terça-feira, maio 25, 2004

396. Bom Dia!

- Estás com uma cara horrível.
- Tu também, disse eu para o espelho.
- Mas a mim passa-me, basta que te vás embora.

O meu espelho a responder como se fosse gente. Logo o meu espelho que não pensa, a fazer um raciocínio lógico. Voltei para trás e fui-lhe responder à letra.

- És um insensível. Não sabes que não dormi esta noite?

Virei-lhe as costas. Este espelho irrita-me. A sua insensibilidade é aterradora. Só está bem comigo para me ajudar a ajeitar o nó da gravata. Até a pentear me contradiz. Faz sempre o risco no lado errado da cabeça. Mas nunca me vira as costas, é uma verdade. Ou se vira eu não vejo. Mas porque é que eu hoje acordei a embirrar com espelho? Que culpa é que ele tem da ciática não me ter deixado dormir? Que culpa é que ele tem de eu estar cheio de borbulhas?

E vós, amigas leitora e amigos leitores, que culpa é que tendes de eu hoje estar meio esfarrapado? Nenhuma evidentemente. Eu vim aqui para vos desejar um bom dia e, desculpem a sinceridade, também para me desejar um bom dia a mim próprio. É que bem preciso.

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