quarta-feira, dezembro 31, 2008
1323. E... tchin tchin
terça-feira, dezembro 30, 2008
1322. Às terças...
Quando tu não estás,
Nem sei. Fico assim
No desespero da espera…
Riscando fósforos em lixa gasta,
Enfumando os céus de raros odores
Alisando pedras que os meus pés calqueiam
Transportando o pensamento para além do cônscio
Ensimesmando-me .
Saudade.
Mas quando te vejo ao longe
Afogo canículas em brisas de desejo.
Versos de PreDatado©2008
Foto de Victor Ivanovski
segunda-feira, dezembro 29, 2008
1321. Duplos sentidos
- Que foi?
- Estou com medo
- De quê? Dos disparos?
- (…)
- Isto é só uma máquina fotográfica.
-(…)
- Um auto-retrato, entendes?
- Tenho medo, já disse…
- Maricas!
- Tenho medo de ficar mal na fotografia.
(O meu espelho tem destas tiradas mas eu não corroboro os seus receios; ele é um menino muito bem comportado)
domingo, dezembro 28, 2008
1320. Cena 437
Garfo de 3 dentes (Gd3D) – Diz-me o que foste fazer a Lisboa?
Dona de Casa (DdC) – Nada que te diga respeito.
Gd3D – Não me queres contar, não é?
DdC – Não tenho nada para te contar.
Gd3D – Foste ter com ele, eu sei!
DdC – Estás a delirar. Nem sei do que estás a falar…
Gd3D – Estou a falar dele e tu sabe-lo bem.
DdC – Mas eu nem sei se…
Gd3D – Não te desculpes, está farta de mim!
DdC – Não meu querido, Eu amo-te como nunca amei nenhum outro garfo de 3 dentes.
Gd3D – Dizes isso pelo teu amor a Espanha e não a mim, tenho a certeza.
DdC – Não sejas tonto. Tonto e ciumento! Esquece o caso, vá lá, não te atormentes.
Gd3D – Esquecer? Como é que posso esquecer? Além de tudo é uma afronta. Diz-me é mesmo ele?
DdC – Ainda não tenho a certeza. As únicas coisas que me apresentou foram uns púcaros e umas travessas de inox.
Gd3D – Eu sabia (deixou cair uma ligeira lágrima de gordura - olha afinal sempre havia narrador). Eu sempre desconfiei que te tinhas ido encontrar com esse vendedor depravado.
DdC – Vou-te confessar. Ele não tinha com ele nenhum talher completo.
Gd3D – É agora que me vais substituir por um garfo de 4 dentes não é? Eu bem devia ter desconfiado quando me adoptaste lá naquele restaurante de Talavera La Reina (aqui cabe ao narrador, que aparece pela última vez, dizer que aquele garfo de 3 dentes tinha sido roubado de um restaurante fino, pelo Chefe de Família depois de ter bebido uma garrafa inteirinha de um Valedepeña, rojo, de estalo mesmo, a acompanhar umas choletas de cochinillo al horno). - Eu sabia que toda aquela conversa com o teu marido de Devolve o garfo e tal, era só para espanhol ver e que, quando por fim não conseguiste vergá-lo e me decidiste adoptar não te irias acostumar com um garfo de 3 dentes.
DdC – Deixa-te disso, deixa-te de lamúrias, afinal nós não costumamos comer tortilla de patata nem calamares a la romana, mas sim esparguete com panadinhos de porco e dobrada com feijão branco. Bem vez que um garfo de 3 dentes não tem vocação para tais pitéus.
Gd3D – (resignado) – Fecha essa porta vai, fecha essa maldita porta da máquina que eu quero tomar um banho e depois dormir descansado na gaveta de cima. Bruxa! (o narrador não cumpriu a palavra de ter sido a última vez que interveio, um pouco mais acima, pois tinha de retratar este estado de espírito, de resignado, do garfo de 3 dentes que até se atreveu a chamar Bruxa à Dona de Casa).
PS. 1 - Este diálogo, se houver necessidade de encher chouriços na elaboração do resto da novela, pode ser prolongado por vários minutos. 2 – Qualquer semelhança entre esta cena e uma cena de uma qualquer novela actualmente a correr na TVI é pura coincidência.
sexta-feira, dezembro 26, 2008
1319. Histórias de Viagens (i)
Tinha ido duas vezes a Paris para reuniões de trabalho quando no regresso de uma, chamado pelo meu patrão para que lhe fizesse o balanço e conclusões da viagem ele me perguntaria o que tinha eu achava da sua cidade. Respondi-lhe que com grande pena minha teria de responder que o aeroporto era interessante, o hotel óptimo, o jantar delicioso e a sala de reuniões, quente. Quando à cidade-luz, propriamente dita, eu não tinha opinião pois que mais não vislumbrei que ténue eifeliana silhueta pelas foscas janelas do táxi, ademais que nesta última visita chovia água, como diz o povo que é sábio nestes dizeres, que Deus a dava. Levei logo ali uma espécie de reprimenda como se tivesse sido ofendido e de ‘castigo’ estaria eu, desde já que o homem não era de adiar assuntos, intimado a não voltar a Paris sem tirar uns dias, que com muito prazer a empresa me ofereceria para visitar e conhecer um pouco melhor Paris. Refeições, deslocações (se bem que andei que me esfalfei a pé) e entradas em locais culturais (moulin rouge não incluído), também seriam oferta. É assim que viajo de facto, sendo a terceira, a primeira vez a Paris com olhos de ver sendo que o trabalho funcionou apenas como pano de fundo. E foi também aí que me dei conta de duas coisas que se viriam a confirmar por mais uma boa dúzia de outras cidades que visitei, que há portugueses espalhados por tudo quanto é cantinho do mundo e que eu tenho olho, dizem que de lince, para os detectar sem que outro indício me seja dado. Se bem que em Paris não seja nenhuma oxaria encontrar um português ou dois ou até três, a verdade é que entrando numa linha de metro e ficando às tantas incerto se teria tomado a boa direcção, dirigi-me a dois casais de adolescentes que encontrei no cais e perguntei em português como se estivesse a caminhar por uma rua de Almada (aqui sim com grande probabilidade de me dirigir a um ucraniano), Esta é a direcção certa para a catedral de Notre Dâme?, É esta mesmo meu caro senhor, também em português. E como complemento ainda tive de agradecer mais algumas informações turísticas que os jovens me deram em português com sotaque parisien.
PS. O PreDatado escreveu várias destas histórias de viagens no falecido blog colectivo "ante-et-post". Irão ser aqui reproduzidas algumas delas em companhia de novas histórias, tal como é o caso de hoje, que nunca foram passadas a blog.
foto de PreDatado
quarta-feira, dezembro 24, 2008
segunda-feira, dezembro 22, 2008
1317. Ele está à porta, ai está, está...
Continuando na senda da internacionalização do PreDatado venho informar-vos que amanhã não publicarei o meu habitual post das terças-feiras. Oooooooohhhhh , de decepção, estão todos neste momento a exclamar em coro, mas com sotaque inglês, uma vez que o Pre está a fazer o tal esforço para ser conhecido em todo o mundo. Meus amigos e minhas amigas leitoras que é como quem diz Ladies and Gentlemen ou até mesmo Damen und Herren, não traduzi o leitoras e leitores como já devem ter percebido. Estamos em período natalício e todas as louvas devem ser endereçadas a Jesus e Maria, sua mãe, pelo que não ficaria bem aqui um poema de amor a Maria minha mulher que se lembrou, e em boa a hora o fez, de parir em Maio e Fevereiro pelo que este não é seguramente o mês dela. Se bem que para mim seja todos os dias Natal, Noel, Christmas, Navidad e até Πόλη, devemos deixar que pelo menos este dia 25 seja dedicado à Santíssima e a seu glorioso filho, Jesus.
Tenho também a informar-vos (e a mim próprio para memória futura), que este ano terminei as minhas compras de Natal, no que a presentes diz respeito, pois o bolo-rei, os sonhos, as azevias, as broas castelar, os coscorões só os comprarei na véspera, dizia eu, terminei as compras de Natal a vinte e dois do doze pelo que a chamada lufa-lufa (será lufa-lufation em inglês?) de última hora não baterá nesta porta.
Assim para que se prove que não estou a mentir deixo-vos com o meu sapin de noel ou até mesmo com a minha christmas tree e se não for exagero e não se enfadarem também com la arbole de navidad (i.e. Різдвяна ялинка), com os ditos cujos (presentes para a família) à volta da mesma e obviamente desejando a vosotros, to you, à vous, till dig, aan u, e a todos vós minhas querida e meus queridos, um FELIZ NATAL!
PS. Eu também sou engraçadinho sem renas, não sou?
sexta-feira, dezembro 19, 2008
1316. Chuteiras
Consta que certo craque, de outros tempos, descoberto na rua em peladas de solteiros e casados, terá sido “contratado” por um clube grande de Lisboa. Recusou-se sempre a treinar calçado sendo que, mesmo descalço não havia bynias (estou a falar em bynias dos anos 50, obviamente) que o travassem. Como não podia deixar de ser, rapidamente acabou convocado para um jogo oficial. Equipamento à maneira, lavado e passadinho a ferro, meias novas e… tchan, tchan, tchan, tchan… chuteiras. Oh caraças, chuteiras! Calçou pela primeira vez umas chuteiras (crê-se que calçou algo pela primeira vez). Bota direita no pé esquerdo, bota esquerda no pé direito. Ao lado, um colega, vendo-o naquela triste figura não deixou passar, Ouve lá, oh fulano, tens as chuteiras calçadas ao contrário, Shiuuuu, não digas nada, é só para enganar o guarda-redes!
Pois eu também acho que anda por aí muita gente a enganar guarda-redes. Ai não que não anda.
Foto das chuteiras achada num leilão de um fórum de 2007, pelo que o lance já deve estar desactualizado.
quarta-feira, dezembro 17, 2008
1315. Do Moleskine para o Blog
Os clubes de futebol lamentam-se da concorrência desleal. Consideram um atentado à verdade desportiva existirem clubes que contratam jogadores, formam boas ou razoáveis equipas e, depois, não cumprem as suas obrigações sociais, fiscais e salariais. Está neste caso, por exemplo o Estrela da Amadora (entre outros que ainda não foram revelados). Ora, os jogadores do Estrela têm vindo a ameaçar com greves para as desconvocarem logo de seguida. E isto porquê? Porque se isso viesse a acontecer o mais certo era o Estrela ter de acabar com o futebol profissional e os jogadores irem directos para o desemprego. Quantos clubes da 1ª e da 2ª liga já alguém viu reunirem e aprovarem uma medida que reintegrasse estes jogadores desempregados nos seus planteis? Nenhum, é claro. Na realidade essa da falta de verdade desportiva é muita basófia.
Neste momento todos, ou quase, no PSD, acham um bom candidato Pedro Santana Lopes à Câmara de Lisboa. Parece-me que Pacheco Pereira não acha assim e até faz uma crítica interessante, sem tocar no assunto, ao publicar no Abrupto um excerto de Fradique Mendes. Quero ver se vai vestir fato igual no futuro ou se pelo contrário vai criticar explicitamente a sua Dama de Ferro (?). Olhe que o tesourinhas está à sua espera Sr. Pacheco, para lhe moldar a sobrecasaca.
Com o meu dinheiro não é? O Sr. Primeiro-ministro informou hoje, com toda a pompa e a circunstância que o debate quinzenal proporciona, que iria emprestar mil milhões de euros à CGD, que é como quem diz que a CGD iria fazer um aumento de capital nesse montante, para incentivar a economia, emprestando o dinheiro às PMEs. É uma acção muito louvável. O Sr. PM está mesmo preocupado com a economia. Pois bem e como é que isto se faz? Naturalmente com a emissão de dívida pública. Até aqui tudo bem, subscreve quem quer e principalmente quem pode. E como se remunera esta subscrição? Com o pagamento de juros é claro. De quem é esse dinheiro de quem? De todos nós! Dos contribuintes. Ah pois é, eu com o dinheirinho dos outros também sou mestre em economia.
Hoje foi dia de pais. Levei a minha mãe ao cabeleireiro, à manicure, depois juntou-se-nos a minha filha e almoçamos os quatro. Algumas compras pela tarde e umas dores incríveis nos pés. Atribuí às voltas dadas que não foram poucas. Quando em casa, já sentado no sofá, me comecei a descalçar reparei que andei o dia todo com os sapatos do meu filho.
PS. Eu também quero uma foto da Marylin.
Foto extraída daqui
terça-feira, dezembro 16, 2008
1314. Às terças...
Aperto-me em ti, minhas mãos já sentes
Aqueço meu corpo, em ti me esfrego.
Beijo. Em ti em mim, nossas bocas quentes
Suo em ti porque a ti me entrego.
Enlaço em ti tresloucado, as coxas
E deslizo em ti com leveza de alma.
Encosto em ti minha face. Nossas faces roxas
De rubor que em ti nem a noite acalma.
Depois… depois expludo em ti
E tu, em mim, tremes em meus braços,
Em mim, paixão tal que nunca vi.
Por ti e para ti risquei estes traços.
PreDatado©2000
Foto Lorenzo Renzi via Imagens
segunda-feira, dezembro 15, 2008
1313. Um post imbuidíssimo
PS. Olha, olha o Pre a criar odiozinhos de estimação…
sábado, dezembro 13, 2008
1312. O som das palavras
sexta-feira, dezembro 12, 2008
1311. Momento Ecológico
O pai pescador, a mãe pescadora, o filho pescador.
O avô pescador também.
O rio e a barragem.
As canas de pesca os anzóis afiados.
De dupla barbela.
Os achigãs, as carpas e os barbos…
Um a um introduzidos na manga.
Fizeram uma caldeirada de avô e avó.
Vazaram a manga na barragem.
Para preservação da espécie.
PreDatado©2004 (in Livro das Artes)
Foto: PreDatado
quinta-feira, dezembro 11, 2008
1310. Noticiário
Direitos do Homem. Ontem comemorou os 60 anos. Eu que ando mais ano, menos ano por aí fui muito menos vezes violado.
Educação. A ministra acabou de entrar na reunião com os sindicatos. Aos jornalistas pôs a tocar a cassete. Não respondeu a nenhuma pergunta feita por eles. Que falta de educação.
Ao Sporting poderá calhar entre outras, nos quartos da Champions, o Manchester United. Por acaso gostava de ver o Cristiano Ronaldo voltar chorar depois de marcar o golo que eliminasse o Sporting. Isso sim, seria sportinguismo.
O procurador do Ministério Público terminou as alegações finais no caso Casa Pia. Parece que pediu penas de prisão para todos, em tempo que não permita penas suspensas. Consta que se os arguidos não forem condenados, alguns procuradores poderão imigrar para Chicago. No estado do Illinois é possível serem condenados os poderosos.
Poder de compra. Portugal situou-se em 19º lugar no 'ranking' do PIB per capita em Paridades de Poder de Compra dos 27 países da União Europeia (informação do INE). Bom já não é chita, desta vez não somos o último. E penso mesmo que estaríamos nos 3 primeiros se tivessem sido somados o ordenado do Governador do Banco de Portugal e os rendimentos do Dias Loureiro.
Ali Alatas, morreu hoje com 76 anos. Por morrer o Ali há latas não acabaram os ecopontos amarelos. Que piada mais estúpida.
quarta-feira, dezembro 10, 2008
1309. Da janela do quarto dele
- Ai, estamos mal a falar de bola a estas horas, ripostei ainda esfregando os olhos com sono.
- Qual bola, meu? Não é desse, é do teu, informou-me deixando-me perplexo.
- O que é que queres dizer com isso? – acabei perguntando eu que até lhe conheço as artes, a música, a pintura, o design e outras, mas que quando acordo ainda tenho uma série de interruptores desligados.
- Para escrever, homem. Já leste o blog dele?
(…)
Acabei de fazer a barba e de lavar os dentes. Não continuamos o diálogo. Aliás nesta altura eu ainda só tinha a pestana do olho direita levantada. Nesta pausa na conversa com o meu espelho, continuei a tratar de mim. Tomei o meu comprimido diário para a hipertensão, tomei banho, preparei o pequeno-almoço, comi e vesti-me. Vim também ao computador ler os títulos dos jornais da manhã e obviamente ler o blog do garoto. Voltei ao espelho ajeitando o nó da gravata.
- Se eu tivesse a paisagem que ele tem da janela do quarto dele também eu me inspiraria assim, disse-lhe em tom meio de desculpa, meio de justificação, enquanto sacudia um cabelo na banda do blaser, dando-lhe a entender que já tinha ido ler o blog do rapaz.
(… deu uma gargalhada, como quem pergunta: o quê tu?)
- O quê tu? – perguntou.
- Sim eu, respondi-lhe peremptório – Ou achas que não sou capaz? Ainda lhe perguntei enquanto me “despenteava” com o gel, wet effect.
- Vaidoso – terminou, acabando por me virar as costas.
(ainda gostava de saber porque é que este meu espelho me vira sempre as costas em fim de conversa)
PreDatado©2008, in Conversas com o meu espelho
Foto, Lausanne, “da janela do meu quarto”, João Capote
terça-feira, dezembro 09, 2008
1308. Às terças...
Caminhando enredadas como nós nas minhas,
Acariciando meu corpo de desejo ardendo,
Ardendo, como em piras se incendeiam pinhas,
Ou geladas, por vezes, vão de frio tremendo,
Na lida, como mulher, só mulher o sabe,
Banhando os filhos, como mãe ternura,
Talhando um fato (tomara que acabe,
Pois meu corpo reclama para si ternura),
Artesãs inatas, ou por ti criadas,
Encetam obras qu’ inda mal findas,
Já carinhosas são, doces de cetim forradas,
São lindas, meu amor, tuas mãos são lindas.
PreDatado©2000
Foto Dominique Lefort (DomiL)
sábado, dezembro 06, 2008
1307. Com amigos destes...
PS. Obviamente que é uma brincadeira. Gosto muito de vocês AR (aka Karla) e do M. Um grande abraço muito apertado para ambos. E obrigado, mesmo que por uma “má causa” de se terem lembrado de mim. Ah e mais ainda. Esta foto, da cadeia do Atlas nevada, foi tirada pela AR que teve a gentileza de ma oferecer. (Já vos tinha dito que deveriam clicar nas imagens para as verem com mais pormenor?)
sexta-feira, dezembro 05, 2008
1306. Artes
Abriu um caderno em branco.
Rabiscou duas linhas na primeira página
E foi dormir.
Às seis em ponto da tarde
Chovia e a chuva molhava-lhe
Os pensamentos.
Acordou, tirou o lápis de trás da orelha
Abriu o caderno quase em branco.
Acabou de o preencher.
Deu-o a ler, o editor num movimento suave
(como devem ser suaves os movimentos com as mulheres),
Mas decidido
(como devem ser decididos os movimentos dos editores),
Jogou o manuscrito no lixo de papéis.
É bem feito!
Quem manda a escritora
Pegar no lápis ainda húmida?
Versos de PreDatado©, 2004
Este e outros poemas em Livro das Artes
Foto de Pascal Triponez via Imagens
PS. Alves Fernandes é o meu nome. Os meus quadros (acrílicos e óleos sobre tela) são assinados como Alves/nn sendo nn o ano da sua execução. Os meus poemas foram na blogosfera também assinados como Alves ou Alves Fernandes em alguns posts ou blogs, mas geralmente como PreDatado. Qualquer destes poemas pode ser copiado, transcrito em outros blogs, musicado e cantado. O mesmo se aplica a quaisquer outros dos meus textos, bem como as fotos de minha autoria aqui colocadas ou no meu outro blog, fotos do Pre, sem consentimento prévio do autor. A única exigência sob pena de violação dos meus direitos, é a de ser referido o autor e a origem da cópia. Obrigado.
quinta-feira, dezembro 04, 2008
Hoje acordei com tanta vontade de escrever que até as pontinhas dos dedos estavam excitados. Quedei-me , no entanto, uma vez mais num dos meus useiros e vezeiros dilemas que me deixam assim como que meio atrofiado. Não sabia se haveria de escrever sobre um tema quente da actualidade ou se haveria de me remeter aos habituais faits-divers que entretêm e deixam que por momentos nos esqueçamos da crise (crisis? what crisis? Supertramp, 1975). Bom, temas quentes da actualidade é quase um obsceno contra-senso. Com o briol que tem estado nestes dias (não repararam ainda, vós que ledes a blogosfera de fio a pavio que não há blogger ou bloggera que ainda não tenha falado do frio, como se o normal, nesta época do ano em Portugal, fosse fazer aquele calorão de rachar?), não há temas quentes. Ups! Acabei de me juntar ao grupo, também falei do frio. Quanto ao fait-diver, que contrapõe a temas importantes mas muito desinteressantes, temas interessantes mas que não têm a mínima importância (onde é que eu já li isto?), o busílis da questão foi ter por onde pegar. Quando fiz (desfiz, para os meus amigos do Norte, carago!) a barba ainda esperei que o meu espelho me dissesse algo, mas ele limitou-se a assobiar o que, diga-se de passagem, não foi muito propositado já que me salpicou todo de espuma de barbear, podia também falar-vos dos meus gatos mas não seria tão interessante como falar daquele gato do dono de um restaurante – passava há pouco um documentário no NGC – na Tailândia onde o calor era tanto que o gato ia dormir para o frigorífico, fui ao café e que, incluindo os três estrangeiros que lá estavam, digo isto porque quando eu disse “bom-dia” em alto e bom som nenhum respondeu, só podiam ser estrangeiros que não perceberam patavina, nada de interessante se passava por lá. Ninguém a falar mal da ministra da educação, nenhum pai, por acaso não filiado na Associação Nacional de Pais (já agora gostava de saber quantos são) chamava nomes aos professores e nem aquele boçal que lá costuma estar a dizer que isto só lá vai é com outro salazar, pairava por aquelas bandas. Li o jornal desportivo e não encontrei ninguém a falar mal do Scolari ou a elogiar o Queiroz, hoje era só Cristiano para aqui, Ronaldo para acolá, os frangos do guarda-redes Quim parece que já estão esquecidos, acabei por, um dia mais cedo do que o habitual, o que me vai deixar sem tema para amanhã, por, dizia eu, ir de novo meter os papeis para a reforma e regressar ao escritório. E de repente EUREKA, já sei , vou escrever um poema sobre o mar. E já me saiam as primeiras estrofes oh mar salgado quanto do teu sal são lágrimas de Portugal, quando me lembrei que isto já tinha sido escrito por alguém antes de mim. Fiquei tão deprimido que resolvi não escrever a ponta de um corno e limitei-me a postar uma fotografia de Olga Volodina.
quarta-feira, dezembro 03, 2008
1. Do irmão (mais novo)
Eu bem sei que o Romeira – Reserva 1999 – DOC não é o melhor vinho do mundo. Mas é um excelente vinho aqui da nossa região que te ficaria bem se acompanhasses com um cabrito no forno à padeiro ou com uma boa costeleta de novilho na grelha. E até podias ter começado com um queijo de Azeitão.
Também sei que és Prof. Dr. Engenheiro e que portanto és chique e não bebes qualquer zurrapa que te ponham à frente.
Agora, vires-me contar que acompanhaste um hambúrguer comprado no McDonald’s com Romeira, Reserva de 1999 só podias levar com um post! Eu avisei-te! Ou querias que eu te oferecesse uma coca-cola?
2. Do pai
Muito à frente. Muito à frente mesmo. Conversávamos sobre constrangimentos no consultório.
Inicio dos anos 60. O meu pai estava em formação / laboração na Suécia. Uma micose numa virilha levou-o ao consultório do médico de trabalho. Para atendê-lo duas médicas. Com a ajuda do tradutor, o meu pai fez saber que tinha vergonha de mostrar as partes às senhoras. Em Portugal não era assim. Médicos para homens, médicas para senhoras. Pelo menos no que dizia respeito a tratamentos de locais mais íntimos. E assim lá veio um médico atendê-lo.
Muito à frente, digo eu. Aqui, ainda hoje, se queremos um médico de uma especialidade esperamos 3 meses. Lá havia uma médica para cada testículo. Muito à frente.
Foto de Kathie Fry in www.SkateLog.com
terça-feira, dezembro 02, 2008
1303. Às terças...
Sementes
Aos poucos aquele grãozinho que parece areia vai-se aproximando
E não é de areia mas parece areia de tão pequenino que é o floco
E aquele floco se enrola em outro floco e não é mais um grão de areia, é uma semente de neve.
E a neve se semeia em bola que cresce e, bola de neve se transforma em bola de neve,
Como um olhar que começou num olhar e se enrolou em outro olhar…
E de um beijo se fez dois e de dois se fez semente de abraço;
E o abraço se semeia em outro que já não é mais um abraço mas apenas um corpo de dois.
Como se tu foras a minha bola de neve.
PreDatado©2008
Foto “Beijo” (colecção particular do autor)
sexta-feira, novembro 28, 2008
1302. Bom fim-de-semana
Presença
Às vezes sonho que é noite e a noite está escura.
E a noite cheira a noite como o dia tinha cheirado a noite também.
Uma luz pequenina, ainda nem quarto crescente,
Uma luz pequenina impenetrável pelas frinchas da janela
Uma luz que teima em não entrar.
E sem luz não vejo o teu corpo e só te sinto.
Então, acendo a noite com uma acha de arco-íris
E a noite se faz dia a cheirar a noite e já te vejo.
E sinto-te só de te ver.
PreDatado©2008
Foto de Roman Tkachenko
quinta-feira, novembro 27, 2008
1301. Eu também gosto de discorrer sobre a coisa pública
(Eu ía deixar um comentário neste post do Ferreira-Pinto; às tantas o texto já ía longo, escrito ao correr da pena, sujeito a erros de teclagem, de sintaxe e até de um ou outro ortográfico. Peguei no texto, levei-o ao word para ter uma visão global e corrigi-lo e, de repente, arrependi-me de lá deixar como comentário. Transformei-o em post. E como gosto de uma boa polémica, vamos lá, não se acanhem e comecem a dar-me na cabeça se faz favor. A caixa de comentários é vossa. os poemas voltam dentro de momentos).
Na realidade embora eu ache que o artigo do Ferreira-Pinto atire em várias direcções, na sequência da referência inicial - “Perante os tempos extraordinários desta crise do capitalismo, a Esquerda tem a missão urgente de encontrar uma alternativa de poder, deixando de lado velhos dogmatismos” defenderam em uníssono Paulo Pedroso, Francisco Louçã e Paulo Fidalgo (ex-PCP e hoje no Movimento de Renovação Comunista) na cerimónia de apresentação do livro “A Nova Esquerda”, de Celso Cruzeiro - foram expostas algumas ideias (embora eu não apadrinhe todos os pressupostos), que me parecem interessantes. Começando pela direita, área onde não me situo e que portanto me interessa apenas como parceira do jogo democrático é-me, completamente indiferente que se refunda, que crie um novo partido ou que se extinga, paz à sua alma. De Santana, inclusive, para a direita estamos conversados. Quanto ao centrão que nos tem governado, PS e PSD concordo com Ferreira-Pinto na sua refundição. No entanto, para mim, a sua fusão (e refiro-me ao PS actual e à sua entourage) seria nem mais nem menos que amalgamar as duas não-correntes ideológicas existentes em Portugal. De facto de um partido que é apenas uma feira de vaidades - PSD - onde ninguém se entende, onde cada líder fala o pior do líder anterior, onde cada líder é bombardeado até ao limite com o fim de o fazerem cair (mota pinto, balsemão, marcelo, santana, mendes, menezes e até mesmo ferreira leite) pelos próprios correligionários, não tendo mais inimigos internos porque não os há mais e, um PS que abandonou completamente qualquer teoria política de esquerda (nem mesmo a terceira via blairiana hoje pode ser considerada como base ideológica deste partido), ficariam muito bem nesse ramalhete. Teríamos, assim, até à eternidade, a governar-nos a pior coisa que qualquer pais pode ter - e não é o que tivemos quase sempre? - a maximização do vazio ideológico. Quanto à esquerda, pode até ser que os velhos paradigmas e a ortodoxia vão parar ao caixote do lixo. Mas eu - velha mentalidade - não o acredito. A(s) esquerda(s) têm os seus próprios espaços, formados desde a revolução francesa, que já passaram pelas mais diversas "grupagens". Não será possível, nem nos tempos mais próximos, sob pena de se mandar às urtigas toda a riqueza ideológica da esquerdas, a não ser por estratégia eleitoral ou pela tal "alternativa" de governo, a que eu chamaria uma certa - eufemismo - sede de poder, juntar fraternalistas, malreauistas, anarquistas, marxistas, trotskistas, leninistas, maoistas e porque não, até, stalinistas. Se no caso que falei, do centrão, é a ausência de referências ideológicas que permitiria a tal amálgama, esta, na esquerda seria uma mistura explosiva de -ismos que mais cedo ou mais tarde explodiria com certeza. No entanto e apesar destas considerações tenho o espírito aberto para esperar e ver no que dá. Só não gostaria de ver nascer um PPD/PSD/PS de esquerda.
Imagem encontrada aqui
quarta-feira, novembro 26, 2008
Vamos,
Dá-me a mão, amor
Vamos abraçar a montanha.
Hoje não escreveremos poemas,
Nem saudaremos amigos,
Nem escutaremos música.
Hoje vamos passear na montanha.
Aqui está muito frio.
Na montanha está muito frio também.
Mas lá tem neve.
Vamos abraçar a montanha, amor.
PreDatado©2008 (inspirado na foto de João Capote e em “Brisa” de Manoel Bandeira)
terça-feira, novembro 25, 2008
Como um murmúrio de fado
Como um murmúrio de fado,
De amor e só de amor
Numa estranha melodia,
Em ritmo descompassado
É do coração tremor
E da paixão fantasia.
Nos alvos lençóis de linho
Que nos cobrem por pudor
Há um vulcão acordado;
Começa a soar baixinho
(Mas não com menos calor),
Como um murmúrio de fado.
E num silêncio abafado
Que em teu rosto rubra cor
Teus intentos, denuncia,
Construímos nosso fado
De amor e só de amor
Numa estranha melodia.
Quando esse vulcão explode
De êxtase e desvario
Resto-me em ti abraçado
E, a lava que eclode
É como um fado vadio
Em ritmo descompassado.
Dois corpos um só desejo
Que neste fado a rigor
A guitarra desafia,
Seja uma nota ou solfejo
É do coração tremor
E da paixão fantasia.
Versos PreDatado©2008
Foto de Paulo Costa retirada aqui do seu blog
domingo, novembro 23, 2008
1298. Lunch Time Blog
A cara com que me apresentei ao espelho era a minha testemunha. Não sei o que é que vou escrever hoje, disse, Vai mas é dormir, responde-me o espelho, que é como quem diz, Não estás com cara nem para levar duas bofetadas. Ainda assim, peguei na escova de dentes, o espelho fez duas caretas, se há coisa que nestes cinquenta e três anos de existência que ele nunca gostou foi do sabor da pasta de dentes, e depois na gilete. Admirou-se. Tirando os dias em que há obrigações sociais nunca me viu fazer a barba aos Domingos. Não gosto nada de espelhos pedantes, daqueles que, simples imagens, tendem a ser mais do que os próprios objectos que lhe dão forma. Virei-lhe as costas e fui tomar banho. Não sei o que é que vou escrever hoje, pensei em voz alta, esperando que o chuveiro me respondesse. Mas o meu chuveiro apesar de todos os furos com que se apresenta e da capacidade de transformar a água fria em quente e vice-versa, está a anos-luz da capacidade de argumentação do meu espelho. Fiquei entregue a mim próprio, até que, esquecido do que iria escrever no blog, resolvi ir cozinhar uma paelha. Qual quê, só tinha arroz, açafrão e pimentos vermelhos, não dava nem para pensar nisso. De repente ainda de toalha atada na cintura, enquanto me banhava em 212 for men no corpo e me “niveava” no rosto e sovaquinho , elaborei mentalmente a minha lista. E pouco tempo depois, após uma passagem breve pelo supermercado, onde fui sem ser em fato-de-treino, apesar do exercício físico que isso me proporcionou, aí estou eu munido dos camarões, das lulas, do presunto, dos mexilhões, das amêijoas, do tomate. Nem preciso de dizer que colorau, pimenta preta, sal e água fazem parte do que cá se gasta. Não perguntem ao Pré as quantidades porque o gajo só tem duas balanças. Um para quando se lembra de fazer um doce, não vá o açúcar atraiçoa-lo. Outra para ir medindo, dia a dia, o seu gradual aumento de peso. E já cá cantam 78. Pode ser que num PS ele se abra.
PS. 1. Foi a primeira vez que o Pre fez uma paelha. Mesmo assim teve a coragem de convidar os pais a virem provar a sua especialidade.
2. Todos os comensais tiveram o descaramento de comentar, Divinal! Bolas que a coisa estava mesmo boa.
3. O vinho foi um Torres, Sangre de Toro Reserva 2006. Da Catalunha. Poderia até ser outro, mas hoje teria forçosamente de ser espanhol.
4. Como entrada comeram-se umas amêijoas à Bolhão Pato. Acompanhamos com um Fonte de Nico, Vinho Regional das Terras do Sado. Esteve à altura.
5. 850 gramas de frango (coxas, cortadas a preceito), 3 lulas em argolas, +/- 150 gramas de miolo de amêijoa (fresca aberta na altura), 300 gramas de miolo de mexilhão (também fresco aberto na altura), 150g de gramas de presunto, 2 dentes de alho finamente picados , 4 tomates pelados de conserva, 1 pimento vermelho cortado às fatias finas, 200 gramas de ervilhas ultra-congeladas. Sal, pimenta preta, açafrão das índias e arroz agulha. Para decorar (e comer) alguns camarões previamente cozidos e alguns mexilhões em meia concha. (PS indiscreto)
6. Um dia destes, digo-vos como é que se cozinha. Hoje fiquem com as fotos.
7. Finalmente, eu que até nem uso, fico a pensar o que é que têm os snobs quanto a ir ao Domingo, ao super-mercado, vestido de fato de treino. Dasse que aquilo é pior que uma maratona!
8. Agora é que é finalmente. Ontem ofereceram-nos um vinho generoso do Douro, produção caseira. Só para vos fazer inveja e não digo mais nada!
9. Nunca escrevi tanto PS, até estou cansando. Vou lanchar. Até logo.
10. Eu deveria escrever qualquer coisa mais só para encher chouriços e para enquadrar as fotos com o texto , porque deixar a foto lá em baixo a boiar não está com nada. Depois de ter feito um primeiro publishing vi que havia desiquilibrio. Por isso vim aqui escrever isto que nem sequer tem nada a ver com o post só para não ficar assim meio coiso. Dá para perceber não é?
11. 2º publishing e ainda não ficou bem. E se eu fosse ali beber mais um cálice daquele Douro a ver se eu atinava com esta coisa, que acham?
12. Quando ampliarem a 2ª foto não liguem à cadeira partida. Foram os gatos que a atiraram ao chão e partiram. Desta vez o Schubert não esteve afim da minha paelha. Ele de facto é mais ração( e carapau).
Legenda: Primeira foto: Paelha. Segunda foto: paelha e vinho; Terceira foto: Paelha, Pre no meio da mãe e do sogro. Todas as fotos e outras que não foram publicadas da autoria da filha do Pre.
sexta-feira, novembro 21, 2008
1. Rotina alínea a). Às sextas-feiras final da manhã, quando dou por terminados os meus principais deveres semanais saio e vou “meter” os meus papéis para a reforma que é como quem diz não deixo de entregar na tabacaria um boletim de Euro milhões e outro de Totoloto. Até agora têm andado a protelar entregarem-me aquele montante que me obrigaria a ficar 50% do resto da minha vida de papo para ar.
2. Rotina alínea b). É também ao dia de hoje que me sento no café e leio os jornais que por lá há. Normalmente começo pelo Correio da Manhã, para ler aquelas 15 páginas de notícias de assaltos, homicídios e acidentes. Mas depois do acidente (ou suicídio?) da Selecção Nacional de futebol, no Brasil, pensei que acidentes por acidentes era melhor começar por ler A Bola. E assim quebrei uma rotina semanal.
3. Carlos Queiroz, alínea a). É-se preciso ter muito boa imprensa para se salvar um pescoço depois do desaire por 6 a 2 frente ao Brasil (e de todos os outros desaires anteriores). João Bonzinho na sua nota semanal em A Bola, escalpeliza entre outras coisas a má colocação dos jogadores em campo, com realce para os posicionamentos de Tiago, Danny e Simão, o erro que foi a substituição do melhor jogador da selecção (Danny) ao intervalo e, com muita acutilância – quase a metade do artigo – sobre a não convocação de Nuno Gomes, por todas e mais alguma razão que o jornalista expôs. No entanto no meio da crónica escreve “Mas é fácil, agora, apontar canhões e destruir o seleccionador. Não embarco nisso.” Ou a frase foi escrita sem querer, pois está completamente em contradição com o resto da crónica, ou de facto é preciso ter muito boa imprensa.
4. Carlos Queiroz alínea b). Ainda em A Bola, José Manuel Delgado, num artigo de análise à Selecção e à referida derrota escreve, “A Carlos Queiroz que não tem que provar nada, não basta assumir a derrota…”. Eu contraponho. Carlos Queiroz tem de provar tudo. Não basta ter sido campeão mundial de juniores há 20 anos atrás. Desde essa data pelo menos mais 10 treinadores foram campeões do mundo de sub-20 e nem dos nomes lhes ouvimos falar. Carlos Queiroz treinou antes a Selecção Nacional com paupérrima prestação e saiu batendo com a porta acusando tudo e todos menos a ele próprio. Carlos Queiroz pegou no Sporting e levou 6 em casa do seu maior rival, o Benfica. Foi apenas o culminar de uma época desastrosa. Carlos Queiroz foi corrido do Sporting pela porta pequena. Carlos Queiroz esteve à frente da selecção da África do Sul e não conseguiu qualificar os Bafana-Bafana. Claro que Carlos Queiroz foi despedido. Carlos Queiroz treinou o maior conjunto de estrelas que algum treinador já treinou numa só equipa. Carlos Queiroz acabou por ser despedido do Real Madrid. Esta é a carreira de Queiroz, salpicada de alguns títulos como adjunto no Manchester United. Tem ou não que provar algo meu caro José Manuel Delgado?
5. Manuel José. 4 Campeonatos do Egipto; 2 Taças do Egipto; 4 Super-taças do Egipto; 4 Ligas dos Campeões Africanos; 3 Super-taças africanas. Um dia, ao serviço do Benfica, perdeu um jogo com o Vitória de Setúbal, talvez um dos melhores jogos que eu vi o Benfica jogar nas últimas duas décadas, num ambiente totalmente adverso no estádio da antas, por interdição do campo do Vitória e, Manuel Damásio, na época presidente do Benfica, despediu-o. Injusta e ingloriamente. Este sim merecia que o deixassem provar qualquer coisa. Provar o sabor das vitórias à frente da Selecção Nacional. Mas parece que outros valores mais altos se alevantam.
6. Vanessa Fernandes e Nelson Évora. Merecidíssimos os prémios de atletas feminino e masculino, respectivamente, do ano atribuídos pela Confederação do desporto de Portugal. Sic transit gloria mundi, mas enquanto ela por estes dois passa que lhes sejam feitas as devidas vénias.
PS. Quando na minha roda de amigos e familiares expresso as minhas opiniões sobre o treinador Carlos Queiroz, oiço muitas vezes afirmações de que ele sabe muito de futebol , que como organizador de uma estrutura não há como ele, que é inteligente e bem formado. E eu concordo absolutamente com isto tudo. Mais ainda, simpatizo até com a sua maneira de ser. A Federação só fazia bem em mantê-lo para todas estas funções e entretanto contratar um verdadeiro treinador de futebol.
Disclaimer: Eu encontrei esta foto na net sem referência ao seu autor nem aos protagonistas. Como a foto estava num espaço público sem pedido de royalties e o gajo me parece ser o Cristiano Ronaldo eu tomei a liberdade de colocar aqui. Se por acaso não se tratar de nenhum jogador da Selecção Nacional o que passaria a não fazer sentido como ilustração do meu texto de hoje, peço desculpa aos meus leitores, ao fotógrafo e aos fotografados. Entretanto olhem-me para aquelas pernas lindas, vá lá.
quinta-feira, novembro 20, 2008
Acto Falhado
I Acto
Personagens: Casal nº 1, Casal nº 2, Homem do Casal nº1, Mulher do Casal nº 2, Narrador
O Homem do Casal nº 1, sabe-se lá com que intuito, se o de não tirar os olhos do decote da Mulher do Casal nº 2 ou apenas o do batoteiro gesto de espreitar o jogo da adversária, passou quase todo o tempo da partida de cabecinha à banda a olhar para o colo da opositora. Esta já deveras irritada intervém.
Personagens: O narrador
O narrador levanta-se, pega na toalha do banho e vai em cuecas para a varanda.
O narrador dirige-se ao bar da sala e pega numa garrafa de whisky. Volta para trás, coloca de novo a garrafa no bar. Ele andava à procura dos óculos.
O narrador procura exaustivamente qualquer coisa no frigorífico. Lembra-se de repente que é na casa de banho que costuma lavar os dentes e guardar a pasta.
O narrador informa o estimado público que estes não são actos falhados, mas pequenos lapsos advindos da PDI.
Cai o pano.
PS. 1. Acto falhado e não Ato falhado porque o narrador ainda não lhe apeteceu começar a aplicar o Acordo ortográfico. Só o fará quando reparar que os nossos irmãos do lado de lá do Atlântico deixaram de escrever lingüiça e escrevem agora, linguiça!
2. PDI é isso mesmo que vocês estão a pensar.
quarta-feira, novembro 19, 2008
1295. Lar de Idosos – Moreanes
Realizou-se no passado Domingo a inauguração do Lar de Idosos, um prolongamento do Centro de Apoio a Idosos de Moreanes, freguesia de Santana de Cambas, concelho de Mértola.
Uma comissão instaladora presidida por José Rodrigues Simão, também Presidente da Direcção do Centro de Idosos e ainda Presidente da Junta de Freguesia, levou a cabo uma interessante, bem concebida e necessária obra neste povo da Moreanes, num investimento que ascendeu aos 600 mil euros.
Na inauguração estiveram presentes as mais altas individualidades políticas e administrativas do Concelho. Dos festejos constou a presença de vários grupos de cantares alentejanos e ainda da Banda de Música dos Bombeiros Voluntários do Alvito. No final houve um almoço volante.
Nas imagens podemos ver o aspecto geral do Lar. No blog de fotos do PreDatado poder-se-ão ver outras fotos da festa.
Parabéns povo da Moreanes!
Fotos de PreDatado
terça-feira, novembro 18, 2008
Estado Líquido
Porque nas ondas te bebo de espuma,
Porque na brisa te bebo de frescura,
Porque ao sol te bebo em cacau,
Porque na terra, de água te fazes sentir,
Porque em suor de mim és taça,
Bebo-te e não me sacio.
Minha eterna sede!
Versos de PreDatado©2008
Foto de Serg Golubev
segunda-feira, novembro 17, 2008
1293. Late Night Sounds
Normalmente quando vou aos fados tomo sempre em consideração alguns aspectos periféricos. Menos importante do que o local onde vou ouvir cantar é o que esse lugar me proporciona – o conforto, o que vou comer, o que vou beber, com quem vou estar. Depois, obviamente, quem vai cantar.
Desta vez a minha escolha não tomou em consideração particular nenhum destes aspectos. Em primeiro lugar ir aos fados praticamente na nossa aldeia, nos confins do Alentejo não é coisa de todos os dias. Em segundo, sabíamos que não iríamos ter uma mesa só para nós (eu e a minha mulher) mas teríamos que a partilhar com desconhecidos. Por fim, da comida conhecíamos o menu e os fadistas eram, para nós, uma autêntica surpresa. Fizemos a marcação e fomos.
A Casa do Guizo fica no Monte do Guizo, assim como quem diz com entrada pela estrada da Moreanes, que é um povo entre Mértola e a Mina de S. Domingos… desisto, vejam no Google Earth. Espaço amplo mas confortável, empregadas simpáticas, serviço eficiente. Entradas com os tradicionais mini pastelinhos de bacalhau e rissóis que não destoavam. Chouriço assado e requeijão de ovelha, daquele leite com que se faz o queijo de Serpa. O jantar, um belíssimo e delicioso creme de coentros e bochechas de porco estufadas, acompanhadas de arroz de ervilhas e cenoura e castanhas no forno. Tudo muito bem apaladado. Na minha mesa o vinho do jarro, que já de si não era de todo recusável, foi gentilmente substituído, pela gerência, por uma Vinha do Monte da Herdade do Peso, tinto, da Vidigueira. Aliás foi a única bebida que bebi durante toda a noite.
Na mesa com mais dois casais, com quem viemos a travar conhecimento, a conversa foi agradável e simpática. Quero dizer que o facto do nosso vinho de jarro ter sido substituído pelo referido se deveu à iniciativa de um destes compagnons de fado.
E por falar em fado, cantaram João Carlos, Joana Baeta (na foto) e João Roque. Este é também o elenco fixo da Tasca do Chico no Bairro Alto. João Carlos é já, digamos, um consagrado das noites do fado castiço, fado vadio, do Bairro Alto. Joana Baeta com 18 deu um ar jovem (não o fosse ela mesmo) ao grupo, uma voz bonita e colocada (que para mim merecia ser aperfeiçoada com algumas aulas de canto). É uma promessa em flor e um potencial talento a não se deixar perder. João Roque, por sinal filho do João Carlos, ganhou a Grande Noite do Fado no Teatro S. Luiz em 2008. Eu não assisti a essa Grande Noite, mas pelo que ouvi ontem, foi merecido e mais não preciso nem posso falar porque é hora de silêncio que se vai cantar o fado.
Foto: PreDatado
domingo, novembro 16, 2008
1292. Por (puro) acaso.
Tive um fim-de-semana espectacular lá no “meu” Alentejo. Além da satisfação de ver chegar, quase em simultâneo com a nossa chegada, uma boa meia dúzia de gatos da vizinhança que, sabendo da nossa presença, estacionam no nosso quintal para, pelo menos durante dois dias, terem repasto extra, foi um fim-de-semana de fados e de cantares alentejanos. Cada coisa na sua vez, escreverei alguns posts sobre esses assuntos acompanhados de fotos dos eventos mas o que aqui me traz hoje é um outro acontecimento. Na dita fadistagem, o fadista principal, chamemos-lhe assim, era também o locutor / apresentador de serviço. Quando anunciou algumas pessoas ilustres que estavam a assistir ao espectáculo, referiu o nome do escritor Luís Maçarico. Alto lá que este nome eu conheço! É nem mais nem menos do que um amigo virtual, agora também pessoal, antropólogo, autor do blog Águas do Sul, actualmente a fazer o Mestrado “Portugal Islâmico e o Mediterrâneo”. Conhecia o seu blog pois faz parte das minhas leituras frequentes e por isso, mas não só dado que o Luís é um excelente interlocutor, foi muito fácil interpelá-lo e estabelecermos diálogo. Depois de uns minutos de agradável conversa, no intervalo de uma bonita sequência de fados, o Luís Maçarico presenteou-me com o seu último livro de poemas, Cadernos de Areia, com dedicatória e autógrafo. Os poemas estão relacionados com as suas diversas viagens à Tunísia, país do qual é um apaixonado. Já saboreei alguns desses poemas e digo-vos que são muito bonitos. Daqui um abraço de novo ao Luís e dêem uma vista de olhos ao seu blog. Vale a pena ler, valeu, absolutamente, a pena tê-lo conhecido.
sexta-feira, novembro 14, 2008
Trilhos
I.
Já se passaram tantos anos e luares, já fui magro e anafei, e alguns brancos já povoaram as nossas cabeças. Já murcharam cravos em espingardas.
Já se passaram tantos governos e tantos chefes, tantos presidentes da América e já morreu Mao. E nem do Muro os escombros restam que em Berlim cobriram tumbas de velhas vítimas.
Já se passaram muitas guerras, do Vietnam ao Iraque, da Palestina a Angola e na Bolívia golpes. Caíram ditadores no Brasil e na Argentina. Já se foi a enterrar Pinochet.
Já se passaram de moda os discos de vinil e também a TV a preto e branco com tons de cinzento. Tudo é apenas história. A mini-saia já passou por aqui. O velho Siera, que só tocava em AM, lembras-te?, jaz em caixa de cartão roída de traças.
Já se passaram os tempos que escutávamos os Beatles, mas o John já morreu. O George também. O Elvis é história em registo e de James Dean nem nos lembramos mais.
Já se passaram dias de angústia pelos massacres em Timor, pelos terramotos na Turquia, pelas mães da praça de Maio, pela chuva sangrenta em Santiago.
Já se passaram horas de júbilo pelo nascimento da Ana e do Pedro, e o primeiro triciclo, e a primeira barbie, e o primeiro dia da primeira escola. E há brilho nos teus olhos.
II.
Já se passaram horas de júbilo,
Já se passaram dias de angústia,
Já se passaram os tempos que escutávamos os Beatles,
Já se passaram de moda os discos de vinil,
Já se passaram muitas guerras,
Já se passaram tantos governos,
Já se passaram tantos anos e tantos luares.
III.
Mas não passará este, por ti, amor ardente.
PreDatado©2008
Foto de Bruno Mercier
quinta-feira, novembro 13, 2008
Imitação de Vinicius
Há alguém que me lê na calada da noite
E de mim não conhece tampouco se existo.
Só as letras existem.
Há alguém que me lê na calada da noite
Os meus versos recita e de mim não conhece
A não ser as letras.
Há alguém que me lê na calada da noite
E compõe breves notas a que junta harmonia
Às letras que existem.
E se alguém que me lê na calada da noite
As letras quiser beber… pode bebê-las
E não me interessa quem.
Versos de PreDatado©2008
quarta-feira, novembro 12, 2008
1289. Quem nunca teve um Hipolito que ponha o dedo no ar
O nosso amigo blogger The Old Man recorda-nos extractos da vida e da coisa pública em 1984, num dos seus já habituais excelentes posts, através da leitura de um jornal de época que embrulhava um velho fogareiro Hipolito.
Quem tem de “cota” a implacável propriedade, isto é, quem já deixou os cinquenta para trás, tal qual este vosso escriba, poderá lembrar-se de 1984 e até de outros anos, mas não poderá esquecer-se dos fogareiros Hipolito.
Claro está que nem todos cozinhavam a gás, mas para aqueles a quem embirrantemente a botija se acabava no Sábado à noite ou antes do almoço de Domingo (qual área de serviço qual quê?) não tinha outro remédio que sacar do providencial Hipolito e da garrafa de petróleo (que ninguém se lembrava ou sabia chamar querosene) colorido a cor-de-rosa e que também se usava nos candeeiros, e atear o álcool (azul) desnaturado até aquecer o espalhador e, pronto, ali estava o velho fogareiro a trabalhar. Agora era só dar à bomba para não deixar morrer a chama. Ah é verdade e se os bicos entupissem usava-se o espevitador. E acho que ainda havia umas chaves de bicos. As coisas de que eu me lembro.
Mas uma das mais, literalmente, brilhantes memórias do Hipolito está também associada à celarine (ou solarine? deve ser solarine para dar a cor do sol, eheheh) Coração, aquele produto rosa leitoso que saía dos frasquinhos verde-dourados com um grande coração vermelho atravessado por uma seta de cupido. Era este produto que deixava o Hipolito a brilhar que nem um espelho e a reflectir o tacho no seu bojo.
Hoje, ao contrário do TOM, não sei onde pára o nosso velho Hipolito. Se estiver embrulhado num, também já finado, Diário de Lisboa ou Diário Popular já deve ter lido as notícias todas. Há muitos anos que não o vejo.
PS. Luxos de hoje em dia. Se fosse agora mandava vir a pequena do gás pluma e quiçá ela própria se ofereceria para aquecer o almoço.
Foto de topo obtida aqui.
Fotos do fogareiro Hipolito neste blog.
terça-feira, novembro 11, 2008
Fuga
Como estavas bem
No regaço de mãe.
E não é que sei
Que te desinquietei?
Não sei se de humor
Ou de outro calor,
A mim te atraíste.
E de lá saíste!
E que linda sais
De casa dos pais.
Disseste “assim seja”
Já dentro da igreja.
E quando me olhaste
Meus olhos beijaste,
Num belo momento.
Era o casamento!
E depois dançantes
Em braços de amantes.
Era um tango, uma valsa
Um bolero, uma salsa.
Num raio fugimos
A turba iludimos,
E pintamos de cor,
Nossa noite de amor.
Versos de PreDatado©2008
Foto de Cristina Riveras