A papoila
Como vós sabeis, amigas leitoras e amigos leitores do meu blog, eu não sou nada de escrever longas postagens. Nada mesmo. Esta minha opção é porque, vós, caríssimos leitores, se quiserem ler histórias mais compridas sempre podem comprar um clássico, como o Capuchinho Vermelho (que até tem um lobo) ou a Bela Adormecida (que até tem uma Bela), ou em alternativa ir ler o blog Mesa e Quintal. Mas hoje eu vou abrir uma excepção, quem quiser lê, quem não quiser perder muito tempo, salta à frente. De qualquer forma, sinto-me muito lisonjeado por pararem neste cantinho. E porque é que eu decidi escrever este post? Pois! Por causa da papoila. No Larousse diz assim: s.f. planta herbácea com flores vermelhas de pétalas caducas, erva daninha comum nos campos de cereais (família da papaveráceas gén. Papaver). Ora eu achei tão pouco. Ainda por cima daninha hein? Não me contentei, e corri atrás (este brasileirismo deu jeito). Foi então que descobri que existem uma série de sabonetes à base de papoila, cuja tabela com os respectivos preços eu passo a divulgar:
PAPOILA ADRIANA 93,30 €
PAPOILA ARGENTINA 66,64 €
PAPOILA BAIANA GRANDE 39,98 €
PAPOILA BAIANA PEQUENA 53,31 €
PAPOILA CIPRESTE 33,32 €
PAPOILA CIPRESTE PEQUENA 33,32 €
PAPOILA GABRIELA 106,62 €
PAPOILA INDIANA 66,64 €
PAPOILA NEMÉSIA 66,64 €
PAPOILA PORTUGUESA 53,31 €
PAPOILA TINHORÃO 66,64 €
Não me perguntem se é ao quilo, aos centos, à unidade, às caixinhas, que eu também não sei. O que sei é que cheiram bem.
Depois fui por aí fora, e encontrei uma planta autócne de Cabo Verde : Papoila-de-Cabo-Verde; Papaver gorgoneum Cout. ssp. gorgoneum (Papaveraceae)
Não sei se deveria… mas… vocês amigos leitores e amigas leitoras desculpar-me-ão, pela certa, temos também a do ópio:
O ópio é constituído pelo suco ou latex solidificado da papoila dormideira (Papaver Somniferum). Este latex contém cerca de vinte alcalóides que incluem a morfina, a codeína, a tebaína e a papaverina. As propriedades desta planta são conhecidas há milhares de anos e podemos encontrar relatos da sua utilização para fins medicinais e de simples prazer em documentos das antigas civilizações suméria, egípcia, grega e romana.
Por fim e porque a postagem já vai longa, descobri no Projecto Vercial este poema de José-Emílio Nelson, nascido em Espinho em 1948, que com o devido respeito transcrevo:
A TÁBUA DA PERFEIÇÃO
A melhor papoila é o ícone, meu filho.
As pétalas desdobradas e o ouro talhado
pela boca a prepará-lo, mas íntima
é a papoila, rasteira, frágil, a haste-unha de um único dedo,
a que enlaça e culpa o vento,
grácil, singela, a que piso com a urina da viagem,
a que amarroto e seco nos papéis (quando não
artificial, coisa de fumos, que escurece
em pó).
E o que é, disse-me ele, é que
a papoila mantinha-se a latir
quebrada (e o meu pai a tropeçar, disse-me,
imperioso, - ocorre-me dizer, repetia, amalgamava,
(a difamar-se,) aparecia a amaldiçoar, obcecado, a pétala
(prosseguiu as alegações,
inicialmente com tédio, empertigado, com lástima).
– Deita o lixo e a agonia na arrecadação (ele passeou, murmurava, a
anular desastradamente a sujidade daquela minha decência).
Tratava-se de iluminar a retumbante beleza, para ele, da resignação,
num manuscrito com esmaltes que sobressaem no emoldurado
da tábua da perfeição.
(in Mosaico)
Por tudo isto, mas principalmente por nada disto vale a pena ler o blog da papoila.
PS. Entre pites, funcho, anis, cinco em rama, malmequer, laranja, aveia, cardo, atabua, castanheiro, salva, limoeiro, carafeteiro bravo, tulipas do campo, eucalipto, morangueiro, giesta, grama, hera, macela, erva de S.. João, lírio bravo, nogueira, tojo, rosmaninho, milho, malva, mirtilos, sobreiro, roseira, brava, alecrim, silva, framboesa, giesta, dente de leão, urtigas, violetas do campo e tantas outras, a papoila pode também ser encontrada no nosso Alentejo. Esta papoila de que vos falo poderá ser encontrada aqui.
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