397. Simétrico
Entrei no carro e um barulho estranho emanou dos altifalantes. Não sei o que era, nem me preocupei em saber. Saía da track 5. Deve ter sido o João quem pôs o CD no leitor. Se o pôs é porque o queria ouvir, por isso não o tirei. Não tenho vontade de tirar discos do leitor de CDs. Um condutor não fez piscas na rotunda e apesar do som da track 5, adivinhei para onde ele queria ir. Provavelmente não estava com suficiente atenção ao som que saía da track 5. Eu não costumo adivinhar coisas. Já tentei mas estou com medo que me acusem de bruxaria. Ultimamente andam a acusar-me de muitas coisas, mas desta vez eu juro que não fui eu quem pôs aquele disco no leitor. Tive dificuldade em sair do carro, porque a perna teima em doer-me, mas saí. Não ía almoçar no carro, para não me acusarem de sujar os estofos. Não o vi entrar na porta do prédio, deve ter entrado sorrateiro. Só dei por ele quando entramos ao mesmo tempo no elevador. Não sei porque é que ele entrou pela porta das traseiras e se aproximou tanto de mim. Olhei-o e disse-lhe, ‘hoje não tens tantas borbulhas’. Ele mexeu os lábios mas não emitiu qualquer som. Pelo menos eu não o ouvi, porque só a minha voz acompanhou o barulho do motor na subida. A vitela estava boa e o Palmela óptimo. Só não sei porque é que ele usa o risco à direita.
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