389. Janis
À noite, assim por estas horas tenho vontade de escrever. Nem sempre sei o que quero escrever, nem sempre sei se deva escrever. É certo que a maior parte das vezes são diálogos comigo próprios. Monólogos bipartidos.
- Porque não escreves?
- Não tenho nada para dizer
- Mas estás com vontade
- Estou…
E fico no silêncio das palavras pensadas. Rebobino as emoções, transponho-as em forma de pensamento, transporto-as de cá para lá.
-Escreve-as.
-Para quê?
-Para partilhá-las.
Coloco a máscara. Só uma dor física me é visível no rosto. Escondo-o, se me deprimo. Só partilho as boas emoções. A minha aura é para ser lida como de felicidade. Somar negativos dá sempre negativos. Até na aritmética.
- Então partilha as boas. Canta.
- Não tenho voz (e solto uma gargalhada)
- Conta uma anedota
- Não vês que não posso? Conto a quem?
Dizes isso porque nunca tiveste um motivo sério para seres triste. Sim já tive. E depois? Vou viver toda a vida triste? Lembras-te da última vez que fui à farmácia a quantidade de anti-depressivos, ansiolíticos e outras drogas para dormires? Lembro-me, sei que estás meio louco…
- E vais continuar a rir?
- Que adianta chorar?
- Então não escrevas, vai dormir.
(este é dos que pensa que só se escrevem coisas tristes…)
- A noite não foi feita para dormir.
Coloco um disco da Janis Joplin. A sua voz rouca e dengosa faz-me tremer. Nunca percebi porque tremo quando escuto uma voz rouca de mulher. Mas ainda assim, é uma emoção boa. Boa demais. E estou aqui a partilhar me and bobby mcgee. É uma coisa boa.
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