É de noite que me lembra o dia
Ontem fui ver o pôr-do-sol à Costa da Caparica. A tarde estava fresca mas agradável. O dia tinha sido uma estucha de dor e trânsito. Esta cidade está pior. Quando escrevo pior deveria relativizar. Eu deveria ter dito pior do que eu esperava que estivesse ou, pior do que eu acho que deva estar. Mas pior chega. Chega para perceber que cada dia que passa menos me agrada o funcionamento da minha Lisboa.A manhã quase toda sem me poder mexer, devido à maldita ciática. O almoço agradável, uma pizza feita pela minha filhota, leve, como se quer para quem teve de juntar o pequeno-almoço ao almoço. Depois, Lisboa. Os buracos, o trânsito caótico e o pagamento duplicado do estacionamento. O tipo que acena com um jornal ou revista enrolado, um lugar que eu já descortinei antes, um “destroce, destroce”, um “oh amigo, não se arranja aí uma moedinha?”. Não conheço o tipo de lado nenhum, qual amigo? Não sei porque tenho de lhe dar a moedinha, mas dou-lhe. Eu próprio a alimentar as faltas de soluções desta cidade, deste país. Só depois me lembro que fiquei sem moeda para o parquímetro. Um quiosque ou um café, um jornal ou uma bica, sempre se arranja trocos. Desvios de trajectória por causa das obras, avenidas de 3 faixas, reduzidas a duas, porque há uma segunda fila de estacionamento paralela, tipos que saem deste, sem piscas, taxistas que entram à “má-fila” e fazem a rotunda sempre por fora, onde quer que seja que vão, pois os outros que cedam, e não escrevo mais, porque reviver o pesadelo desta Lisboa, dos tapumes de mamarrachos em construção, dos parques mayeres prometidos, dos túneis caprichosos, dos tipos com um rolo de papel na mão, reviver o pesadelo. Felizmente, havia pôr-do-sol na Costa da Caparica.
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