564. Dois dias
Chegava tarde das aulas, longe ia a noite e tu esperavas-me. Dois toques na janela e qual Julieta esperando Romeu, as janelas abriam-se. Não eram precisas escadas, a janela era baixa, o suficiente para os meus lábios se colarem aos teus. Num abraço, com parapeito de permeio, transportávamo-nos ao tempo dos nossos pais, não, talvez ao dos nossos avós. Era engraçado namorar à janela e riamo-nos com isso. Mas o prazer de te ver, o brilho que o sono não conseguia eliminar dos teus olhos, a voz sussurrada que não acordava ninguém ao redor, o passar a mão nos teus suaves cabelos, o perdermo-nos num beijo longo, compensava o frio ou a chuva que nos acompanhava. Os corações estavam quentes e a chuva apenas causava inundações de paixão. Depois, como que escravizados pelos ponteiros do relógio despedíamo-nos. Mas a nossa teimosa vontade de lutar contra grilhetas vulgarizava os esclavagistas relógios, quase os humilhava. E ao telefone namorávamos noite dentro. Faltam dois dias.
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