segunda-feira, março 29, 2004

Profissão

Vós sabeis que eu não sou nada de fazer conjecturas, nadinha mesmo, mas mesmo assim eu arrisco dizer que ao contrário da maioria das minhas amigas leitoras e dos meus amigos leitores, este Domingo foi dia de trabalho para mim. Mas também é bem feito, pois quem me manda a mim passar uma semana inteira sem fazer népia? Pois é, mas subir e descer escadas, descer para e subir da lancha para ir fazer leituras à roda dos navios e subir e descer escadas de portaló, estou aqui que nem posso. A minha perna esquerda está quase presa, mas também é bem feito, quem manda a perna direita ter andado toda a semana a queixar-se? Oh meus amigos, isto, quando há ciática, tem de tocar às duas (fora as costas). Falando estritamente de pernas, a esquerda não é mais que a direita. Portanto ela que faça o favor de não armar ao pingarelho. Mas mesmo assim não me posso queixar muito. É bem melhor do que ser vendedor. Foi aliás por causa das coisas, que eu deixei de trabalhar em vendas. Ah não sabiam? Pois é verdade eu trabalhava em vendas e a minha alcunha era “A prostituta”. Eu, como vós sabeis não sou nada (onde é que eu já li isto?), mesmo nada de depreciar qualquer profissão. E ser prostituta não é nenhuma profissão que eu considere menos. Mas ser vendedor e chamarem-me prostituta, só mesmo coisa dos meus amigos. Querem saber porquê? Pois é, já esperava que tivésseis respondido em uníssono: “Queremos!”. Vejam só:

Eu trabalhava nos horários mais estranhos…
Pagavam-me para fazer o cliente feliz…
Às vezes, o cliente até pagava bem, mas os meus empregadores ficavam com quase tudo...
O meu trabalho ía sempre além do expediente…
Eu era recompensado quando aceitava realizar as ideias dos meus clientes…
Cada vez reduzia mais o meu leque de amigos sendo que praticamente só andava com outros colegas da mesma profissão…
Sempre que ía a um encontro com um cliente tinha de estar bem apresentável…
Os meus clientes queriam sempre pagar menos e que, ainda assim, eu fizesse maravilhas…
Quando me perguntavam em que é que eu trabalhava, tinha sempre dificuldade em explicar com precisão…
Quando as coisas davam para o torto era sempre culpa minha…
Todos os dias, ao acordar, pensava e dizia para com os meus botões: NAO VOU PASSAR O RESTO DA VIDA A FAZER ISTO!!!!

Então? Qualquer semelhança com uma prostituta não é pura coincidência.

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