigo tinha, era entre o poder da comunidade gay e o da comunidade maçónica. Convenhamos que não percebi nada do que ele queria dizer. Se alguém me puder ajudar, agradeço.
Finalmente, e já cheios de capilés, uns e, de groselhas, outros, não conseguimos especular sobre qual seria o próximo juiz de turno que iria anular todas as decisões dos anteriores no processo da Casa Pia. Pudera. Ele com quatro groselhas no bucho e eu com três capilés já não tínhamos discernimento para falar da Justiça em Portugal. Andamos todos bêbados, é o que é.
Hoje tive um almoço bastante animado. Não, amigas leitoras e amigos leitores, não é o que vós pensais. Não foi do álcool, até porque este vosso amigo agora dedicou-se às águas minerais e seus derivados. Entenda-se por derivados todas as bebidas que precisam do precioso líquido para se constituírem, como por exemplo o Capilé. Falou-se em reforma e na possibilidade de um indivíduo poder ser reformado se uma junta médica o considerasse gagá de todo. Estava eu a tentar congeminar uma táctica que me pudesse ser útil neste desiderato, quando um amigo meu me sugeriu: ‘porque é que não nomeias o Santana Lopes como primeiro-ministro?’ Terias a reforma garantida.
Mas ao almoço falou-se de mais coisas. Na reintegração das minorias étnicas. Na possibilidade de recuperarmos os trinta e tal anos de atraso que temos em relação a outros países acolhedores de emigrantes. O mesmo amigo achou que se deveria eleger Pinto da Costa para chefe do governo. Ele venderia 10 ao Chelsea, 8 ao Barcelona, alguns ao Manchester, quiçá ao Real Madrid. Em breve teríamos um número bem mais fácil de gerir. E equilibrávamos a balança de transações. Em alternativa, sugeriu que se denunciasse que todas as gajas que pertencessem às minorias fazem aborto. Aí o Paulo Portas mandava um tanque de guerra, um submarino ou um F-16 para a porta delas e elas seriam obrigadas a voltar para casa. Os gajos, naturalmente, acompanharem.
Falamos também das eleições para secretário-geral do PS. E fizemos apostas. A única dúvida, que o meu amigo tinha, era entre o poder da comunidade gay e o da comunidade maçónica. Convenhamos que não percebi nada do que ele queria dizer. Se alguém me puder ajudar, agradeço.
Finalmente, e já cheios de capilés, uns e, de groselhas, outros, não conseguimos especular sobre qual seria o próximo juiz de turno que iria anular todas as decisões dos anteriores no processo da Casa Pia. Pudera. Ele com quatro groselhas no bucho e eu com três capilés já não tínhamos discernimento para falar da Justiça em Portugal. Andamos todos bêbados, é o que é.
quinta-feira, setembro 09, 2004
570. Mais coisas
- Eu às vezes penso. Hoje dei comigo a pensar, no atentado de Jacarta e também nos acontecimentos de Beslan e no atentado de Atocha e no atentado que vitimou Vieira de Melo e nos ataques terroristas em Israel e nos bombardeamentos à Palestina e nos acontecimentos do teatro de Moscovo e nos milhares de iraquianos mortos e nos mais de mil soldados americanos mortos no Iraque, e nos raptos e assassinatos de americanos, japoneses, italianos, franceses e na portentosa frase de George W. Bush no congresso republicano “desde a ocupação do Iraque, o mundo está mais seguro”. Que merda de pensamentos que eu tenho.
- Hoje, em editorial no Correio da Manhã, Luís Filipe Menezes lançava a candidatura à presidência do Marcelo Rebelo de Sousa. Ora, uma vez que já não sou estudante e, portanto, já não preciso de notas, pus-me a pensar que podia ter lançado Valentim Loureiro, porque a nossa varinha mágica avariou-se cá em casa e uma nova fazia-nos falta. Também pensei que podia lançar a candidatura do Alberto João Jardim porque o Jorge Sampaio já não me faz rir e eu gosto muito de rir. Também pensei que ele pudesse lançar a candidatura do Zézé Camarinha. Se for para nos foder, ao menos que seja por alguém que o saiba fazer. Ou podia lançar o Pinto da Costa, já que são amigos. Pelo menos eu não teria que mudar de opinião, como quando deixei de gostar de Jorge Sampaio, uma vez que deste eu já não gosto. Que merda de pensamentos que eu ando a ter.
- Tenho estado a pensar que se existissem blogs no tempo das cavernas, O Acidental seria um guru troglodita. Que merda! Não será melhor parar de pensar?
- Eu às vezes penso. Hoje dei comigo a pensar, no atentado de Jacarta e também nos acontecimentos de Beslan e no atentado de Atocha e no atentado que vitimou Vieira de Melo e nos ataques terroristas em Israel e nos bombardeamentos à Palestina e nos acontecimentos do teatro de Moscovo e nos milhares de iraquianos mortos e nos mais de mil soldados americanos mortos no Iraque, e nos raptos e assassinatos de americanos, japoneses, italianos, franceses e na portentosa frase de George W. Bush no congresso republicano “desde a ocupação do Iraque, o mundo está mais seguro”. Que merda de pensamentos que eu tenho.
- Hoje, em editorial no Correio da Manhã, Luís Filipe Menezes lançava a candidatura à presidência do Marcelo Rebelo de Sousa. Ora, uma vez que já não sou estudante e, portanto, já não preciso de notas, pus-me a pensar que podia ter lançado Valentim Loureiro, porque a nossa varinha mágica avariou-se cá em casa e uma nova fazia-nos falta. Também pensei que podia lançar a candidatura do Alberto João Jardim porque o Jorge Sampaio já não me faz rir e eu gosto muito de rir. Também pensei que ele pudesse lançar a candidatura do Zézé Camarinha. Se for para nos foder, ao menos que seja por alguém que o saiba fazer. Ou podia lançar o Pinto da Costa, já que são amigos. Pelo menos eu não teria que mudar de opinião, como quando deixei de gostar de Jorge Sampaio, uma vez que deste eu já não gosto. Que merda de pensamentos que eu ando a ter.
- Tenho estado a pensar que se existissem blogs no tempo das cavernas, O Acidental seria um guru troglodita. Que merda! Não será melhor parar de pensar?
quarta-feira, setembro 08, 2004
569. Coisas
- Tirei a música do meu blog; pesava demais na abertura; desculpem os que gostavam.
- Cada vez gosto menos dos comentadores desportivos das televisões; RTP à cabeça.
- Gostei da modificação que a Papoila fez no template; lia-o com dor de olhos.
- A blogger hoje chateou-me imenso; mas eu sou um gajo paciente.
- Emídio Guerreiro é um dos meus ídolos; tenho ciumes de nem lhe chegar aos calcanhares.
- União Europeia deu em média 333 euros a cada português; Ó Santana passa para cá os meus 67 contitos que eu não vi nenhum.
- Temos 10% de portugueses que não sabem ler nem escrever; heranças; em 30 anos, ninguém quis gastar esta herança.
- Afinal o Mourinho andava a comer a mulher do outro ou não?; ando tão distraído.
- A direita anda eufórica com o crescimento de 1,5% do PIB; já falam que Portugal está fora da crise; os 500.000 desempregados e os 2 milhões no limiar da pobreza ainda não deram por nada.
- Tirei a música do meu blog; pesava demais na abertura; desculpem os que gostavam.
- Cada vez gosto menos dos comentadores desportivos das televisões; RTP à cabeça.
- Gostei da modificação que a Papoila fez no template; lia-o com dor de olhos.
- A blogger hoje chateou-me imenso; mas eu sou um gajo paciente.
- Emídio Guerreiro é um dos meus ídolos; tenho ciumes de nem lhe chegar aos calcanhares.
- União Europeia deu em média 333 euros a cada português; Ó Santana passa para cá os meus 67 contitos que eu não vi nenhum.
- Temos 10% de portugueses que não sabem ler nem escrever; heranças; em 30 anos, ninguém quis gastar esta herança.
- Afinal o Mourinho andava a comer a mulher do outro ou não?; ando tão distraído.
- A direita anda eufórica com o crescimento de 1,5% do PIB; já falam que Portugal está fora da crise; os 500.000 desempregados e os 2 milhões no limiar da pobreza ainda não deram por nada.
568. Obrigadinho
Os meus agradecimentos à Sofia, ao Bazaroco, à Robina, à Rititi, à Siamesa, à Pê, ao JC, à Monalisa, à Caxopa, ao Kalvin, à Gotinha, à Helena, ao Carlos F., à Sonia, à Sitta, à Paula F, à Selma, à Ana, à Vieira do Mar, à Catarina, à Scoya, à monalisa (a que não tem blog), à Ana, à arminda, à trilha, ao BA, à Ruiva, à Magnólia, ao Unblog, à Loira, à Melancia, à Mar, à aNa, ao Rui e aos restantes 121 amigos e amigas que por aqui passaram sem abrir a porta. Bem hajam!
Os meus agradecimentos à Sofia, ao Bazaroco, à Robina, à Rititi, à Siamesa, à Pê, ao JC, à Monalisa, à Caxopa, ao Kalvin, à Gotinha, à Helena, ao Carlos F., à Sonia, à Sitta, à Paula F, à Selma, à Ana, à Vieira do Mar, à Catarina, à Scoya, à monalisa (a que não tem blog), à Ana, à arminda, à trilha, ao BA, à Ruiva, à Magnólia, ao Unblog, à Loira, à Melancia, à Mar, à aNa, ao Rui e aos restantes 121 amigos e amigas que por aqui passaram sem abrir a porta. Bem hajam!
terça-feira, setembro 07, 2004
567. Hoje – 24 anos depois!
Por favor, amigas e amigos… não abram a porta agora. O Pré e a Maria estão em lua-de-mel!
___________
Foto daqui
Por favor, amigas e amigos… não abram a porta agora. O Pré e a Maria estão em lua-de-mel!
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Foto daqui
segunda-feira, setembro 06, 2004
566. Este post é para ti, Anita
Parece que foi ontem que percorri quilómetros naquela maternidade, devorando cigarros atrás de cigarros, nervoso como nunca tivera estado, até ao anúncio do teu nascimento. Parece que foi ontem que te vi agarrada às mamas da tua mãe, de olhinho aberto, vigiando e tomando atenção ao que se passava em tua volta. Parece que foi ontem que te vi dar os primeiros passos e as primeiras quedas, que ouvi as tuas primeiras palavras. Parece que foi ontem que fui à loja comprar os teus primeiros nenucos, que te vi de bibe aos quadradinhos, que te comprei os primeiros livros, que te vi ler as primeiras letras, que te vi entrar na escola, que li a tua a primeira redacção. Parece que foi ontem que a tua mãe te descobriu mulherzinha. Parece que foi ontem que entraste para a universidade, que me apresentaste o teu namorado. Tudo me parece que foi ontem. E no entanto hoje terminaste a tua licenciatura. É por ter uma filha como tu (e, obviamente, um filho como o teu irmão), que o meu espelho, apesar de tudo, nunca critica os meus cabelos brancos. Parabéns Anita! Que me desculpem as minhas leitoras e os meus leitores, que sei que não vão concordar comigo, mas tu és a melhor filha do mundo. Um beijo do tamanho do Universo.
Parece que foi ontem que percorri quilómetros naquela maternidade, devorando cigarros atrás de cigarros, nervoso como nunca tivera estado, até ao anúncio do teu nascimento. Parece que foi ontem que te vi agarrada às mamas da tua mãe, de olhinho aberto, vigiando e tomando atenção ao que se passava em tua volta. Parece que foi ontem que te vi dar os primeiros passos e as primeiras quedas, que ouvi as tuas primeiras palavras. Parece que foi ontem que fui à loja comprar os teus primeiros nenucos, que te vi de bibe aos quadradinhos, que te comprei os primeiros livros, que te vi ler as primeiras letras, que te vi entrar na escola, que li a tua a primeira redacção. Parece que foi ontem que a tua mãe te descobriu mulherzinha. Parece que foi ontem que entraste para a universidade, que me apresentaste o teu namorado. Tudo me parece que foi ontem. E no entanto hoje terminaste a tua licenciatura. É por ter uma filha como tu (e, obviamente, um filho como o teu irmão), que o meu espelho, apesar de tudo, nunca critica os meus cabelos brancos. Parabéns Anita! Que me desculpem as minhas leitoras e os meus leitores, que sei que não vão concordar comigo, mas tu és a melhor filha do mundo. Um beijo do tamanho do Universo.
565. Véspera
Ela irá com um vestido branco. Uma coroa de brilhantes na cabeça. Um bonito boquet de flores vermelhas na mão. Eu não a vi ainda. Dizem que dá azar. Vou esperá-la à porta da igreja. Não irei de calções e pólo. Os meus pais não iriam achar piada nenhuma. Ela abanaria a cabeça e gritaria lá do fundo: Maluco! Como ela costuma reagir ás minhas extravagâncias. A minha mãe ofereceu-me um fato azul. Com colete e tudo. A camisa é branca e a gravata de um cinzento claro. Formal, mas discreto. Aos convidados foi-lhes dito que o traje era “business casual”. Nada de cerimónias. Se pudesse teria eu próprio ido de calções. Estava um calor quase tropical. Ela vinha deslumbrante. Não mais bonita do que era. Mas bonita de morrer. Queria poder tê-la possuído logo ali. Mas havia testemunhas demais e nenhuma era luar. A igreja irá ser engalanada esta noite. Com flores, para receber uma flor. Perfumarão as galerias de mil cheiros que os perfumes das damas e as águas dos cavalheiros não se sobreporão. Apenas uma flor cheirará mais bem. Curiosamente não estou nervoso. Apenas me vou “esquecer” de cortar a barba, mas não irei de calções. Um padre irá abençoar as alianças, mas a aliança fi-la eu com ela. Até que a morte nos separe. Tocará uma música nupcial quando ela entrar. A música é só para ela, eu não ouvirei os sons, seguir-lhe-ei os passos, compassados e o sorriso. Será amanhã.
Ela irá com um vestido branco. Uma coroa de brilhantes na cabeça. Um bonito boquet de flores vermelhas na mão. Eu não a vi ainda. Dizem que dá azar. Vou esperá-la à porta da igreja. Não irei de calções e pólo. Os meus pais não iriam achar piada nenhuma. Ela abanaria a cabeça e gritaria lá do fundo: Maluco! Como ela costuma reagir ás minhas extravagâncias. A minha mãe ofereceu-me um fato azul. Com colete e tudo. A camisa é branca e a gravata de um cinzento claro. Formal, mas discreto. Aos convidados foi-lhes dito que o traje era “business casual”. Nada de cerimónias. Se pudesse teria eu próprio ido de calções. Estava um calor quase tropical. Ela vinha deslumbrante. Não mais bonita do que era. Mas bonita de morrer. Queria poder tê-la possuído logo ali. Mas havia testemunhas demais e nenhuma era luar. A igreja irá ser engalanada esta noite. Com flores, para receber uma flor. Perfumarão as galerias de mil cheiros que os perfumes das damas e as águas dos cavalheiros não se sobreporão. Apenas uma flor cheirará mais bem. Curiosamente não estou nervoso. Apenas me vou “esquecer” de cortar a barba, mas não irei de calções. Um padre irá abençoar as alianças, mas a aliança fi-la eu com ela. Até que a morte nos separe. Tocará uma música nupcial quando ela entrar. A música é só para ela, eu não ouvirei os sons, seguir-lhe-ei os passos, compassados e o sorriso. Será amanhã.
domingo, setembro 05, 2004
564. Dois dias
Chegava tarde das aulas, longe ia a noite e tu esperavas-me. Dois toques na janela e qual Julieta esperando Romeu, as janelas abriam-se. Não eram precisas escadas, a janela era baixa, o suficiente para os meus lábios se colarem aos teus. Num abraço, com parapeito de permeio, transportávamo-nos ao tempo dos nossos pais, não, talvez ao dos nossos avós. Era engraçado namorar à janela e riamo-nos com isso. Mas o prazer de te ver, o brilho que o sono não conseguia eliminar dos teus olhos, a voz sussurrada que não acordava ninguém ao redor, o passar a mão nos teus suaves cabelos, o perdermo-nos num beijo longo, compensava o frio ou a chuva que nos acompanhava. Os corações estavam quentes e a chuva apenas causava inundações de paixão. Depois, como que escravizados pelos ponteiros do relógio despedíamo-nos. Mas a nossa teimosa vontade de lutar contra grilhetas vulgarizava os esclavagistas relógios, quase os humilhava. E ao telefone namorávamos noite dentro. Faltam dois dias.
Chegava tarde das aulas, longe ia a noite e tu esperavas-me. Dois toques na janela e qual Julieta esperando Romeu, as janelas abriam-se. Não eram precisas escadas, a janela era baixa, o suficiente para os meus lábios se colarem aos teus. Num abraço, com parapeito de permeio, transportávamo-nos ao tempo dos nossos pais, não, talvez ao dos nossos avós. Era engraçado namorar à janela e riamo-nos com isso. Mas o prazer de te ver, o brilho que o sono não conseguia eliminar dos teus olhos, a voz sussurrada que não acordava ninguém ao redor, o passar a mão nos teus suaves cabelos, o perdermo-nos num beijo longo, compensava o frio ou a chuva que nos acompanhava. Os corações estavam quentes e a chuva apenas causava inundações de paixão. Depois, como que escravizados pelos ponteiros do relógio despedíamo-nos. Mas a nossa teimosa vontade de lutar contra grilhetas vulgarizava os esclavagistas relógios, quase os humilhava. E ao telefone namorávamos noite dentro. Faltam dois dias.
sábado, setembro 04, 2004
563. Três dias
O monstro de ferro flutuante já se afastava da costa. Quase não tive tempo para te dar um beijo. Foi tudo tão de repente. Cheguei a alimentar uma ténue esperança de que a pequena avaria que tínhamos a bordo, obrigasse o comandante a dar meia volta e rumar ao local da partida. Poderia te abraçar de novo, beijar-te de novo, ficares no meu colo de novo, acariciar-te, mimar-te. Mas não. Segui viagem; só muitos, muitos dias depois voltei a saber de ti, só muitos dias depois voltaste a saber de mim. A hora da distribuição do correio era a hora da festa. Era a tua chegada. Recebia sempre um monte de folhas escritas, com tinta de paixão, tinta de palavras permanentes (tu não tens um blog, mas escreves muito mais do que eu). E como as palavras me beijavam! Letras, desenhadas com lábios que murmuravam saudade, letras que, no silêncio do meu quarto, me despertavam desejo, letras que, desenhadas, me traziam tu mesma. Quando a última frase encerrava o reencontro, eu voltava à primeira linha e tinha-te ali de novo. Porque te queria eternamente junto a mim.
Como são engraçados os caminhos da vida. Agora que te tenho todos os dias ao meu lado, escrevo-te. Sei que me lês. Quantas vezes cada palavra te beija, não sei. Faltam três dias.
O monstro de ferro flutuante já se afastava da costa. Quase não tive tempo para te dar um beijo. Foi tudo tão de repente. Cheguei a alimentar uma ténue esperança de que a pequena avaria que tínhamos a bordo, obrigasse o comandante a dar meia volta e rumar ao local da partida. Poderia te abraçar de novo, beijar-te de novo, ficares no meu colo de novo, acariciar-te, mimar-te. Mas não. Segui viagem; só muitos, muitos dias depois voltei a saber de ti, só muitos dias depois voltaste a saber de mim. A hora da distribuição do correio era a hora da festa. Era a tua chegada. Recebia sempre um monte de folhas escritas, com tinta de paixão, tinta de palavras permanentes (tu não tens um blog, mas escreves muito mais do que eu). E como as palavras me beijavam! Letras, desenhadas com lábios que murmuravam saudade, letras que, no silêncio do meu quarto, me despertavam desejo, letras que, desenhadas, me traziam tu mesma. Quando a última frase encerrava o reencontro, eu voltava à primeira linha e tinha-te ali de novo. Porque te queria eternamente junto a mim.
Como são engraçados os caminhos da vida. Agora que te tenho todos os dias ao meu lado, escrevo-te. Sei que me lês. Quantas vezes cada palavra te beija, não sei. Faltam três dias.
sexta-feira, setembro 03, 2004
562. Senha número treze
A D. Conceição é uma velhinha de 80 anos. É de Moura, no Alentejo, mas vive na região de Almada há mais de 60 anos. Fala ainda com o sotaque com que nasceu. Todas as vezes que vou ao médico encontro-a no posto. Quase não pode andar devido a uma queda que deu. Tem imenso medo, pavor, mesmo, de escadas. Mora num 3º andar e há cerca de um ano caiu escada abaixo. “Por falta de luz”, contou ela. Eu conheço esta história há muito tempo. Desde a primeira vez que a vi. Repete-a sempre igual para todos os que esperam na sala. Uns riem-se, outros sentem pena, outros não reagem, indiferentes. Vai sempre à procura da Dr.ª Isabel, sem consulta marcada, em dias que a Dr.ª Isabel não dá consulta. Ou de avisadas, as funcionárias dizem-lhe que a Dr.ª não está. Faz da ida ao posto da caixa o seu passeio matinal. Um destes dias meti-me com ela. Ela queixa-se que não pode andar “Só Deus e eu é que sabemos…”. No entanto estava bem disposta. Convidei-a para bailarmos os dois nas próximas festas da vila. Deu uma gargalhada e foi o suficiente para me contar as histórias do tempo em que moça, “balhava e balhava bên”. De todas as vezes conta as agruras que passa com a filha. Mas há mais quem lhe conheça as histórias de vida ou quem já delas ouviu falar. Um deles, que esperava outra consulta com a senha número 13, “a filha é que tem a culpa; nem a luz paga à velha; só lhe quer é chupar o dinheiro da reforma”. Se calhar foi por isso que lhe deram o número 13.
A D. Conceição é uma velhinha de 80 anos. É de Moura, no Alentejo, mas vive na região de Almada há mais de 60 anos. Fala ainda com o sotaque com que nasceu. Todas as vezes que vou ao médico encontro-a no posto. Quase não pode andar devido a uma queda que deu. Tem imenso medo, pavor, mesmo, de escadas. Mora num 3º andar e há cerca de um ano caiu escada abaixo. “Por falta de luz”, contou ela. Eu conheço esta história há muito tempo. Desde a primeira vez que a vi. Repete-a sempre igual para todos os que esperam na sala. Uns riem-se, outros sentem pena, outros não reagem, indiferentes. Vai sempre à procura da Dr.ª Isabel, sem consulta marcada, em dias que a Dr.ª Isabel não dá consulta. Ou de avisadas, as funcionárias dizem-lhe que a Dr.ª não está. Faz da ida ao posto da caixa o seu passeio matinal. Um destes dias meti-me com ela. Ela queixa-se que não pode andar “Só Deus e eu é que sabemos…”. No entanto estava bem disposta. Convidei-a para bailarmos os dois nas próximas festas da vila. Deu uma gargalhada e foi o suficiente para me contar as histórias do tempo em que moça, “balhava e balhava bên”. De todas as vezes conta as agruras que passa com a filha. Mas há mais quem lhe conheça as histórias de vida ou quem já delas ouviu falar. Um deles, que esperava outra consulta com a senha número 13, “a filha é que tem a culpa; nem a luz paga à velha; só lhe quer é chupar o dinheiro da reforma”. Se calhar foi por isso que lhe deram o número 13.
561. Quatro dias
“Sôzé”, a minha voz tremia um pouco. Nesse tempo os rapazes pediam autorização para namorar. Andei-me a preparar uns quatro ou cinco dias. Deve vir desse tempo a minha mania de falar com o espelho. “Sôzé, venho aqui para lhe dizer que namoro com a sua filha”. “Não!”, gritava-me o espelho. “Assim não, rapaz. É muito directo, além de que não se trata de um pedido. Isso é uma afirmação”. Ficava desarmado. Tanto treino para nada. “Sôzé, como o senhor sabe…” “Não!”, interrompia-me de imediato o espelho, “Se ele sabe o que é que vais lá fazer?”. O dia aproximava-se e eu sem saber o que dizer. Afinal de contas era a primeira vez que eu enfrentava o pai da namorada. Já tínhamos falado do Benfica e do Sporting, ele já me tinha visto várias vezes chegar da escola com a filha ao lado, ele e o meu pai jogavam juntos às cartas, mas eu nem sabia se ele imaginava que eu lhe namorava a filha. “Sôzé, não sei se sabe por é que eu pedi para falar consigo…” . “Não!”, de novo o espelho, inflexível. “Vamos pôr os pontos nos is, rapazinho”. Finalmente, esperei que ele me desse uma dica. Até aqui sempre me atalhava o discurso, sempre me criticava a forma, sempre me apagava o conteúdo. “Em primeiro lugar, pára com essa história de sôzé. Há uma certa formalidade no acto. Deves começar com Senhor José. Não deves entrar directo no assunto. Arranja uma conversa de introdução que o deixe bem disposto e receptivo e, quando ele estiver com as guardas em baixo, vais direito ao assunto”. Uma lâmpada acendeu-se dentro da caixinha dos neurónios. Afinal de contas o Sporting tinha ganho na semana anterior ao meu Glorioso e o pai dela era lagarto. Ia ser doloroso, mas…
- Sôzé, a voz tremia, então lá ganharam no Domingo hein? (não consegui evitar o Sôzé; falar de futebol e começar com senhor José, não me parecia compatível, sei lá, não me dava jeito).
- É pá, aquilo é que foi uma vitória – não disse mais nada, mas viu-se-lhe um brilhozinho nos olhos.
Homem de poucas falas, não me deu hipóteses de continuar a desenvolver o fait-divers preparado com todo o cuidado. Naquele momento, apeteceu-me sair, dirigir-me ao espelho e dar-lhe uma daquelas descomposturas que ele nunca mais esqueceria por muitos anos que vivesse. No entanto, apenas em pensamento, o mandei bugiar.
- Sôzé, o senhor já me tem visto várias vezes com a sua filha. Eu e a Maria, gostamos um do outro. Não gostaria que o senhor viesse a saber de outra maneira. Foi por isso que pedi para falar consigo. E para lhe pedir permissão para vir cá a casa, namorar com ela – tudo seguido, em rajada, sem respirar e com a voz a sumir-se a cada sílaba que passava.
Nesse tempo ainda se pedia ao futuro sogro, autorização para namorar. Todos estes anos passados e ainda namoramos. Faltam 4 dias.
“Sôzé”, a minha voz tremia um pouco. Nesse tempo os rapazes pediam autorização para namorar. Andei-me a preparar uns quatro ou cinco dias. Deve vir desse tempo a minha mania de falar com o espelho. “Sôzé, venho aqui para lhe dizer que namoro com a sua filha”. “Não!”, gritava-me o espelho. “Assim não, rapaz. É muito directo, além de que não se trata de um pedido. Isso é uma afirmação”. Ficava desarmado. Tanto treino para nada. “Sôzé, como o senhor sabe…” “Não!”, interrompia-me de imediato o espelho, “Se ele sabe o que é que vais lá fazer?”. O dia aproximava-se e eu sem saber o que dizer. Afinal de contas era a primeira vez que eu enfrentava o pai da namorada. Já tínhamos falado do Benfica e do Sporting, ele já me tinha visto várias vezes chegar da escola com a filha ao lado, ele e o meu pai jogavam juntos às cartas, mas eu nem sabia se ele imaginava que eu lhe namorava a filha. “Sôzé, não sei se sabe por é que eu pedi para falar consigo…” . “Não!”, de novo o espelho, inflexível. “Vamos pôr os pontos nos is, rapazinho”. Finalmente, esperei que ele me desse uma dica. Até aqui sempre me atalhava o discurso, sempre me criticava a forma, sempre me apagava o conteúdo. “Em primeiro lugar, pára com essa história de sôzé. Há uma certa formalidade no acto. Deves começar com Senhor José. Não deves entrar directo no assunto. Arranja uma conversa de introdução que o deixe bem disposto e receptivo e, quando ele estiver com as guardas em baixo, vais direito ao assunto”. Uma lâmpada acendeu-se dentro da caixinha dos neurónios. Afinal de contas o Sporting tinha ganho na semana anterior ao meu Glorioso e o pai dela era lagarto. Ia ser doloroso, mas…
- Sôzé, a voz tremia, então lá ganharam no Domingo hein? (não consegui evitar o Sôzé; falar de futebol e começar com senhor José, não me parecia compatível, sei lá, não me dava jeito).
- É pá, aquilo é que foi uma vitória – não disse mais nada, mas viu-se-lhe um brilhozinho nos olhos.
Homem de poucas falas, não me deu hipóteses de continuar a desenvolver o fait-divers preparado com todo o cuidado. Naquele momento, apeteceu-me sair, dirigir-me ao espelho e dar-lhe uma daquelas descomposturas que ele nunca mais esqueceria por muitos anos que vivesse. No entanto, apenas em pensamento, o mandei bugiar.
- Sôzé, o senhor já me tem visto várias vezes com a sua filha. Eu e a Maria, gostamos um do outro. Não gostaria que o senhor viesse a saber de outra maneira. Foi por isso que pedi para falar consigo. E para lhe pedir permissão para vir cá a casa, namorar com ela – tudo seguido, em rajada, sem respirar e com a voz a sumir-se a cada sílaba que passava.
Nesse tempo ainda se pedia ao futuro sogro, autorização para namorar. Todos estes anos passados e ainda namoramos. Faltam 4 dias.
quinta-feira, setembro 02, 2004
560. Cinco Dias
Invadia-te a casa, o teu espaço, o teu canto. E tu invadias-me de tremores, de emoção, de desejos (mantêm-se intactos, em novas dimensões). Nunca te admiras dos meus espelhos pois sabes que sempre foram meus cúmplices. E teus cúmplices. Eram testemunhas mudas, de incalculável prestabilidade. Eram eles que permitiam que os cantos dos nossos olhos se apercebessem dos intrusos, dos vigilantes, dos desmancha-prazeres. Exacto, esta é a palavra-chave, a verdadeira. Desmancha-prazeres. E no quase silêncio da noite quando os espelhos não mais são precisos, os perfumes que a libido exala, o quase silêncio quebrado pela respiração que se ouve, alterada, arrítmica, sensual, e uma mão na boca tentando vedar sons que não se podem ouvir, numa censura de coronéis. Uma mistura extrema dos sentidos. O tacto, o veludo do teu corpo (nunca chegamos a acordo; és tu que dizes que as minhas mãos são aveludadas; eu nego; é a tua pele, veludo, cetim, seda pura). Depois…depois o ajeitar dos corpos, o olhar maroto de olhos trespassando olhos e o rubor que se esvai. E os espelhos mudos. No fim banhávamos a atmosfera com uma musica calma que saía da rádio. Ou que sempre lá esteve, sem que ninguém desse por isso. E se havia lua íamos observá-la. As estrelas que no seu brilhar pareciam ensaiar uma dança silenciosa, tinham sido observadas momentos antes. Momentos. Faltam 5 dias.
Invadia-te a casa, o teu espaço, o teu canto. E tu invadias-me de tremores, de emoção, de desejos (mantêm-se intactos, em novas dimensões). Nunca te admiras dos meus espelhos pois sabes que sempre foram meus cúmplices. E teus cúmplices. Eram testemunhas mudas, de incalculável prestabilidade. Eram eles que permitiam que os cantos dos nossos olhos se apercebessem dos intrusos, dos vigilantes, dos desmancha-prazeres. Exacto, esta é a palavra-chave, a verdadeira. Desmancha-prazeres. E no quase silêncio da noite quando os espelhos não mais são precisos, os perfumes que a libido exala, o quase silêncio quebrado pela respiração que se ouve, alterada, arrítmica, sensual, e uma mão na boca tentando vedar sons que não se podem ouvir, numa censura de coronéis. Uma mistura extrema dos sentidos. O tacto, o veludo do teu corpo (nunca chegamos a acordo; és tu que dizes que as minhas mãos são aveludadas; eu nego; é a tua pele, veludo, cetim, seda pura). Depois…depois o ajeitar dos corpos, o olhar maroto de olhos trespassando olhos e o rubor que se esvai. E os espelhos mudos. No fim banhávamos a atmosfera com uma musica calma que saía da rádio. Ou que sempre lá esteve, sem que ninguém desse por isso. E se havia lua íamos observá-la. As estrelas que no seu brilhar pareciam ensaiar uma dança silenciosa, tinham sido observadas momentos antes. Momentos. Faltam 5 dias.
quarta-feira, setembro 01, 2004
559. Seis dias
Ela com uma infusa eu com outra, um braço sobre o seu ombro, outro que me enrola a cintura. O trilho marcado no restolho doirado foi feito por pés de pares e pares de pés, uns mais ligeiros, outros arrastados. A velha curvada, de lenço negro na cabeça e de negro também vestida, que o seu homem já se finara havia muito, parava ao longe para ver o casal parado. Se bandeava a cabeça reprovadora ou se sorria em sinal de consentimento não o sabíamos. O lusco-fusco e a distância, o céu vermelho e anil, manchado de pôr-do-sol, só desenhavam o vulto e o negro na planura. Um abraço que não se desfazia, os lábios que se não descolavam, no cruzamento de um ‘boa noite, meninos’, dois corpos que pareciam um, não fora as inclinadas cabeças o denunciarem. O percorrer da pele na pele, de dedos explorando percursos proibidos, de mãos irrequietas, o beijo que teimava em não findar. A água fresca, que a bica debitava, trespassava já a boca da bilha, desenhando um sulco cristalino na direcção do barranco. Amanhã cedo os pardais, os milharocos e os rabilongos viriam beber, saciar uma sede que, de diferente da nossa, não se bastaria de beijo. Beijariam as gotas orvalhadas, as águas correntes no barranco e rabilongos com rabilongas, milharocos com milharocas, pardais com pardocas nunca haveriam de conhecer o sabor dos lábios dela. E quando o luar invejoso queria também beijar, já tardava, bastaria agradecer essa natural lamparina que o trilho não se via no rastolho pardo, que doirado era antes. Indiferentes ao círculo que a lua riscava lá em cima, beijávamos de novo e as sombras desenhavam um estranho bailado. Faltam seis dias.
Ela com uma infusa eu com outra, um braço sobre o seu ombro, outro que me enrola a cintura. O trilho marcado no restolho doirado foi feito por pés de pares e pares de pés, uns mais ligeiros, outros arrastados. A velha curvada, de lenço negro na cabeça e de negro também vestida, que o seu homem já se finara havia muito, parava ao longe para ver o casal parado. Se bandeava a cabeça reprovadora ou se sorria em sinal de consentimento não o sabíamos. O lusco-fusco e a distância, o céu vermelho e anil, manchado de pôr-do-sol, só desenhavam o vulto e o negro na planura. Um abraço que não se desfazia, os lábios que se não descolavam, no cruzamento de um ‘boa noite, meninos’, dois corpos que pareciam um, não fora as inclinadas cabeças o denunciarem. O percorrer da pele na pele, de dedos explorando percursos proibidos, de mãos irrequietas, o beijo que teimava em não findar. A água fresca, que a bica debitava, trespassava já a boca da bilha, desenhando um sulco cristalino na direcção do barranco. Amanhã cedo os pardais, os milharocos e os rabilongos viriam beber, saciar uma sede que, de diferente da nossa, não se bastaria de beijo. Beijariam as gotas orvalhadas, as águas correntes no barranco e rabilongos com rabilongas, milharocos com milharocas, pardais com pardocas nunca haveriam de conhecer o sabor dos lábios dela. E quando o luar invejoso queria também beijar, já tardava, bastaria agradecer essa natural lamparina que o trilho não se via no rastolho pardo, que doirado era antes. Indiferentes ao círculo que a lua riscava lá em cima, beijávamos de novo e as sombras desenhavam um estranho bailado. Faltam seis dias.
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