sexta-feira, março 12, 2004

Madrid

Já anteriormente o afirmei. O meu blog não é político. Aderi a este espaço da blogosfera como um facilitador da minha vontade diária de escrever. Poderia, como o fiz ao longo de vários anos, escrever em páginas de Word, depois imprimi-las ou gravá-las num disco e finalmente dar-lhes o destino que sempre lhes dei ou seja, guardá-los numa gaveta. Se utilizo, agora, este espaço é porque achei interessante partilhar com alguns amigos, alguns conhecidos e alguns outros visitantes que tivessem paciência para o ler, algumas das minhas vivências, dos meus desabafos, das minhas opiniões, dos meus gostos e até das minhas banalidades. È, por isso, que este blog não tem uma especialidade. Não tem um carácter político, nem desportivo, nem cultural, nem de discussão pública. Talvez também por isso tenho resistido, até agora, depois se verá, à tentação dos “comentários” por não ver neste blog nenhum interesse de debate público. No título inclui o meu e-mail para que, no caso de alguém se interessar por algum dos textos, me questione, me sugira ou até quiçá, me cumprimente. Mas pelo facto de o meu blog não ter as características que anunciei, não é desprovido de cabeça. E é aqui que eu opino sobre coisas do mundo vistas por mim ou vistas pelos outros. E quando os outros as vêem de uma forma diferente do que eu as vejo, sinto-me no direito, que não na obrigação, de concordar ou discordar publicamente. È para reunir mais conhecimentos mas também para perceber o pensamento ou a maneira de ver dos outros que, eu, todos os dias, dou uma pequena volta pelos mais significativos (ou pelo menos os que para mim me parecem ser mais significativos) blogs da blogosfera nacional. Entre as minhas visitas diárias conta-se o Abrupto, um blog de José Pacheco Pereira, que na sua vertente cultural me tem ajudado a conhecer melhor alguns poetas, alguns pintores, alguns pensadores. Porque eu não me fico apenas pela leitura circunstancial, as referências dadas nos blogs são normalmente, sempre que a disponibilidade de tempo me permite, acompanhadas de uma pesquisa um pouco mais aprofundada dessas referências. No entanto, quando os blogs se apresentam de características mais ou menos ecléticas, sempre haverá um ou outro aspecto em que o especialista, eventualmente, mete o pé na poça, como soi dizer-se. E é exactamente quando o Abrupto emite algumas opiniões políticas, que eu acho que o Dr. José Pacheco Pereira deveria ser um pouco mais intelectualmente honesto. Ontem, a minha primeira visita aos blogs, foi exactamente ao Abrupto. E nele mais do que a condenação aos nefastos e sanguinários acontecimentos de Madrid, foi a acusação aos seus, na opinião do Abrupto, autores: a ETA.
O Dr. José Pacheco Pereira, tem não só todo o direito de ser contra a ETA e de o escrever, mas também essa obrigação. Nenhuma organização terrorista deve ser poupada pelos amantes da liberdade, da democracia e da paz. Mas o Dr. José Pacheco Pereira teve, tem e infelizmente terá, toda a oportunidade do mundo para se insurgir contra a ETA. E quando o fizer eu subscrevo-o publicamente. O que não tem é o direito, de, oportunistamente (lembrem-se da proximidade das eleições em Espanha e de como um atentado da ETA, neste momento reforçaria a posição do actual partido no poder e de como os portugueses, com um fazedor de opinião que nem José Pacheco Pereira, se colocariam rapidamente do lado dos apoiantes – leia-se coligação CDS/PSD – do PP espanhol) atribuir o atentado à ETA, quando nem a própria opinião publicada nos mass media espanhóis o fazem peremptoriamente. Para os que morreram não é importante saber se foi a ETA ou a Al Qaeda quem os matou. Mas para os que cá estão, isso não é uma minudência. Não sei se é politicamente correcto dizer isto, mas Deus nos livre de que tenha sido a Al Qaeda. Sob o ponto de vista da ameaça à paz mundial, para mim seria bem pior confrontar-me com o facto de termos a Al Qaeda a vingar-se dos Cruzados do que serem os etarras a fazerem o que melhor sabem fazer - assassinar. È que a minha solidariedade para com as vítimas e familiares das mesmas nos atentados de hoje, não me retira a preocupação de que hoje eles, quiçá amanhã nós. Não podemos esquecer que Durão Barroso integrou essa mesma cruzada.


PS. Ao contrário do que li em outros blogs, que sugeriam que a blogosfera deveria eliminar os links ao Abrupto, eu não penso da mesma maneira. Pelo contrário. Hoje mesmo decidi incluí-lo na minha lista. O Abrupto, felizmente para mim, não é só opinião política.

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