segunda-feira, setembro 27, 2004

606. Conto (VIII)

O nubente assistiu macambúzio ao ritual que se seguiu. De facto não era espectável que, após uma tão excitante cerimónia de iniciação, a passagem seguinte assumisse um tão maçadiço teor. Assim para vos poupar a uma macarrónea crónica, apenas refiro que a jovem foi conduzida numa maca, acompanhada por duas anciãs, para uma tenda isolada, colocada nas cercanias da aldeia. Mal acabou de entrar, o futuro noivo estendeu-me a mão, no que foi retribuído. E sem a largar conduziu-me ao meu lugar, previamente reservado na mesa principal, precisamente do lado direito do chefe. Ele sentar-se-ia à esquerda. Os pratos exóticos de jamantes e jeticas, de miolos de macaco servidos na própria cabeça, de língua de jacaré numa espécie de estufado, que ía chegando em grandes travessa de barro cru, de espetos de láparos apenas separados por folhas de urtiga fresca, de jambé, de rabo de boi com natas de leite de morcega, misturavam-se com alguns dos mais conhecidos pratos ocidentais, como o javali assado em forno de lenha, estaladiço, rodeado de laranja e maçarocas de mabalemade cozido, macedónia de frutas, lulas (embora de um tamanho inusitado) recheadas com linguiça, nêsperas em calda de açúcar, muito marisco de casca e pardais nidífugos fritos em óleo de nicori. E foi com este repasto, de que não hesitei em provar todas as iguarias, que me saciei de uma fome de três dias. Adormeci bebendo um chimarão, não de erva-mate como seria de esperar, mas de uma mistura de gengibre e macela.

(continua)

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